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Olha a boliiiiiiiiiiiinha!!!

Este som para mim é sinónimo de férias, Verão e praia!
Porquê? É muito simples! Bolas de Berlim!
Podemos encontrar Bolas de Berlim por todo o lado, mas nenhuma nos sabe tão bem como na praia! Principalmente ao fim do dia, quando já nos fartamos de nadar e jogar raquettes, estamos cansados, foi um dia longo de suor e aí vem ele.. O senhor da Bola!

(boliiiiinha)

Conhecem a Bola de Berlim?
É um bolo tradicional da culinária… Alemã! Sim, alemã! Então porque é que eu estou a fazer um episódio sobre um bolo alemão num Podcast sobre Cultura Portuguesa?
Porque a Bola de Berlim já se tornou tipicamente portuguesa!

A receita chegou a Portugal durante a Segunda Guerra Mundial, pela mão de refugiados judeus que fugiram para Portugal. Foi um sucesso imediato!

As Bolas de Berlim, ou Berliner no seu nome original, são feitas de massa, têm um formato arredondado e são totalmente fritas.
A Berliner original, é levemente recheada com  doces vermelhos, como framboesa ou morangos. Em Portugal, é claro que o recheio foi alterado para um voluminoso creme de ovos, bem amarelo, que salta de dentro da bola através de um corte lateral.
As bolas são fritas antes de ser introduzido o creme e, no final, polvilhado com grãos de açúcar ou açúcar em pó.

Como eu já disse, podemos encontrá-la em todas as pastelarias, mas é na praia que ela encontra o seu explendor de venda!

Os consumidores estão atentos e quando ouvimos o grito da bolinha, há como um condicionamento de Pavlov que vem ao instinto… E começamos logo a salivar!

São vendidas por homens e mulheres que caminham as praias de Norte a Sul do país, com uma pequena arca frigorífica ou algum recipiente conservante, repleto de Bolas de Berlim. Quando se aproximam a pergunta é, quantas querem?
Normalmente vemos as mais tradicionais, a de creme e a sem recheio, puramente massa frita e polvilhada com açúcar. No entanto, hoje em dia já podemos ver algumas novas receitas de praia. A bolinha recheada com Nutela ou a bola de alfarroba.
Alfarroba perguntam vocês? Se não sabem o que é, eu explico. É um fruto de uma árvore chamada alfarrobeira, é naturalmente doce, dispensando a adição de açúcar. Deste fruto, podem obter-se um pó ou farinha castanha escura, quase negra, que se parece muito ao cacau em pó. A alfarroba é, então, uma grande alternativa ao cacau pela sua aparência e sabor semelhantes.

Voltando às bolas, a Bola de Berlim de alfarroba é um pouco mais escura e tem um sabor menos doce que a outra, e é deliciosa! Dizem que é mais saudável, embora não nos deixemos enganar, é farinha e coisas totalmente fritas…
Encontramos esta bola nas praias do Algarve, onde a alfarroba é uma grande tradição da culinária regional.

Quem resiste a uma bola de Berlim, chegada até nós sem qualquer esforço, sentadinhos na toalha depois de um bom mergulho, a boca cheia de açúcar, os lábios salgados do mar, o doce do creme, hmmm…
São memórias de infância e adolescência, as bolam acompanham gerações na praia!
Já faz parte do ritual da praia para muitos!

O outro lado importante sobre a Bola de Berlim na praia, é a forma como é anunciada. Hoje em dia já há muitos vendedores, então há que ser criativo! Chamamentos, músicas, gingles, apitos… é preciso encontrar um tema diferente e que fique no ouvido, que faça rir o consumidor de preferência, resulta bem… A partir daí começamos a distinguir os vendedoras das bolas. Às vezes até começamos a esperar por aquele vendedor específico, aquele que é mais simpático ou até conversa um pouco, ou aquele de que gostamos mesmo é das bolas!

Fica tudo atento à sua passagem, aí vêm elas! Mas e quando a praia está cheia e o vendedor está mesmo quase ao nosso lado, mesmo assim demora uma eternidade a chegar, porque está a ser chamado por todos os lados!
A técnica de levantar o braço para ser visto também é importante! Há que saber esperar que o vendedor olhe ligeiramente na nossa direcção, para que nos veja rapidamente e venha ter connosco. Ai rica preguiça!
Mas é claro não queremos fazer má figura de braço no ar durante muito tempo, há que encontrar o timing certo. E quando ele não nos vê? Recorremos ao assovio, chamamos, mas por vezes lá temos realmente de nos levantar e ir a correr atrás dele.

Esta história toda pode parecer exagerada, mas nos dias de Verão, praia cheia, isto é uma verdadeira comédia. É verídico e é muito engraçado observar. Todos querem a bola, ninguém se quer levantar. E o vendedor, com os pés a queimar na areia quente, parece que anda sempre a correr! Então, não podemos falhar, temos que estar bem atentos senão, de repente, já passou. E ficamos a ver navios…

Portugal é um dos destinos europeus que atrai mais amantes do surf. Por toda a costa podemos encontrar vários lugares com praias e ondas magníficas, talvez isso vocês ja sabem… Mas, já alguma vez ouviram falar nas ondas gigantes da Nazaré?

Este é um fenómeno impressionante que ocorre por vezes e atrai centenas de pessoas, mesmo que não sejam propriamente entusiastas do surf, pelo impacto e energia que estas ondas apresentam!

A Nazaré é uma vila na costa de Leiria, na região Centro de Portugal.
Ao visitarmos a Nazaré percebemos imediatamente a sua forte ligação ao mar. As suas gentes viviam do mar e da pesca. Antigamente, os homens saiam a pescar e as mulheres esperavam-nos em terra para vender o peixe. Ainda hoje é muito comum ver as mulheres nazarenas vestidas com um traje conhecido pelas sete saias. Sim, sete saias! Embora hoje em dia já não usem sete saias, continuam a usar as saias rodadas até ao joelho, um xaile grosso de lã traçado na frente, as meias grossas de lã até abaixo do joelho e as chinelas.

Mas voltando às ondas…
As ondas gigantes acontecem na Praia Norte. Não são um fenómeno que podemos ver a qualquer dia. Normalmente acontecem no Outono ou Inverno, entre Outubro e Março, pois dependem das grandes tempestades em alto mar que trazem as grandes ondulações.

No entanto, estas tempestades trazem ondulação a vários pontos da costa portuguesa. Afinal, porque é que se formam ondas especialmente tão grandes na Praia Norte?
A resposta é: o canhão da Nazaré. É um dos maiores canhões submarinos da Europa, é um buraco gigante no fundo do mar de 227km de largura e 5000m de profundidade! E este enorme buraco está mesmo em frente à praia Norte.

Em dias especiais, com a combinação perfeita de vários elementos na Natureza, a magia acontece!
A presença do canhão separa a onda em duas, aumenta a velocidade da onda que percorre o canhão e depois junta-las novamente.
Paralelamente, a corrente que vem da praia no sentido oposto, vai-se juntar a esta festa e aumentar ainda mais a onda.
É necessário também haver já um grande tamanho de ondas vindas de alto mar e uma frequência alta entre ondas baixa (para dar tempo a uma grande massa de mar se juntar como onda). O canhão da Nazaré pode amplificar 3x mais o tamanho de uma onda que chegaria normalmente à costa nas mesmas condições.

Esta “montanha” atrai vários surfistas até esta praia, principalmente surfistas de grandes ondas. No entanto, como disse, as ondas gigantes não ocorrem sempre.

Entre Novembro e Março acontece o World Surf League – Big Wave Tour, que não tem uma data marcada, pois aguarda-se que as condições ideias se apresentem.

E a pergunta que devem provavelmente estar a fazer é: mas afinal quando mede essa tal onda gigante?
Bem… A maior onda surfada na Nazaré tem o registo de 26 metros! Sim, ouviram bem, 26 metros, surfada em Outubro de 2020. É a maior onda surfada em todo o mundo!

Surfar estas ondas não é, claro, para qualquer surfista. É necessária uma imensa força mental, respeito, humildade, conhecimento e estudo intenso da onda. E duas coisas muito importantes: ser capaz de suster a respiração de baixo de água por 90 a 240 segundos e ter um companheiro de jet ski extremamente bom! Este último, precisa conhecer perfeitamente bem o lugar e ter estudado o comportamento das ondas, pois é ele que vai conduzir o surfista até ao melhor pico e resgatá-lo depois de surfar a onda ou noutro caso de necessidade. O parceiro de jet ski está igualmente a arriscar a sua vida, não é só o surfista!

Vale a pena visitar a Nazaré, por várias razões claro, é uma à antiga Vila pescatória, com muita beleza.
Mesmo que não seja para ver ondas de 20 metros, pode acontecer ver ondas de 7, 8, 9, 10 metros, o que já é muito, muito impressionante. Principalmente se se estiver junto à praia, ou junto ao farol, um dos pontos preferidos para assistir.
No entanto, há sempre que ter cuidado!

Se tiverem curiosidade, basta estarem atentos às previsões de surf. Existem vários sites ou aplicações onde o podem fazer.

Já alguma vez ouviste esta palavra?
A palavra “Saudade” é a palavra que mais orgulhosamente os portugueses usam. Gabam-se de que esta é a palavra mais portuguesa por excelência, pois não existe uma tradução exacta em mais nenhuma língua. Será verdade?

Então como traduzir “Saudade”?

Saudade é um sentimento de falta, de nostalgia, de recordação. Um olhar sobre o passado. Ou mais do que um olhar, um revisitar o passado, senti-lo e vivê-lo de novo.

A palavra vem do latim “solitas” que significa solidão. Esta foi reproduzida noutras línguas românicas como no castelhano “soledad”, mas nenhuma adquiriu o mesmo sentido que no português.

No caso português, a palavra vem juntar ao estado de estar só ou solitário o estado de apego a ideias, usos e costumes passados. O termo carrega também uma forte carga emocional, podendo ser utilizado para entes falecidos, amigos perdidos, amores antigos ou lugares de felicidade, dos quais temos saudades.

Citando Carolina Michaelis “[Saudade é a] lembrança de se haver gozado em tempos passados, que não voltam mais; a pena de não gozar no presente, ou de só gozar na lembrança; e o desejo e a esperança de no futuro tornar ao estado antigo de felicidade.”

A palavra intraduzivel – será isto um mito?
A teoria ganhou renovada popularidade quando a empresa britânica Today Translations promoveu uma listagem das palavras mais difíceis de traduzir adequadamente, com as opiniões de mil tradutores profissionais, onde “saudade” ganhou o sétimo lugar.

Uma tradução clássica do inglês é “the joy of grief” (a alegria do sofrimento). Também “longing” ou “yearning” mas ambas podem querer exprimir o sentido de desejo que não está implícito em “saudade”.

Encontramos ainda no português a expressão “matar a saudade”, que significa fazer algo para fazer desaparecer esse sentimento. Por exemplo, ao reencontrar algo ou alguém querido que já não víamos há muito tempo ou, na impossibilidade de rever, é também possível matar a saudade ao relembrar, ao ver fotos ou vídeos antigos, ao conversar sobre o assunto, etc.

A saudade pode gerar sentimento de angústia, solidão, nostalgia e tristeza, e quando “matamos a saudade” geralmente sentimos alegria.

Outra expressão usada, embora que já um pouco decaída, é “Mandar saudades”, que significa mandar cumprimentos.

A expressão deste sentimento na língua portuguesa normalmente faz-se com o auxílio do verbo Ter, por exemplo, “Tenho saudades de casa”. Isto exprime mais do que sentir falta do lar, exprime o sentimento de tristeza por se encontrar longe das memórias de felicidade.
Agora, quando ouvires alguém dizer que tem saudades tuas, sabes que essa pessoa, mais do que sentir a tua falta, ela está num momento de nostalgia em que recorda os momentos de felicidade juntos, a força da vossa amizade ou amor e que há uma tristeza que chora dentro dela por se encontrar longe.

O emblemático pastel de nata! Um símbolo tradicionalmente português e provavelmente a iguaria de pastelaria mais conhecida da nossa gastronomia pelo mundo fora. Quase todos a adoram, pois, como não? O seu exterior estaladiço, crocante, que quebra a cada dentada… E o seu interior cremoso de ovo que se desfaz na boca – hmmm -, que maravilha! Um bom amigo do nosso café expresso, curto e amargo, tomado de pé ao balcão do café, para começar bem a manhã ou para terminar o almoço em beleza!

Mas afinal, qual é a razão de esta doçaria se ter destacado tanto de todas as outras? No fundo, em Portugal, a doçaria conventual espalha-se de “lés a lés”!
Ora, em países como a Bélgica e a Alemanha, os antigos frades gostavam de fazer cerveja e tiveram muito sucesso nos seus produtos. Em Portugal, os frades preferiam confeccionar doces, daí a expressão Doçaria Conventual, porque eram feitos nos Conventos. Têm, na sua maioria, uma base importante de açúcar e gemas de ovos que se unem de diferentes formas para dar lugar a diferentes receitas.

A génese do pastel de nata aconteceu no Mosteiro dos Jerónimos, localizado em Lisboa, mais propriamente na zona de Belém.
Segundo “reza a lenda”, a receita deste pastel surgiu durante a revolução liberal numa altura de dificuldade para o clero, com o encerramento de vários mosteiros. Os monges recorreram à venda do mesmo para realizar dinheiro e sobreviver. Esta primeira venda terá sido o evento precursor daquilo que hoje, muitos de nós conhecemos como sendo os pastéis de Belém. A zona de Belém, era e é, desde muito, uma das zonas mais frequentadas em Lisboa por turistas e passantes, quer por ser uma zona monumental, quer pela entrada e saída de barcos, na altura, de vapor. A passagem e a movimentação de pessoas neste lugar pode, muito bem, ter sido uma importante difusora desta receita.
Receita que, hoje patenteada como Pastel de Belém, se traduz em grandes filas de turistas que aguardam pacientemente a sua vez de provar ou comprovar a deliciosa iguaria que, no meu entender, melhorada só quando lhe deitamos um pouco de canela por cima! De resto, nada lhe “chega aos calcanhares”.

A receita exacta do pastel de Belém continua no segredo dos deuses até aos dias de hoje. A receita do pastel de nata é uma reprodução do original pastel de Belém, que podemos, felizmente, encontrar em cada canto do país, para nossa grande felicidade, de Norte a Sul!

OK! Neste episódio eu quero dar-vos a conhecer algumas expressões da língua portuguesa, que utilizamos aqui em Portugal.
Como sabemos, as expressões ou o calão normalmente não se traduzem literalmente para outras línguas e são difíceis de aprender, pois muitas vezes parecem não fazer sentido.
Então, vamos olhar para algumas destas expressões e tentar perceber o seu sentido.

Começando pelos básicos e os mais usados:

Fixe – Fixe é aquela básica expressão que significa nice, cool… Significa aprovação de algo, ou que se gosta de alguma coisa. Por exemplo “Está fixe” quer dizer que algo ou alguém está bem, ou bom. Assim como também se pode perguntar a um amigo “Então, estás fixe? Sim, estou fixe!”.
Claro que existem várias outras palavras que expressam exactamente o mesmo, como por exemplo: porreiro, altamente ou brutal. São termos utilizados num contexto mais jovial e informal, ou entre amigos.

Boa onda – Dizer que alguém é boa onda significa que essa pessoa é simpática, calma, tem uma boa presença, que é fácil de lidar com ela e que tem boas intenções em relação aos outros (Good vibe)

Boas! – Esta palavra é cada vez mais utilizada para cumprimentar alguém quando chegamos a um novo lugar, simplificando o bom dia ou boa tarde. É uma forma simpática de desejar os bons dias e dizer “olá” ao mesmo tempo.

Bué – A palavra “bué” é de tal forma utilizada e presente no dia a dia dos portugueses que está presente no dicionário de Língua Portuguesa. “Bué” significa “muito” e era antes utilizada principalmente pelos jovens mas hoje em dia popularizou-se e podemos ouvir pessoas mais velhas dizê-lo também: “Está bué calor”, “Estou bué contente”, ou uma bastante comum “Bué fixe”, quando gostamos muito de alguma coisa ou de alguém.

‘Bora! – Esta expressão motivacional, que convida à acção, ao movimento, ao avançar, ao iniciar algo. É basicamente o diminutivo da frase “Vamos embora!” que também pode ser utilizada na íntegra.
Tanto uma como a outra, quando ditas num tom de ordem, significam literalmente a ordem de ir-se embora, ou seja de voltar ao ponto de partida. Assim, “bora” ou “vamos embora” pode significar apenas “vamos para casa” ou “vamos voltar”.
Mas quando é dito num tom mais animado, tipo “Vá, bora” ganha uma expressão mais energética que pode ser utilizada quando queremos motivar alguém que está por exemplo a realizar um desporto, a correr, a competir; que está na eminência de marcar um golo ou de apanhar uma onda… Convida a pessoa a colocar ainda mais energia naquilo que está a fazer.

Às 3 pancadas – Significa fazer algo sem grande planeamento prévio, sem organização, sem método nem objectivo, de forma rápida e provavelmente com resultados pobres. Por exemplo, alguém diz que fez algo que não resultou e eu respondo algo como “Claro, fizeste tudo às 3 pancadas”.

Nem oito nem oitenta – Quando dizemos isto queremos exprimir que é necessário tentar ser equilibrado em vez de escolher extremos. Se imaginarmos uma escala, não queremos que o pêndulo esteja nem muito à esquerda nem muito à direita. Então, quando dizemos “nem oito nem oitenta” queremos na verdade dizer que nem demasiado para um lado, nem demasiado pra o outro. Também podemos dizer sobre alguém “Contigo é sempre oito ou oitenta”, querendo dizer que essa pessoa tem dificuldades em se equilibrar, ou faz de menos ou faz de mais; ou quer de menos, ou quer demais; ou lhe acontece tudo de bom ou tudo de mal.

Nada a ver – Extremamente utilizada e simplesmente significa que uma coisa não tem qualquer relação com a outra. Por exemplo, alguém diz que a pessoa A é parecida com a B, ao que eu responde “Ui, nada a ver”, ou seja, dando a opinião contrária, dizendo que não se parecem.
Em muitas outras situações se pode aplicar, dando a entender que não há qualquer ligação entre duas situações comparadas.

Põe-te a pau! – Quando eu digo a alguém para “pôr-se a pau” estou a recomendar-lhe que se previna para algo. Por exemplo, “Põe-te a pau que vai chover”, “põe-te a pau que vais perder o autocarro”, “põe-te a pau, se não és enganado”. É uma recomendação para abrir os olhos, prestar atenção, projeger-se ou tomar alguma medida para que algo não corra mal.

Vai dar banho ao cão – Esta frase, quando dita em tom de brincadeira, convida o outro a  parar o assunto sobre o qual está a falar, pois está a causar incómodo ou porque está a dizer algo que não é verdade.

Estar lixado – Esta será talvez uma das expressões mais utilizadas no nosso quotidiano, no entanto é bom não utilizá-la em situações muito formais. Lixar é na realidade um verbo que significa também polir, por exemplo, polir os cantos da mesa, ou lixar os cantos da mesa.
Esta expressão pode ter vários sentidos ou ser utilizada para situações diferentes, mas na verdade sempre indica que algo não está OK. Vamos ver as várias possibilidades que esta expressão nos dá:
– “Eu fico lixada quando gritam comigo” – Quero dizer que fico irritada, chateada, bera, danada quando gritam comigo.
– “A bateria já está toda lixada” – Quer dizer que a bateria já não funciona, está danificada, estragada ou está em muito mau estado.
– “Estou lixada” – Quando associada a um tom ou expressão de desespero ou de preocupação, estar lixado pode significar que se está atrapalhado ou em dificuldades.
– “O João é lixado!” – Quer dizer que o João tem mau feitio.
– “Esta dieta é lixada” – Quer dizer que esta dieta é muito difícil ou complicada.
Pronto, assim vemos que muitas coisas podem ser lixadas para os portugueses!

E para terminar, aqui fica uma última expressão popular:

Tirar o cavalinho da chuva! – Esta expressão soa-me sempre muito engraçada, é divertida e ao mesmo tempo amorosa. Quando dizemos a alguém que pode tirar o cavalinho da chuva, estamos a dizer-lhe que pode perder as esperanças que está a criar em relação a algo, porque aquilo que espera não vai acontecer. É um convite para desistir e abandonar ilusões.

Pronto, ficam aqui alguns exemplos de expressões usadas no nosso dia a dia, embora a maioria delas já ninguém saiba nem perceba a sua origem. No entanto, como já as ouvimos desde crianças, acabamos por entender o seu significado e como colocá-las no contexto e a verdade é que, muitas vezes, uma expressão explica tudo aquilo que queremos dizer em breves palavras!

O Fado…
Como descrever o fado?

Eu convido a todos a escutar um triste e velho fado na voz de Amália e perceber porque é que me faltam as palavras.
O Fado é a tradução do choro português que se lastima, na sua imensa melancolia. Lastima as madrugadas junto ao rio, onde os homens saem à pesca com os primeiros raios de luz.
Lastima os entardeceres dourados e fastigados nas cearas de trigo, onde mulheres cantam versos entre ceifadas.
Lastima as noites embriagadas de aguardente e contrabando.

É a tristeza de uma mãe que vê o seu filho entrar num barco a vapor para talvez já não regressar a esta costa por Deus recortada. É o drama de um amor proibido pela moralidade e pelo Sagrado.

É a fome de uma família que se senta à mesa para partilhar uma sardinha e um bolo de milho cozido no forno de lenha.

Mas o Fado não é só tristeza. Fado é o ritmo do vento que corre entre os campos de arroz e das ondas que rebentam contra as falésias.

É a voz das raparigas que recortam vestidos de noivas de revistas e que sonham no dia de Santo António desfilar as ruas de Lisboa.

É a água fria que corre na ribeira onde as mulheres lavam as roupas dos maridos e dos filhos, enquanto unem as vozes num canto agudo e folclórico.

Fado são as noites de arraial e as tavernas escuras onde se debate esquerda ou direita.

Fado é uma essência Lusitânia que invoca a melancolia e a beleza do passado, presente e futuro.

Citando Fernando Pessoa, o grande poeta e escritor português “O fado, não é alegre nem triste. É um episódio de intervalo. Formou-o a alma portuguesa quando não existia e desejava tudo sem ter força para o desejar. O fado é o cansaço da alma forte, o olhar de desprezo de Portugal ao Deus em que creu e também o abandonou.”.

O Fado é nosso. E a guitarra portuguesa também!

A guitarra portuguesa tem 12 cordas de metal agrupadas em 6 pares, uma caixa de ressonância redonda e um braço curto. Ela acompanha os vários fados criando uma base perfeita que acompanha a voz do fadista e nos deixa, por vezes a bater o pé, por vezes a lágrima no olho.

Então, silêncio! Que se vai cantar o fado.

O arquipélago dos Açores é um conjunto de ilhas situadas no Oceano Atlântico, entre a Europa e a América do Norte, que fazem parte do território português. Mais precisamente, 9 ilhas.

Deste grupo de ilhas, aquela que é a mais distante de Portugal Continental, é a chamada Ilha das Flores, aquela sobre a qual eu quero falar hoje.
É uma das ilhas mais pequenas deste arquipélago e, como eu disse, é o ponto mais a oeste da Europa.

Os Açores são, na sua generalidade, absolutamente maravilhosos! Pessoalmente, eu acho a Ilha das Flores lindíssima!
É uma ilha rural, onde se vive ainda lentamente, devagar….
Toda ela é verde, a Natureza transborda! O seu nome é justo, pois há flores por toda a ilha, assim como árvores e muitos frutos diferentes.

E que mais belezas existem nesta ilha?
Os amantes da Natureza, podem deliciar-se com as suas várias cascatas, lagoas e piscinas naturais. Há imensas ravinas por toda a ilha e, de muitas delas, caem de muito alto cascatas incríveis, que se seguem umas às outras. Algumas destas cascatas juntam-se para formar lagoas magníficas, outras delas caem directamente no mar. É incrível! É muito intenso ver esta água cair do alto, continuamente.

Para quem gosta de caminhar, é possível perder-se nos trilhos que cruzam ou dão a volta à ilha. Estes trilhos vão levar-vos pela Natureza, entre campos, vacas, ovelhas e aldeias que se perderam no tempo. As pessoas que vão encontrar são extremamente amigáveis, amáveis e gostam de conversar.
Eu tive realmente a impressão de que as pessoas viviam felizes, no seu pequeno mundo, onde não temem, confiam. Tive a impressão de ver um Portugal antigo, antes da industrialização e da recente gentrificação. Aquele Portugal que vivia lentamente, no campo, que entendia sobre a terra e sobre o mar.

A Ilha das Flores é remota, está afastada das ilhas mais desenvolvidas dos Açores, onde existem grandes hospitais e universidades.
Na Ilha das Flores existe apenas um Centro de Saúde. Os doentes mais graves têm de ser levados de helicóptero para as outras ilhas. As grávidas, por exemplo, nos últimos meses de gravidez, mudam-se para outras ilhas.
A ruralidade é realmente a beleza deste lugar. E quero destacar que ruralidade não é igual a pobreza.

A toda a volta vemos o mar, de um azul forte, a bater contra as “paredes da ilha”. Digo paredes porque existem grandes ravinas que descem em direcção ao mar. Apesar de uma grande costa, existem poucas praias às quais conseguimos aceder. Muitas delas ficam no fundo de ravinas.

A praia da Fajã de Lopo Vaz, por exemplo, tem uma longa escadaria até chegar à praia. É de perder o fôlego! Chegando à praia, encontramos um areal negro com muitas rochas. Aliás, como a maioria das praias, está cheia de pedras.

Mas este não é certamente o trilho mais difícil da ilha, há muitos outros onde podemos subir e descer ravinas e montanhas.

A água é morna, ao contrário da água do continente, que é muito mais fria. Nadar é uma delícia, mas temos de ter cuidado com as Caravelas Portuguesas.

As Caravelas Portuguesas são organismos muito curiosos. Na verdade este animal é composto por vários organismos diferentes, formando uma colónia e, aparentemente, um único animal. Tem uma forma e cores também muito curiosa. São transparentes, e a sua membrana externa reflecte cores parecidas a uma bola de sabão, um arco íris onde sobressaem o roxo, o verde e o azul.
Têm longos tentáculos, que na verdade são perigosos. Não queremos estar a nadar descontraidamente no mar e ser tocados por um deste tentáculos, pois eles podem causar queimaduras horríveis!

A Caravela Portuguesa não se move, apenas flutua sobre as águas e é arrastada pelas marés e pelo vento, por isso na verdade podemos vê-la aproximar-se lentamente. Mas temos de ter muito cuidado com os seus tentáculos que estão escondidos debaixo de água e podem ter até 50 metros!

Na Ilha das Flores existem vários miradouros magníficos, onde podemos ver o azul imenso do oceano que nos rodeia.
Sentimos que a ilha é pequena e realmente é. De carro, é muito fácil cruzar a ilha de um lado ao outro. A parte mais assustadora, são as estradas íngremes, curvas contra curvas, e as ravinas logo ao lado! É muito importante conduzir com cuidado. Não é raro encontrar algumas vacas a atravessar a estrada. Também o tempo muda muito rápido aqui. Junto ao mar, nas partes baixas da ilha pode estar muito sol mas, ao subirmos as serras, podemos entrar dentro de uma nuvem de nevoeiro, frio e chuva, em poucos minutos.
Mais uma vez digo, é incrível e intenso!

Obviamente, num lugar onde a Natureza é tão forte, podemos encontrar uma rica gastronomia, deste a carne ao peixe, às frutas e legumes.
Se por aqui passarem eu aconselho a não deixarem de provar os productos lácteos. Já perceberam que as vacas são muitas e os pastos açorianos são conhecidos por serem de grande qualidade. Vacas felizes, bom leite, bom queijo, boa manteiga!
Espero que possam um dia deliciar-se nestas paisagens remotas e que se deixem invadir pelo sossego e calma das Flores.

O bacalhau quer alho é uma frase inesquecível para os portugueses, é título da inconfundível canção de Quim Barreiros, um artista de música popular brejeira, conhecido pelo humor de duplo sentido nas suas canções. Para quem ainda não chegou lá, o bacalhau quer alho soa muito parecido a o bacalhau car*#?!o… (peeep)

O bacalhau é quase marca registada da gastronomia portuguesa. Sempre dizemos que há 365 formas diferentes de cozinhar o bacalhau, uma para cada dia do ano. Excepto nos anos bissextos…

Mas de onde vem, afinal, esta obsessão pelo bacalhau se este peixe nem sequer vem da nossa costa!?

Os pioneiros na pesca do bacalhau foram, os vikings que, na falta do sal, deixavam o peixe a secar ao ar livre.
Os primeiros indícios relacionados com a pesca e a salga do bacalhau em Portugal, remontam ao século XIV. Foi na época dos Descobrimentos, que os portugueses viram o bacalhau como o peixe ideal, que resistia às longas travessias marítimas.
A seca e salga, a cura tradicional portuguesa, isenta de substâncias químicas, preservava as propriedades nutricionais do peixe.

Assim, surgiu o rótulo “bacalhau da Noruega”, que ainda tantas vezes se repete em anúncios de televisão. Até hoje, quando ouvimos que o bacalhau vem da Noruega associamos a uma boa qualidade.

Apesar de tudo, durante séculos, o bacalhau não era sequer visto como um alimento de primeira categoria. Apenas em 1790, o seu consumo se espalhou pela cidade de Lisboa, integrando-se nos hábitos alimentares das classes média e alta.
Assim, o peixe passou a ser consumido por aristocratas, médicos, estrangeiros e ricos que habitavam as zonas do Bairro Alto, do Príncipe Real e da Estrela.

Mais recentemente, nas décadas de 1950 e 1960, aconteceu o pico da captura de bacalhau pelas frotas portuguesas. No entanto, esta captura era uma verdadeira expedição. As viagens duravam em torno de seis meses e o regresso era sempre feito com menos homens, do que aqueles que haviam partido.
As condições de trabalho eram perigosas. O nevoeiro e os icebergues eram os principais obstáculos aos bacalhoeiros, seguidos dos fortes ventos e ondulações.

Apesar de Portugal ter uma costa tão grande, rica em sardinha, carapau e cavala, o bacalhau surge como mais produtivo, fácil de conservar e rico em nutrientes. Ainda hoje, os livros de cozinha e as receitas passam de geração em geração, construindo a identidade da culinária portuguesa.

Posto isto, o que vos quero trazer aqui são as minhas receitas de bacalhau preferidas.
Se ainda não as conhecem, então espero que sejam amantes do bacalhau e que se deixem levar pela curiosidade e experimentem lançar-se numa aventura na cozinha.

A primeira… Simples, modesta e, para mim, a melhor. Aqui vai a minha receita de…

Bacalhau com Broa:

O primeiro passo para qualquer receita feita a partir do bacalhau seco e salgado é demolhar o bacalhau. Este processo pode levar cerca de 2 dias e consiste em colocar o bacalhau dentro de um recipiente com água fresca, para lhe retirar o sal. A água deve ser mudada 1 a 2x ao dia e ser privada até o bacalhau não estar salgado demais.

Então, demolha-se o bacalhau.
Cortam-se batatas em pequenos pedaços ou em rodelas e colocam-se a cozer. Não precisam de ficar totalmente cozidas, pois ainda vão ao forno. O cozer previamente ajuda a que seja mais rápido e a que o bacalhau não fique demasiado tempo no forno e, consequentemente, demasiado seco.

Enquanto esperamos as batatas cozer, preparamos o nosso topping de broa de milho!
Para isso precisamos de farelar a broa, ou seja, desfazê-la em pedacinhos pequeninos. Normalmente as receitas dizem para utilizar apenas o interior, ou o miolo, na broa. Pessoalmente, eu gosto bastante de colocar a casca também, porque é mais crocante e depois de ir ao forno fica super estaladiça! Corto-a em pedacinhos muitos pequeninos e junto.

Colocamos então toda a broa desfeita num recipiente que regamos com bastante azeite, alho picado muito fininho e, se quisermos podemos juntar por exemplo espinafres.
Juntamos tudo isto é fazemos uma papa. O melhor é utilizar mesmo as mãos para amassar tudo muito bem e reserva-se.

Depois, prepara-se um recipiente próprio para ir ao forno. Aí, colocamos azeite e a cebola cortada em rodelas que vai servir de cama ao bacalhau e dar muito bom sabor. A quantidade é conforme o gosto, eu ponho sempre bastante cebola!

Nesse recipiente onde está a cama de cebola,   colocam-se por cima as postas de bacalhau.
Depois de mais ou menos cozidas, colocam-se também as batatas, em torno do bacalhau.
No final, por cima do bacalhau e das batatas, coloca-se a pasta de broa, azeite e alho.

Nunca colocamos sal, pois o bacalhau ainda estará algo salgado!

E vai ao forno! Essa caixinha mágica que vai misturar todos estes sabores e aquecer o azeite e tornar tudo maravilhoso!
Resumindo: bacalhau, batatas cozidas e pasta de broa. Forno e…voilá!

A segunda receita é… Bacalhau à Gomes de Sá:

Para esta receita, primeiramente, cozemos o bacalhau e as batatas cortadas em cubos ao mesmo tempo. Nesta fase também podemos já cozer em conjunto os ovos, no entanto os ovos como cozem mais rápido do que o bacalhau e as batatas, devem ser retirados da água quente algum tempo antes.

Depois de cozido, escorre-se a água e retirar-se o bacalhau da panela.
Nesta fase vamos desfiar o bacalhau. Como a forma mais fácil é utilizando as mãos, é melhor aguardar alguns minutos, o tempo de o bacalhau arrefecer, para não nos queimarmos!
Desfazemos, então, o bacalhau em tiras e ao mesmo tempo retiramos todas as espinhas.

Num tacho ou frigideira grande, colocamos azeite, cebola e alho. E também se pode colocar outras especiarias a gosto, como pimenta preta ou louro por exemplo…
Fervemos um pouco o azeite e depois vamos juntar o bacalhau desfiado e as batatas e mexer tudo para juntar os sabores.

No final, embelezamos a coisa! Juntamos azeitonas pretas, os ovos cozidos cortados em rodelas, salsa picada e um fio de azeite.
E já está!

E pronto, aqui ficam as minhas sugestões, basta escolherem.
Bom apetite!

Quim Barreiros, ou Joaquim de Magalhães Fernandes Barreiros, é um músico e compositor de música popular brejeira portuguesa.

Nsceu a 19 de Junho de 1947, tem à data de hoje, 75 anos…o que não parece nada! Quando o vemos ou ouvimos, exala tanta energia e boa disposição, que acho que até as rugas não lhe resistem.

Com certeza, há muitos portugueses que não apreciam a sua música, claro, no entanto eu aposto que todos os portugueses conhecem pelo menos uma outra e sabem cantar o seu refrão. E até num momento mais festivo, mesmo aqueles que não gostam, são capazes de cantar uns versos.
Pois ele é sem sombra de dúvidas o rei da música brejeira!

Então o que é isto de música brejeira, perguntam vocês?
Bem, primeiro vejamos sinónimos de brejeiro no dicionário: garoto, gaiato, malicioso, libertino, obsceno, brincalhão, vadio…
A música brejeira é um estilo musical popular, em que as letras das canções estão cheias de trocadilhos de cariz normalmente sexual. Ou seja, aquelas palavras de duplo sentido, que querem dizer uma coisa mas que facilmente podem ser interpretadas maliciosamente e parecem outra, principalmente se ditas da forma correcta.

O Quim ganhou fama desde os anos 80 e é hoje um dos músicos mais bem sucedidos em termos de popularidade junto do público português e a face mais conhecida da música ligeira portuguesa, vulgarmente conhecida como “música pimba”. Desde sempre mantém o seu grande bigode negro, normalmente de chapéu e roupa de estilo rural e acompanhado no seu acordeão.

Nascido em Vila Praia de Âncora, Viana do Castelo, a sua música é fortemente influenciada pelas tradição da região do Minho, e também de um estilo musical brasileiro, chamado forró.

Se apenas nos focarmos na sua música e se, principalmente, não gostamos dela, podemos não ter grande interesse por esta personagem. No entanto, eu considero que o Quim Barreiros tem uma história algo interessante que vai além dos gostos musicais. Afinal, ele parece-me uma pessoa extremamente feliz a fazer algo no qual é bastante bem sucedido. Não é essa a definição de verdadeiro sucesso?!

Então, contando um pouco da sua história…
Contextualizando, ele nasceu em plena ditatura portuguesa numa região religiosamente rural! Durante a sua adolescência viajou por todo o país acompanhado do seu acordeão, tocando em ranchos folclóricos. O acordeão era já uma herança do seu pai, que também tocava num grupo chamado “Conjunto Alegria”.

Mas não foi com ele que aprendeu. Quim Barreiros diz que “o pai ensinava à maneira antiga, à lambada” e então foi estudar os princípios do acordeão, com apenas oito anos, junto do sargento-músico, o Sr. Lomba, que ocupava os dias da reforma a ensinar os mais novos. E, curiosamente, não foi acordeão, mas sim bateria, o primeiro instrumento que tocou em público, quase por um acaso.
O baterista que tocava com o pai dele no Conjunto Alegria adoeceu e ele pediu podia substituí-lo. O Conjunto Alegria era muito conhecido na altura, no Alto Minho. Quim acabou a tocar bateria, nas festas do Carnaval, que duravam imensas horas e entravam pela noite dentro. Conta que, às vezes, chegava a adormecer atrás da bateria e, então, lá iam o saxofonista ou o trompetista tocar-lhe aos ouvidos para ele acordar e voltar a tocar!

Quim Barreiros acabou a quarta classe mas, depois, ficou alguns anos sem estudar. Seguiu também outras pisadas do pai e começou a ajudá-lo numa oficina de bicicletas que tinha em Vila Praia de Âncora. Esse trabalho deu-lhe conhecimentos de mecânica e um jeito para as máquinas que o ajudaria, mais tarde, quando começou a estudar electromecânica.

Paralelamente ao Conjunto Alegria, Quim tocava em outros dois grupos folclóricos que viajavam por vários países da Europa.

Com 20 anos ingressou na Força Aérea e fixou-se em Lisboa. Prontamente, ingressou a banda da Força Aérea e começou a frequentar as várias casas de fado da capital, onde começou a inscrever o seu nome em dezenas e dezenas de gravações e onde teria a chance de se cruzar com Amália Rodrigues, a maior diva do Fado.

Ingressou nesta banda da Força Aérea tocando outros instrumentos como saxofone, clarinete e depois bateria. Adaptou-se rapidamente a um novo reportório, feito de marchas militares e de peças de música clássica. A sua permanência na Banda da Força Aérea permitiu-lhe também não ter que ir para a guerra na ex-colónias portuguesas, pois quem fazia parte da Banda ficava em Portugal porque era a sua função tocar em ocasiões especiais, como grandes recepções aos chefes de estado que visitavam o país ou em feriados e datas importantes.

À noite, tocava nas várias casas de Fado lisboetas.
Vou passar a citar o Quim nesta história:
“Fui ao Solar do Minho, em Alfama, num sábado à noite. A casa estava cheia e nós a beber a nossa sangria numa mesinha. Resolvi pedir au dono para me deixar tocar concertina. Saltei para o palco e toquei uma coisa qualquer do folclore. Quando acabei deixei aquela gente toda em pé de guerra. Sabes como é o fado, tudo muito caladinho. Agora imagina o que é um tipo da borga com uma concertina, um contraste dos diabos. No final, veio falar comigo e perguntou-me quem eu era. ‘Você trabalha todos os dias? Não quer vir cá todas as noites?’. “Isso é o meu sonho”, disse-lhe eu. E no dia seguinte estava lá. O homem disse-me: “Não lhe podemos pagar muito, cem escudos por noite, ok?”. Eu fiquei calado, pensei que ele estava a gozar. Na Força Aérea, como soldado músico, ganhava 75 escudos por mês”.

Na primeira metade dos anos 70, Quim Barreiros tocava de tudo, de todas as regiões do país e fartou-se de gravar discos.
Já na segunda metade da década, foi desenvolvendo o seu gosto e jeito para a escrita de muitos temas próprios em que um certo teor brejeiro, picante, de letras com duplo-sentido já se faziam sentir. Para vocês, estrangeiros, pode ser difícil de entender este humor, mas aqui ficam alguns exemplos dos nomes desses primeiros temas: “Franguito da Maria”, “Tira Fora que Vem Gente”, “Vais Ter Um de Cada Lado”, “A Fechadura da Rita” ou “Queres É Levar com o Chouriço”.

Cheio de canções populares e composições próprias, Quim Barreiros começa, a partir de 1976, uma nova aventura e sai à conquista do circuito de festas dos emigrantes portugueses nos Estados Unidos e Canadá, primeiro, e no Brasil e na Europa, depois.

Embora muitas vezes desprezado pela crítica musical e malvisto por algumas elites culturais, Quim Barreiros é o artista favorito de muitas associações Académicas e tem presença marcada, ano após ano, em várias das Queima das Fitas do país, para repetir temas eternos como “A Garagem da Vizinha”, “Cabritinha” e “Bacalhau à Portuguesa”. Tem uma carreira de sucessos imparáveis, que fazem dele ainda hoje uma presença mega requisitada em inúmeros locais do país e do estrangeiro.

Na língua portuguesa encontramos muitas expressões que não conseguimos traduzir literalmente, pois o seu sentido prende-se com factos ou acontecimentos históricos ou culturais antigos. Por isso, muitas vezes, hoje em dia temos dificuldade em perceber como ou porquê surgiu tal expressão.

Entre centenas de expressões, encontramos várias que envolvem ou se referem a comida, mas que na verdade não têm nada a ver! Hoje, vamos ver alguns exemplos engraçados. Aqui vão eles:

Ficar em águas de bacalhau – O bacalhau, aquele peixe que tradicionalmente tanto cozinhamos em Portugal, na verdade não existe na costa portuguesa. Vem, por exemplo, da Noruega e chega até nós conservado em sal, por isso é que no supermercado encontramos o bacalhau totalmente salgado. Após comprar o bacalhau, temos de o colocar durante várias horas na água, pelo menos um dia inteiro, ou até mais. Assim, o bacalhau fica em espera para ser cozinhado e finalmente comido.
A expressão “ficar em águas de bacalhau” significa que alguma coisa ficou em espera, ou sem efeito. Por exemplo, quando estamos à espera de alguém com quem combinamos jantar e essa pessoa, à última da hora liga para adiar o jantar para outra altura. Nós que estávamos à espera, ficamos em águas de bacalhau, a saída ficou sem efeito, foi anulada.

Puxar a brasa à sardinha  – Quando dizemos que alguém puxou a brasa à sua sardinha queremos dizer que essa pessoa fez algo para se beneficiar a si própria, fez algo pelos seus interesses, para tirar vantagem. Também posso usar esta expressão de uma forma mais amigável, quando por exemplo durante uma conversa entre amigos eu aproveito para  fazer a promoção ou divulgação de algo que estou a vender e digo “Agora vou puxar a brasa à minha sardinha” e falo sobre o assunto que pode beneficiar os meus interesses.
Muitas vezes também dizemos que “Cada um puxa a brasa à sua sardinha” quando queremos dizer que cada um trata dos seus interesses.

O pão, muito popular, parece estar envolvido numa série de expressões! Ora vamos aqui ver algumas:

Comer o pão que o diabo amassou – Significa nada mais nada menos que passar por grandes diculdades, adversidades ou sofrimento.

Pãozinho sem sal – É quando nos referimos a alguma coisa ou muitas vezes a alguém que achamos banal, ordinário, sem interesse.

Pão, pão, queijo, queijo – Esta expressão é tão rápida e simples e significa que alguma coisa é precisamente aquilo que é e não há espaço para dúvidas. Por exemplo se dizemos “Com o Tiago é pão pão, queijo queijo” queremos dizer que o Tiago é claro e directo com as suas opiniões, não há espaço para áreas cinzentas, nem o Tiago se mistura nem as coisas se misturam. Aquilo que é, é!

Mas ainda há mais… Por exemplo:
Passar as passas do Algarve – Semelhante à expressão que vimos anteriormente, aquela do pão que o diabo amassou, esta também significa passar por um grande sofrimento ou dificuldade, uma situação complicada ou até ser vítima de violência.

Estar feito ao bife – Estar feito ao bife é estar em apuros, em dificuldades, estar numa situação difícil da qual não conseguimos sair ou não encontramos solução. Não implica propriamente sofrimento, como a expressão anterior. Por exemplo, se estou a conduzir para o trabalho e de repente fico presa no trânsito, eu posso dizer “Já estou feita ao bife, vou chegar atrasada ao trabalho”.

Carapau de corrida – Um carapau de corrida é alguém que se acha muito bom, muito esperto, que acha que é o melhor.

Como sardinhas em lata – Esta é muito fácil de entender. Dizemos que parecemos sardinhas em lata quando há demasiadas pessoas num espaço apertado. Por exemplo, quando o autocarro ou o metro está cheio, as pessoas estão coladas umas às outras, com falta de espaço, parecem sardinhas enlatadas.

Não é pêra doce – Muito resumidamente significa que não é fácil. Por exemplo, “Gostei muito de fazer este trabalho, mas não foi pêra doce” ou “O José não é pêra doce”, querendo dizer que o José é uma pessoa difícil de lidar.

Filho de peixe saber nadar – Esta expressão serve para evidenciar as boas qualidades que os filhos herdaram dos pais. Por exemplo, se digo a alguém “Olha o teu filho cozinha muito bem”, o pai do mesmo pode vangloriar-se dizendo “Filho de peixe sabe nadar!”, querendo dizer que o dom da culinária foi herdado.

Deus dá nozes a quem não tem dentes – Este é um verdadeiro provérbio! Significa que alguém recebeu uma oportunidade na vida a qual não tem ou não teve capacidade de valorizar ou aproveitar. Por exemplo, alguém que ganha a lotaria e que desperdiça todo o dinheiro de forma fútil ou pouco proveitosa, não mereceu ter ganho esse dinheiro. Tal como alguém sem dentes tão pouco consegue comer as nozes que lhe foram oferecidas.

Bem, para terminar, eu acho que este episódio foi “de comer e chorar por mais” que, para quem ainda não conhece esta expressão, significa que algo foi fantástico ou realmente muito bom! 🙂

Conhecida como a Revolução dos Cravos, a Revolução de Abril ou simplesmente como O 25 de Abril.
É um dos pontos mais importantes da história portuguesa recente, pelo qual a maioria dos portugueses sente um grande  orgulho e admiração.
Muitos consideram que esta forma de revolucionar demonstra o verdadeiro carácter do povo português, um povo pacífico e corajoso que mesmo num momento tão difícil conseguiu mudar o destino do país.

Esta foi uma revolução pacífica que aconteceu no dia 25 de Abril de 1974, contra a ditatura de Salazar. A ditadura em Portugal começou em 1926, após um golpe militar e a partir de 1932, Salazar assumiu a posição de primeiro-ministro das finanças e ditador.

Salazar, inspirado no regime fascista italiano, suprimiu as liberdades de reunião, de organização e de expressão na Constituição de 1933, quando foi criado o Estado Novo.
O Estado Novo centrava-se na figura central de Salazar, como chefe supremo do país. Ele chefiou até 1968, quando sofreu um Acidente Vascular Cerebral e foi afastado. O seu sucessor, Marcelo Caetano, que chefiou entre 1968 até 1974, continuou o trabalho de Salazar, governando nos mesmos moldes.

Além da supressão dos direitos de expressão, vários outros direitos sociais estiveram suprimidos durante 41 anos seguidos. Era obrigatória a devoção militar, a devoção à pátria e a devoção religiosa. Havia uma grande desigualdade entre classes, entre homens e mulheres e a homossexualidade era proibida.
Foi a ditadura mais prolongada da Europa e influenciou Portugal até aos dias de hoje.

Salazar tinha o poder absoluto, embora nenhuma lei proibisse expressamente a existência de outros partidos políticos. Mas, na prática, sim, a oposição ao regime antidemocrático de Salazar era proibida, sob pena de perseguição, exílio, prisão ou morte.
No entanto, existiam alguns movimentos comunistas, socialistas ou anárquicos, que actuavam de forma clandestina, em segredo.

Durante anos a liberdade foi censurada e o povo foi perseguido. Portugal entrou numa grande decadência. A par do que se passava em Portugal Continental, decorria a Guerra Colonial nas ex-colónias portuguesas Angola, Guiné-Bissau e Moçambique. O regime não reconhecia a existência de um conflito armado, no entanto seguiram-se anos de guerra, com grande impacto financeiro em Portugal. Além da pobreza que aumentava, aumentava o descontentamento e a revolta do povo e de muitos militares que eram obrigados a participar numa guerra que já não queriam nem apoiavam.

Desde a década de 60, Portugal encontrava-se cada vez mais isolado, afastado do crescente desenvolvimento dos outros países europeus. O regime começava a encontrar vários problemas, já não se desenvolvia, os opositores aumentavam.

Por volta de 1973, surgiu um movimento secreto das Forças Armadas, ou FMA, grande parte composto por militares que tinham participado na Guerra Colonial.
A primeira reunião clandestina aconteceu na Guiné-Bissau a 21 de Agosto de 1973.
A 5 de Março de 1974 foi aprovado o primeiro documento do movimento, chamado “Os Militares, as Forças Armadas e a Nação”. No dia 24 de março, a última reunião clandestina dos capitães decide derrubar o regime pela força a 25 de Abril do mesmo ano.

Às 22h55 da noite de 24 de Abril, é transmitida pela rádio a canção “E Depois do Adeus” de Paulo de Carvalho. Está, foi o primeiro sinal combinado e dava a indicação a cada membro de tomar a sua posição.
À meia noite e vinte, foi transmitido pela rádio o segundo sinal, a canção que mais marca esta revolução até aos dias de hoje, “Grândola Vila Morena”. Esta indicava que o golpe se mantinha, continuava, dava início às várias operações combinadas. Ao contrário da primeira canção, “Grândola Vila Morena” era uma canção censurada, proibida, que falava sobre o poder do povo, igualdade e paz, escrita e cantada por Zeca Afonso, activista pela liberdade e inimigo do Estado Novo.
Após este sinal, várias sedes militares e a rádio e televisão portuguesa foram invadidas, ocupadas e controladas pelos militares golpistas.
Forças comandadas pelo Capitão de Abril Salgueiro Maia controlaram o Chefe de Estado, Marcelo Caetano, que foi em exílio para o Brasil.

Mas porquê este nome de Revolução dos Cravos?
Os militares saíram à rua, ocuparam as ruas com tanques e armas, comprovando a queda do Estado. O povo rapidamente acudiu em celebração da Liberdade, confiando nos militares que não utilizaram as suas armas para derramar sangue.
O povo foi espalhando cravos vermelhos pelos militares em agradecimento, que foram colocados nas pontas das suas espingardas. Esta imagem romântica dos cravos vermelhos  nas pontas das espingardas em vez de  sangue inocente, será para sempre lembrada.

Cerca de 200 militares conspiraram pela Liberdade. Hoje temos de agradecer a estes corajosos por terem arriscado as suas vidas e terem feito, talvez, a coisa mais importante das suas vidas.
Após a revolução, Portugal passou por várias mudanças políticas também conturbadas.
No entanto, a Revolução dos Cravos é um momento fundamental da nossa história e a sua chama deve ser mantida viva.

O Algarve é a região mais a Sul de Portugal. Tem uma larga costa e é visitado principalmente pelas suas praias magníficas. Está banhado pelo Oceano Atlântico a Sul e a Oeste. A Este faz fronteira com Espanha e a Norte com o vizinho Alentejo.

É uma região onde o campo e o mar se encontram muito próximos. Isto porque, apesar de existirem algumas cidades mais desenvolvidas, grande parte do Algarve mantém uma certa ruralidade, mesmo junto ao mar. Assim, não é difícil sair da confusão das cidades e encontrar vilas mais calmas ou vários campos de cultivo.

O ponto mais alto do Algarve é a Serra de Monchique, onde nasce uma água altamente alcalina, com um pH de 9,5. Está associada a benefícios para a saúde e muitos vêm de propósito à procura desta água.

O Algarve tem tanto mar e é dele que vêm os peixes e mariscos frescos que tanto influenciam a cozinha algarvia.
Amêijoas, conquilhas, berbigão, ostras, mexilhão, frito na chapa com muito alho, limão e coentros… Hmm uma maravilha.

Vamos então falar sobre alguns exemplos do que comer no Algarve.

Os Percebes
É um crustáceo com uma forma muito estranha, que parece tipo uma pata de um animal, com umas unhas. Parece quase uma pata de caranguejo, mas com unhas brancas! É verdade, se virem a imagem vão ver que a sua forma faz pensar num animal pré-histórico. Enfim, os percebes são um grande petisco do Algarve e vivem agarrados às rochas. São muito rapidamente cozidos na água quente, com sal, louro, alho e já está.

Os Caracóis à Algarvia
É verdade, no Algarve gostam muito de petiscos e os caracóis são mais um!
Os caracóis são apanhados dos campos nos meses de Verão, altura em que terminam o seu ciclo de criação. São depois cozidos com sal, alho, louro e vinagre e depois servidos com pão e manteiga.

A Sopa de Lingueirão
O lingueirão é um molusco que vive junto à areia das praias e tem uma forma característica de uma navalha, pois a sua concha é fina e comprida e tem os cantos arredondados. Precisamente por isso, também é chamado de navalha.
A sopa de lingueirão é, então, um caldo feito com este molusco e temperado com salsa, coentros, alho, pimenta e sal.

A Sopa de Peixe
A sopa de peixe é feita com a mistura de vários peixes da costa, à escolha. Temperada com azeite e vinho branco, alho, salsa, coentros e louro, ganha um sabor irresistível a maresia!

A Cataplana
A cataplana é algo semelhante à chamada caldeirada, mais a Norte do país. Mas, em vez de ser feita no chamado caldeirão (uma panela de grandes dimensões) é feito numa cataplana, que é um recipiente circular, que parece uma concha, pois a parte de cima e de  baixo estão unidas por uma dobradiça num dos lados.
Este objecto é uma herança árabe. Com ela podem-se cozinhar os alimentos com um pouquinho de água e em lume baixo. Dentro, a água e o vapor vai misturando os sabores dos alimentos lentamente.
A cataplana dá o nome também ao prato, que pode ser de peixe, carne ou marisco, por exemplo.

Os Carapaus Alimados
Neste prato, os carapaus são cozinhados alguns minutos e depois é-lhes retirada toda a pele espinhas exteriores. Come-se com azeite, alho, salsa e sumo de limão por cima.

O Atum à Algarvia
No Algarve, a forma tradicional de servir o atum é sobre rodelas de cebolas, pimentão doce e tomate, acompanhado de batatas cozidas.

As Lulas Cheias
Como o nome já diz, as “barrigas” das lulas estão cheias por dentro, mas com quê? Com uma mistura preparada com alho, cebola, os tentáculos das lulas picados aos bocadinhos, vinho branco, arroz, tomate e salsa.

O Xarém
Tradicionalmente algarvio, o Xarém são umas papas de farinha de milho. A farinha de milho é cozida, normalmente com um pouco de toucinho para dar gosto. Normalmente, junta-se nesta papa de milho peixe ou marisco.

As Favas à Algarvia
São as favas descascadas e bem cozidas, com a gordura da morcela e do toucinho que acompanham e dão sabor ao prato.

A Tarte Algarvia
Junta os grandes 3 sabores das sobremesas típicas do Algarve: a alfarroba, a amêndoa e o figo. Uma delícia!

O Queijo de Figo
Não é realmente um queijo, pois não é feito com leite, mas ganha esse nome pela forma semelhante à do queijo. É na verdade uma mistura deliciosa de figos secos, amêndoa, água, canela, erva-doce e cacau. Tudo moído!

O Doce Fino
Também muito típico, é feito de massa de amêndoa, açúcar e clara de ovo e pode ser recheado de fios de ovos. É modelado e pintado à mão e pode ter muitas diversas formas: frutas, legumes, animais…

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Hoje vou falar-vos um pouco sobre a minha experiência em relação ao vegetarianismo e a cultura portuguesa.

Se algum de vocês aí desse lado é vegetariano ou, até vegano, com certeza já passou algumas dificuldades em encontrar um sítio para ir comer fora.
Nas cidades, hoje em dia, já não é um grande problema e existem opções. No entanto, quando vão dar aqueles passeios pelo interior rural de Portugal… Boa sorte!

Então, penso que foi em 2016 que eu decidi fazer uma mudança nas minhas escolhas alimentares. Comecei por diminuir o consumo de carne e peixe em casa, assim como o consumo de lacticínios. Tentei perceber melhor de onde vinha a minha comida, aumentar o consumo local e regional e procurar novos alimentos e novas receitas.

Na altura, em vivia em Bruxelas, na Bélgica. Rapidamente, para mim foi fácil deixar de comprar carne e peixe, mas inicialmente continuava a comer em momentos sociais ou no trabalho.

No entanto, para mim deixou de fazer sentido comer de vez em quando e optei por cortar a 100%. Não vou entrar em detalhes sobre os motivos, mas de uma forma geral, eu queria consumir menos comida industrializada e processada, em todos os sentidos.

Sinceramente, em Bruxelas, para mim não foi difícil. Leva algum tempo, claro, até os teus amigos perceberem que não se trata de uma moda de 2 semanas, mas gradualmente começaram a entender e, até, ficar curiosos.

Foi uma altura de descoberta, em que queria experimentar novas receitas e novos restaurantes. Em Bruxelas havia já uma grande possibilidade de escolha, tanto no supermercado, como a nível de restaurantes.

Agora, vir a Portugal de férias é que eram tempos mais difíceis.
Primeiro, o desespero da minha mãe “Mas o que é que eu vou cozinhar para ti?”
A desconfiança do meu pai, se eu tentava cozinhar algo diferente do tradicional ou introduzir um alimento novo “Ah obrigada, parece bom, mas não quero… ”
Os meus velhos amigos com os quais tínhamos feito dezenas de jantaradas de carne, enchidos, francesinhas… “Hmm Silvia, estás doente?”

Em Portugal, claramente, o pensamento sobre o vegetarianismo não era o mesmo que em Bruxelas.

Ainda hoje, toda a minha família, excepto a minha irmã, continuam com os mesmos hábitos alimentares de há décadas. Tenho uma família muito tradicional e isso nota-se bastante à mesa!
Se vamos almoçar ou jantar fora, vão escolher o restaurante mais típico ou mais tradicional que encontrarem. Os meus pais não querem saber de restaurantes de grande prestígio ou nada chic, querem que se coma bem, à moda antiga! Então, aí vêm os enchidos, as alheiras, as batatas no forno, a carne assada, o cabrito, a vitela, o peixe grelhado, as lulinhas etc etc…
Uma vez, por ideia da minha irmã, levamos os nossos pais a um restaurante vegetariano no Porto. Foi uma experiência única! E quando digo única, é mesmo por nunca mais se repetiu nem se repetirá! A cara do meu pai a olhar para o menú… Nunca na vida ele demorou tanto para escolher!

Por exemplo, para o meu pai, ir comer fora e pedir uma massa, é tipo, quase um crime! Para ele, massa, é aquilo que cozinhas em casa quando estás com pressa!

Atenção, eu não era nem sou, o tipo de pessoa que quer impingir aos outros as minhas escolhas. Eu decidi comer assim, não tenho a certeza se é a melhor opção, mas foi a minha opção. Por mim, podem pedir o que quiserem, comer um galo inteiro à minha frente, tudo bem. Cada um com a sua! Mas admito que, muitas vezes, ficava muito restringida nas minhas escolhas aqui em Portugal. Uma sopa, uma omelette, saladinha, pãozinho, sobremesa. Mas OK, tudo bem.

Em 2018 eu regressei a Portugal. Os meus hábitos alimentares já estavam mais do que estabelecidos e eu levava-os com toda a naturalidade.
Comecei a trabalhar num lugar novo, onde não tinha subsídio de alimentação, apenas tinha cantina. Ou seja, eu ía comer à cantina! Onde não havia opção vegetariana! Durante meses as minhas refeições não foram as melhores! Muitas vezes, sopa e fruta.
Todos os meus novos colegas achavam ridiculamente estranho eu não comer carne nem peixe. Eu acho que realmente devia ser a primeira pessoa que conheciam que era vegetariana!

Pra mim era um pouco estranho, porque em Bruxelas ninguém ficava surpreendido. Claro que as pessoas faziam perguntas por vezes, aquelas do costume “porquê?”, “desde quando?”, “então e a proteína?”. De repente toda a gente se preocupava com a proteína! Mas OK, aqui em Portugal, era demais.

Hoje em dia, Portugal também já foi invadido de etiquetas bio, vegan, sem açúcares, sem não sei quê… Ser vegetariano já não causa tanta estranheza, finalmente!

Igualmente, a minha alimentação também se foi adaptando. Hoje como algum peixe e, embora muito raramente, também carne.
Pois admito que em Portugal, principalmente em meios mais pequenos como aquele onde eu vivo ou onde vive a minha família, podemos encontrar carne e peixe de qualidade, local e que escapa ao grande processo de industrialização animal.

A nossa costa está repleta de bom peixe e eu tento sempre comprar fresco no mercado local.
Felizmente, em Vila do Bispo temos um mercado local como já não há muitos em Portugal.

Enfim, concluindo, eu penso que Portugal tem uma gastronomia tradicional que está longe de ser vegetariana. É um gastronomia rica e deliciosa. Então, ainda mais se contarmos com as sobremesas de leite e ovos!

Mas também é possível encontrar cada vez mais opções vegetarianas, principalmente nas grandes e pequenas cidades. Onde eu vivo, é um meio pequeno, mas encontram-se opções, igualmente porque aqui vivem muitos expatriados e há uma grande influência de culturas de todo o mundo.
Agora, se formos para os verdadeiros meios rurais, aí vai ser muito difícil encontrar onde comer. Igualmente, não existirá quase ninguém vegetariano. E se pedirem algo vegetariano, nem que seja uma sandes, especifiquem bem aquilo que querem, porque muita gente vai considerar que atum, fiambre ou até frango, é vegetariano.

Bem, tudo isto deixou-me com fome.
Bom apetite. Até à próxima!

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José Afonso, mais conhecido pelo seu apelido de Zeca Afonso, é e será eternamente lembrado como um dos pilares da Revolução dos Cravos, em 1974, altura em que foi derrubado o regime ditador de Salazar.

Nasceu a 2 de Agosto de 1929, em Setúbal e ao longo da sua vida viveu, trabalhou e viajou em vários pontos do país e estrangeiro, o que lhe deu a oportunidade de contactar com várias realidades diferentes, algo que era um pouco difícil na sua época.

Viveu em Aveiro, na casa dos avós, até aos 3 anos de idade, altura em que foi viver com a sua família para Angola, para onde o pai iria trabalhar como delegado do procurador da República. Alguns anos mais tarde viveu também em Moçambique e este contacto com o continente africano irá reflectir-se nos seus pensamentos e acções durante o resto da sua vida.

Aos 8 anos, regressou a Portugal e foi viver para casa de um tio no Alentejo. Por esta altura, Portugal vivia sob um pesado regime ditatorial e Zeca era obrigado a envergar o traje da Mocidade Portuguesa, uma organização destinada a todos os jovens, para os estimular na devoção à Patria e na participação militar. Todos os jovens entre os 7 e os 14 anos deveriam participar nesta organização e envergar um uniforme.

Aos 10 anos, os seus pais foram viver para Timor e quando Zeca tinha 13 anos, os seus pais foram capturados pelos ocupantes japoneses, dos quais ficaram cativos durante 3 anos. Durante todo este tempo, Zeca não teve qualquer contacto nem notícias dos pais.

Fez o liceu e a faculdade em Coimbra e integrou o Orfeão Académico e a Tuna Académica, onde rapidamente se destacou como cantor e se deixou envolver no ambiente de mudança e na vida associativa.
Casa-se em segredo e contra a vontade da família com uma costureira e origem humilde e mais tarde começa a dar aulas. A carreira como professor fez com que vivesse em várias pontos diferentes do país ao longo dos anos, ao mesmo tempo que gravou os seus primeiros discos.

Participou em vários eventos populares onde interpretou os seus discos que, na década de 60, se tornaram cada vez mais interventivos e  de carácter político e anti-regime.
Nessa altura era proibido expressar-se abertamente contra o regime, pois se o fizesse, além de ser imediatamente censurado, seria também preso. Então, as suas críticas ficavam disfarçadas nas letras das suas canções, que queriam chamar a atenção para a desigualdade social e a pobreza. Mesmo assim, muitas das suas canções foram proibidas e censuradas.
A sua ligação com outras associações revolucionárias e com o Partido Comunista Português fez com que fosse também preso, por algum tempo.

Foi em 1972 que interpretou em público pela primeira vez a canção “Grândola, Vila Morena”. Influenciado pelos anos em que viveu nesta região, a canção fala sobre a liberdade, paz, igualdade e fraternidade, como sendo poderes e direitos inerentes ao povo. Estas ideias são expressas através de versos como “O povo é quem mais ordena” e “Em cada esquina um amigo, em cada rosto igualdade”. Tudo isto eram ideais desejados. Na realidade, era mais a polícia que era temida em cada esquina! Às vezes era difícil saber quem era realmente amigo, pois muitas pessoas trabalhavam secretamente com a polícia.
Mas os tempos eram de mudança e pessoas como Zeca Afonso sabiam-no e trabalhavam para isso.

Na noite de 25 de Abril de 1974, data em que o Movimento das Forças Armadas concretizou o golpe para derrubar o regime de Salazar e tomou o controlo militar do país, houveram duas canções que marcaram momentos muitos importantes para a sua concretização.
Estas canções foram a forma que este grupo de militares encontrou para se comunicar à distância sem que ninguém percebesse o que se passava! Foram como senhas secretas que apenas um grupo de pessoas conhecia.
A primeira canção foi “E Depois do Adeus” de Paulo de Carvalho, que indicava o momento de saída das tropas.
A segunda canção “Grândola Vila Morena”, de Zeca Afonso, indicava o início do protocolo de operações programadas.

A Revolução aconteceu. Portugal mergulhou numa espiral de mudanças sociais e políticas. Muitos dos ideais da Revolução acabaram por  enfrentar muitas dificuldades e até desvanecer. Zeca Afonso manteve-se firme junto dos seus ideais, na procura da liberdade e da igualdade, continuou a sua carreia como professor e cantor, inspirando muitas pessoas à sua volta.

Faleceu a 23 de Fevereiro de 1987, vítima de doença prolongada por Esclerose Lateral Amiotrófica, mas as suas canções são eternas e continuam a ser interpretadas por vários cantores e a ser relembradas a cada aniversário da Revolução de Abril.

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Folclore é o tema de hoje!
Folclore! Não sei bem porquê mas sempre adorei esta palavra. Sabem o que é?
Eu acho que é daquelas coisas que sabemos, mas que nem sempre compreendemos exactamente tudo aquilo que significa. O significado de um folclore é muito longo!

Vamos analisar um pouco…
Na etimologia, a palavra vem do inglês “folk” (que significa “gente” ou “povo”) e “lore” (que significa “conhecimento”).

De forma oposta à cultura erudita, praticada pelas elites e pelas instituições oficiais, o folclore é um saber tradicional, é a história não contada de um povo. Ou, contada de uma outra forma que não a mais científica. Contada através da música, da linguagem oral, das festas e costumes, de jogos e brincadeiras, de rituais, poemas e tudo aquilo que o povo encontrava para se referir às suas crenças, tradições e superstições.
É também conhecida como a cultura popular, pois nasce precisamente no seio dos populares, não no seio dos eruditos, e é transmitida de geração em geração.

Todo o povo tem um folclore. Mas como sabemos então se algo é Folclore?
Há quatro situações que, quando em conjunto, o determinam: ser popular, ser normalmente de autor desconhecido, ser tradicional e ser comunitário.

E qual é afinal o folclore de Portugal? Pois claro que, como em qualquer outro país, o folclore é imenso e poderíamos aqui falar de muita, muita coisa diferente.

Se vocês vivem ou conhecem Portugal, eu imagino que já conheçam várias tradições folclóricas, embora por vezes nem pensemos que isso é folclore. Para mim, o folclore é algo que muitas vezes não se compreende, apenas se sente e se vive!

Ora, hoje então, eu quero vos falar de música e de dança folclórica.
Para começar, isto tem apenas uma palavra: Rancho! Rancho é música, é dança, é tradição.

Vamos analisar primeiro segnificados da palavra Rancho no dicionário:
– Grupo de pessoas, especialmente em marcha ou em jornada;
– Grande quantidade de gente;
– Conjunto de trabalhadores que se ocupam de trabalho agrícola.

Hoje em dia, um Rancho Folclórico caracteriza-se como sendo um agrupamento organizado de carácter musical, que tem por objectivo representar as antigas tradições das suas terras ou freguesias, através de exibições em público, nas quais os seus elementos se apresentam com trajes populares de antigamente, seja dos trabalhos do campo, seja de festa, seja de casamento, ou outros.
Resumindo, é representada em palco a vida de um povo, em tempos passados: as danças, os trajes e os cantares.
Está normalmente relacionado com a ruralidade do povo do campo, que antigamente se encontrava para trabalhar a terra e, destes encontros, surgiam cantares espontâneos entre grupos de homens e mulheres.
O Rancho é a voz dessa gente antiga, canções que não se sabe onde nascerem nem quem as fez, mas que passaram de boca em boca, de geração em geração. São canções simples, sobre o dia-a-dia, sobre a agricultura, sobre a gente…
Os trajes são inspirados nas roupas de antigamente, que variam conforme a região do país. São, por exemplo, os trajes que as lavradeiras e os malhadores usavam para trabalhar no campo, ou para dias de festa, ou ao Domingo (os chamados trajes Domingueiros).

O traje da mulher normalmente compõe-se pelo lenço à cabeça, a blusa branca, o xaile, o avental, a saia rodada, as meias e as chinelas. Os modelos e as cores mudam, mas normalmente têm cores muito vivas como o vermelho, o verde e o amarelo e têm desenhos ou motivos florais.

O traje do homem normalmente contém um chapéu, gorro ou boné; jaqueta, colete, camisa branca, calças, meias e socas. As cores são normalmente mais austeras, onde predomina o branco e o preto.

Então que instrumentos são utilizados nesta música? – perguntam vocês!
A gaita de foles, a guitarra portuguesa, o cavaquinho, a flauta de canas, o acordeão, a concertina, os ferrinhos, os tambores, entre outros.

E como se dança a música folclórica?
A música de tradição oral portuguesa recebeu a influência da música europeia que se difundiu entre nós nos séculos XVIII e XIX, de que são exemplos maiores as contradanças, as quadrilhas, as marchas, o fandango, a valsa e a polca.
Estas influenciaram a coreografia que hoje vemos os grupos folclóricos dançar.
Normalmente vemos o grupo em círculo. Homem e mulher dançam em pares, por vezes de braços erguidos, por vezes de mãos na cintura, giram e giram.

Pata terminar o episódio quero ler-vos um verso de uma música que fala sobre as Vindimas.
A Vindima é a época do ano em que se colhem as uvas para fazer o vinho. Era uma época do ano muito importante para grande parte do país, pois muita gente vivia da agricultura. Assim sendo, podemos imaginar que esta época era quase como um ritual, seguiam-se passos e saberes que passaram de geração em geração, como fazer a melhor colheita, como fazer para que a colheita não seja amaldiçoada, como melhor transportar e guardar as uvas, como pisar os uvas, tudo isso. Podemos imaginar que, no fundo destas imagens, estão homens e mulheres que cantam para fazer o trabalho mais alegre e mais próspero.

Ficam aqui uns simples versos:
Este tempo de vindimas
É um tempo de alegria
Descei cestas cheias para baixo
Outras vazias para cima
Não há coisa mais bonita
Que as vindimas lá na aldeia
Raparigas com os cestos
Rapazes na brincadeira
Acabam as vindimas
Vamos para a eira dançar
Rapazes e raparigas
Até o galo cantar
Não há coisa mais bonita
Que os serões das vindimas
Tudo canta e tudo dança
Ao toque da concertina

Já alguma vez se perguntaram porque é que os dias da semana têm a palavra “feira”? Eu sempre achei curioso, mas só recentemente realmente procurei a explicação e na verdade acabou por fazer muito sentido!

Na maioria das línguas latinas os dias da semana estão relacionados com os astros, ou seja, Planetas, Sol e Lua. À excepção do português e do Galego.

O Norte de Portugal e a Galicia são regiões que têm muita ligação. Noutros tempos já foram a mesma região e já falaram a mesma língua. Hoje em dia, podemos ainda ver que há uma grande parecença e por isso um galego e um português podem conversar facilmente, muito mais facilmente do que um português e um espanhol.

Voltando aos dias da semana, como já disse, normalmente estes são inspirados, desde a antiguidade clássica, nas Sete Luminárias sagradas, que são os sete objectos não fixos visíveis no céu: a Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus, Saturno e Sol.

Por ordem, podemos ver as suas semelhanças com outras línguas românicas, como o espanhol ou francês:
Lua – Lunes em espanhol, Lundi em francês
Marte – Martes ou Mardi
Mercúrio – Miércoles ou Mercredi
Júpiter – Jueves ou Jeudi
Vénus – Viernes ou Vendredi
Saturno – Sábado ou Samedi
Domingo nas línguas românicas está relacionado ao dia do Senhor, mas em Inglês ainda chamamos de Sun-day, ou seja, dia do Sol.

Reza a história que, no ano 563, São Martinho de Dume, Bispo católico romano de Braga resolveu que se tratava de uma blasfémia considerar estes símbolos pagãos para contar os dias da semana, principalmente na altura da semana Santa.
Noutro episódio também falamos um pouco sobre a história de Braga e da Semana Santa, considerada na época a semana mais importante do ano.
Para os católicos, a Semana Santa era inteiramente dedicada ao descanso, ao culto religioso e às orações. Nessa semana, o trabalho era substituído por dias de descanso em que todos deviam prestar devoção ao Senhor e daí surge, primeiramente, o termo “feria” que significa dia livre.

Há ainda um registo escrito da sua explicação. Vamos ouvir:

“Pois os infiéis irritaram Deus e não acreditam de todo o coração na fé de Cristo, mas são incrédulos que colocam os próprios nomes dos demônios em cada dia da semana e assim eles falam do dia de Marte, de Mercúrio, de Júpiter, de Vênus e de Saturno, demónios que nunca criaram um dia sequer, mas como eram homens malvados e perversos entre a raça dos gregos nominaram os dias assim”.

Posto isto, é simples de entender que o primeiro dia da semana é o Dia do Senhor, em latim Dominicus, em português actual Domingo. É o dia de descanso para os cristãos, altura em que se reúnem para fazer o culto em memória à Ressurreição de Jesus.
O segundo dia livre é, então, a segunda feira; o terceiro, a terça-feira; o quarto, a quarta-feira e por aí em diante.

Percebemos também que houve uma modificação na palavra latina “feria” para “feira”.
No entanto, a palavra “féria” existe também em português e continua a significar dia livre. Por exemplo, férias são sinónimo de holidays, vacaciones, vacances.

A palavra Sábado deriva do latim “sabbatum”, que por sua vez deriva do Shabat hebraico, que designa o dia de descanso entre os judeus e alguns grupos de cristãos.

Percebemos, assim, que a organização actual da nossa semana foi determinada pela influência católica e judaica da Antiguidade, pois hoje o Sábado e o Domingo continuam a ser os dias de descanso para a maioria das pessoas e, os dias da semana, são normalmente os dias de trabalho.

Porto é uma cidade, é um vinho, é um clube de futebol. “Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto”.

Do nome pré-romanico “Portus Cale” nasceu o nome de Portugal. Portus Cale era, inicialmente, a designação da cidade do Porto, desde 200 A. C. que se tornou mais tarde capital do Condado Portucalense, onde nasceu Portugal.

Portus, do latim, significa Porto. Ao longo do século XIV, o Porto teve uma grande expansão do seu povoado ao longo da margem ribeirinha do Douro, reflectindo a crescente importância das actividades comerciais e marítimas. A Ribeira, fervilhante de gentes ligadas às múltiplas atividades do rio e do mar, é hoje um dos pontos mais visitados da cidade. Ocupada por turistas que descansam após uma inclinada caminhada; por estudantes que vestem os seus trajes negros, que cantam e tocam canções; e por casais de namorados que fazem promessas junto ao rio. A Ribeira é, para mim, uma tarde de sol! Este sol que se reflecte no rio e que te hipnotiza com o som das gaivotas que aí pairam.

Da Ribeira podemos caminhar por ruas e escadas labirínticas, até à Se do Porto. Estas ruas são umas das mais antigas na cidade, onde assenta um casario sombrio. Subindo tudo até à Sé, há mais uma oportunidade de mirar o rio, desta vez de cima. Daí podemos ir até ao tabuleiro mais alto da Ponte D. Luís, cruzar, parar no centro da ponte e ver até ao mar.

Do outro lado da ponte, em Gaia, estão as caves do vinho do Porto.
O Vinho do Porto é produzido a partir das uvas que crescem nas encostas do rio Douro. Tornou-se mundialmente famoso graças ao brandy ou aguardente que por hábito se acrescentava para que este não azedasse durante as longas viagens e as más condições de armazenamento. É português mas com grandes ligações aos ingleses que muito investiram na sua produção.

Se nos deixarmos levar pelo rio, bem rápido ele nos leva até ao mar. Na zona oeste da cidade do Porto, encontramos a Foz do Douro e praias de areia, rochas e água fria. Onde o rio se transforma em mar, há um farol. Aí, nos dias de vendaval, quando o mar fica bravo, os mais curiosos vêm ver as ondas grandes que rebentam contra as pedras.

No centro histórico do Porto, a chamada Baixa do Porto, estão localizados os principais edifícios e monumentos históricos da cidade.
Desde o período romano, passando pela belíssima construção gótico-românica da Catedral e pelas casas medievais no seu estado original, até às mais modernas e recentes reconstruções e reabilitações que vieram recuperar muitos dos imóveis abandonados ou inutilizados do centro histórico, dando-lhe hoje uma nova frescura e uma nova cor.

O Porto, como várias outras cidades europeias é hoje uma cidade em gentrificação. O investimento turístico deu lugar a uma nova ocupação do centro da cidade. Este desenvolvimento é, por um lado, positivo – gera trabalho, economia, novidades, modernização, reabilitação e recuperação da cidade. Por outro lado, negativo, como a perda de autenticidade e tradicionalidade cultural e o rápido aumento do custo de vida, sendo o aumento das rendas um dos pontos mais quentes.

Se falamos do Porto, falamos também de algumas iguarias e petiscos, nao só de vinho!
A francesinha, prato típico do Porto, foi inspirada na sandes francesa “croque-monsieur”. Em 1950, Daniel David Silva, que trabalhava no restaurante “A Regaleira”, recriou a sandes e acrescentou-lhe um característico molho secreto.
O recheio desta sandes é constituído mais habitualmente por linguiça, salsicha fresca, fiambre, carnes frias e bife de carne de vaca, coberta com queijo posteriormente derretido no forno. É guarnecida com um molho à base de tomate, cerveja e piri-piri e pode ser servida com batata frita como acompanhamento. O ovo estrelado no topo da sandes é cada vez mais recorrente, no entanto, é uma alteração à receita original.

As Tripas à Moda do Porto é também um prato tradicional desta cidade, que deu origem ao nome de Tripeiros, que orgulhosamente os habitantes do Porto envergam.
A lenda deste prato remonta aos tempos dos Descobrimentos, quando o Infante D. Henrique, para abastecer os barcos na tomada de Ceuta em 1415, pediu aos habitantes do Porto todas as carnes que possuíam, limpas e salgadas para levar. Para a população restaram as miudezas e as tripas, ou seja, os intestinos dos animais.
Hoje, este prato é confeccionado com vários tipos de carne, tripas, enchidos e feijão branco.

Ambos os pratos, eram antes servidos apenas em cafés e snack-bar da cidade. Hoje são um prato servido em restaurantes de comida tradicional e muito apreciados.

O Porto é também o Futebol Clube do Porto, mesmo quem não aprecia futebol – como eu – tem que compreender que a cidade e o clube vêm de mãos dadas e que a grande maioria dos seus habitantes têm por ele uma profunda devoção, que não se explica bem.
A frase “O Porto é uma Nação” mostra bem o carinho dos portuenses pela sua cidade e é muito utilizada no contexto do futebol.
Nesta cidade, bebés nascem e têm tão depressa o cartão de identidade como o cartão de sócio do clube e o seu destino já está decidido!

Enfim, os portuenses são caracterizados pelo seu espírito forte, honesto, trabalhador e hospitaleiro. São alegres e demonstram o seu lado festeiro na noite do seu santo padroeiro, a noite de S. João. De 23 para 24 de Junho a  população sai à rua para bailar e brincar com alhos-porros e martelos de plástico que chiam quando se martelam as cabeças da multidão. As sardinhas assam-se na rua e comem-se sobre o pão; há manjericos às janelas e lançam-se balões de ar quente que iluminam o céu de magia.

“Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto”.

Conhecem o Magusto? Já alguma vez ouviram falar sobre esta festa que ocorre no início de Novembro?

Então e o São Martinho que se festeja a 11 de Novembro?

Hoje em dia sabemos que o Magusto é a altura, por excelência, de comer castanhas assadas e beber vinho novo e jeropiga, que é uma aguardente de uva.
Faz-se uma grande fogueira onde se assam as castanhas e a comunidade ou as famílias juntam-se para comer e beber juntos.
Os mais corajosos, saltam por cima da fogueira e os mais brincalhões usam os carvões frios pasa se sujar as caras e sujar em os outros, por brincadeira.

É uma festa da comunidade, onde se cantam canções ou se ouve música popular. Eu tenho recordações mágicas deste dia nos tempos de escola primária, em que fazíamos uma grande fogueira no recreio, para as castanhas e brincávamos em redor dela e cantávamos canções.

Mas… Vamos tentar descobrir porquê? Quais as origens destas festas e dos seus rituais?

Para isso, quero ler-vos excertos de um artigo que encontrei no blog “Portugal num Mapa”, onde podem encontrar vários artigos sobre lugares, tradições e lendas portuguesas.

Neste artigo podemos tentar compreender a origem da festa do Magusto.

Então:
“O significado que temos de Magusto é normalmente o de uma festa da castanha, ou, particularmente, o de uma grande fogueira onde se assam castanhas. Actualmente, confunde-se com o Dia de São Martinho, o que põe um manto em cima de uma outra data com a qual era associado: o Dia de Todos os Santos, havendo muitas semelhanças nos ritos que hoje, por ingénua brincadeira, ligamos ao Halloween.

A controvérsia acerca deste assunto começa desde logo na origem da palavra magusto. Há diversas teorias quanto à sua toponímia. A que parece reunir maior consenso defende que resulta da contracção de “magnus” com “ustus”, ou seja, “grande ardida” ou “grande queimada”.
Saliente-se que apenas a Galiza e Portugal (e uma certa parte das Astúrias) usam comummente o termo magusto (na Galiza chama-no de magosto), mostrando, uma vez mais, os laços culturais que unem a faixa ocidental ibérica.

[…]

A Origem e história do Magusto 1 de Novembro e 11 de Novembro:
Em ambos estes dias é costume fazerem-se magustos, que é como quem diz, grandes fogueiras criadas pelo povo, em montes ou em eiras, com a intenção de se aquecerem ao mesmo tempo que se assam castanhas e se bebe jeropiga, água-pé e se dão as primeiras provas do vinho novo. É, obviamente, um momento de algazarra comunitária.

Para a gente que lá vai, essa é a última oportunidade de conviver alegremente com a vizinhança, porque a partir daqui entramos na fase escura do ano, quando as noites se tornam maiores do que os dias, o frio apela à recolha, e a natureza repousa de toda a dádiva a que se entregou nos meses das colheitas. Daqui para a frente, o homem resguarda-se. É a espera que tem de acontecer até a terra estar novamente preparada para dar vida às sementeiras.

[…]

Primeiro convém lembrar que o 1 de Novembro, habitualmente apelidado o Dia de Todos os Santos no calendário cristão – e que originou o termo Halloween (pela contracção do inglesismo All Hollows Eve, ou seja, a Véspera de Todos os Santos) -, é um dia ao qual estão enlaçadas inúmeras crenças: a maioria delas relacionada com o mundo dos mortos […]

Ou seja, quer o 1 de Novembro, quer o 11 de Novembro, mencionam esse elo transcendente que liga duas dimensões: a dos vivos e a dos mortos. Mais uma vez, porquê? […] Apesar de todo o comercialismo que circula em torno da famosa Noite das Bruxas, há um valor simbólico que não podemos dissociar desta festividade, e esse não é propriamente americano. Ou é americano, mas por influência europeia, nomeadamente pela emigração irlandesa para o novo continente. Na realidade, para as regiões europeias de cultura marcadamente celta, a passagem do 31 de Outubro para 1 de Novembro não era nem mais nem menos do que uma passagem de ano (os celtas dividiam-no em duas estações: a do frio e da noite, por um lado; a do calor e do dia, por outro). A noite do 31 de Outubro era assim tida como um tempo de transição, espécie de tempo ausente, em que ainda não se era parte de uma época ou de outra, acreditando-se assim que seria precisamente nesta altura que os portões que separavam o mundo dos vivos do mundo dos mortos se abriam.

[…]

Concluindo, há uma forte probabilidade de termos no magusto a nossa antiga passagem de ano. Um resíduo pagão que partilhamos com o norte de Espanha[…] “.

Mais uma curiosidade ligada ao dia 11 de Novembro, ou dia de São Martinho é o chamado Verão de São Martinho.
Nesta época do ano, o tempo é normalmente frio e chuvoso e diz-se que no dia 11 de Novembro sempre faz sol.

Conta a lenda que, num dia chuvoso, um soldado romano chamado Martinho, ao passar a cavalo por um mendigo quase nu, que lhe pediu uma esmola, cortou a sua capa ao meio com a sua espada para lhe dar metade. Nesse preciso momento parou de chover e o sol apareceu, daí a expressão associada a temperaturas invulgares em Novembro.

Espero que tenham gostado de saber mais sobre o Magusto e se querem descobrir mais sobre o misticismo dos últimos dias de Outubro e dos primeiros de Novembro, então convido-vos a ouvir o episódio seguinte sobre “A Festa da Cabra e da Canhota”.

Ora, se ouviram o episódio anterior onde eu falo sobre as festas do Magusto e a origem celta do Halloween, este episódio torna-se mais fácil de entender.

Tendo em conta que o que conhecemos hoje como Halloween é um vestígio das tradições pagãs de origem celta, podemos também encontrar várias provas destas tradições em várias regiões da Europa, que se espalharam aquando das invasões celtas.
Em vários lugares da Europa e América festejam-se a passagem de 31 de Outubro para 1 de Novembro e os primeiros dias de Novembro de diferentes formas.
Mas, em todas elas, encontramos algumas semelhanças, nomeadamente a ritualidade acerca do mundo dos vivos e dos mortos.

Na passagem do dia 31 de Outubro ao dia 1 de Novembro, os celtas festejavam a passagem do ano, dividido entre a estação da noite e do frio, e a estação do dia e do calor. O último dia de Outubro registava assim o final da época das colheitas e o início da época em que a natureza morre.
Nesta noite acreditava-se que o mundo dos vivos e dos mortos se aproximava e tudo poderia acontecer, até a vinda dos mortos à Terra para destruir as colheitas e provocar o medo.

Inspirada nestas crenças, a Festa da Cabra e do Canhota celebra-se em Portugal em Cidões, Bragança, Trás-os-Montes.
Cidões é uma aldeia muito pequena, com cerca de 20 habitantes que trabalham para manter vivo o espírito e as características desta tradição.

Nesta festa proceder-se ao ritual de queimar o canhoto, ou seja, um grande pau de madeira numa fogueira gigante. Nessa fogueira vai-se cozinhar a cabra em potes de ferro.
Esta queimada representava a queima do Diabo, que é muitas vezes representado em lendas como uma forma humana com pés de cabra! Representa, igualmente, a queima do azar, para atrair a sorte na entrada da nova estação.

Mais tarde, faz-se a queimada do Cabrão e nesse momento representa-se um ritual pagão para afastar os males do corpo e da alma, pedir a prosperidade, sorte e fertilidade. Esta queimada traz a raiva ao Diabo que aparece na aldeia numa carroça puxada pelas gentes da terra. Caracteristicamente, as rodas da carroça fazem muito barulho, uma chiadeira tremenda!
No entanto, o Diabo acaba por ser expulso da aldeia para só poder voltar daí a um ano, na próxima noite de 31 de Outubro. Até lá, a aldeia e os seus habitantes ficam protegidos contra todos os males e azares.

Durante a madrugada, os habitantes da terra têm a permissão para fazer muitas travessuras, como desarrumar objectos das varandas e das ruas.

Toda a aldeia é decorada com motivos celtas, velas e estrelas em chamas e nas ruas podemos encontrar exemplos da gastronomia transmontana. Pode também ser degustado o  úlhaque, uma bebida espirituosa de origem celta que é ainda produzida na aldeia.
Apesar de tão pequena aldeia, o trabalho da gente da terra atrai já milhares de turistas e curiosos que querem deixar-se enfeitiçar por esta noite cheia de misticismo.

E se querem continuar a descobrir sobre estes rituais pagãos relacionados com a transição entre o tempo claro e o tempo escuro do ano, então sigam-me para mais um episódio sobre o Entrudo e os Caretos de Podence, que virão em breve!

Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro, não precisa de grandes introduções. Conhecido por todo o mundo, é um futebolista português, conta para si o maior número de golos na história, em jogos oficiais.

Nasceu a 5 de Fevereiro de 1985, no Funchal, capital da Ilha da Madeira.
Durante a sua infância, cedo demonstrou a sua paixão pelo futebol. Passava os dias na rua a jogar com os amigos e começou a sua carreira aos 9 anos, quando começou a jogar no Clube Andorinha, na Ilha da Madeira.

Vem de uma família monetariamente pobre e viviam de forma muito humilde e com muitas  dificuldades. Passavam frio e fome e o pai de Ronaldo tinha também fortes hábitos alcoólicos.
Aos 10 anos, já jogava no maior clube madeirense, o Nacional. Aos 12 iniciou um contrato com o Sporting Clube de Futebol, um dos maiores clubes do país, onde permanece toda a sua adolescência, primeiro nas camadas mais jovens, mas rapidamente chega à equipa principal a jogar como titular.

Aos 17 anos deixa o Sporting para ir para o Manchester United. Pela primeira vez numa equipa Internacional, demonstra o seu valor como futebolista.

Em 2008 começou a jogar no Real de Madrid, cuja contratação foi a mais cara do clube.
No ano de 2011, marcou 53 golos pelo clube, o maior número de sempre numa temporada no Real de Madrid.

Em 2018, assinou pela Juventus.

À data de hoje, acaba de assinar contrato com Al Nassr, da Arábia Saudita.

Hoje soma golos, taças, vitórias e prémios.
Os prémios individuais são muitos. Entre eles, Ronaldo conta com Bolas de Ouro da FIFA, da UEFA e do campeonato do Mundo. Foi nomeado várias vezes como o melhor jogador de futebol da UEFA, de Portugal e do mundo.

Joga também pela Selecção Portuguesa desde 2004, sendo actualmente capitão de equipa e põe Portugal ao rubro com o seu desempenho.

É frequentemente considerado um óptimo futebolista, devido à sua técnica, à sua capacidade física, à forma como marca golos, à sua liderança e desempenho sob grande pressão. Por outro lado é também fortemente criticado por certos comentários, formas de estar, pelo dinheiro que ganha e excesso de fama.
É também conhecido como uma pessoa e atleta extremamente metódico e disciplinado. Não bebe álcool, não fuma e tem uma rotina de treino rigorosa. São estas normalmente as opiniões dos próprios colegas de equipa.

Ronaldo é das das figuras públicas portuguesas mais conhecidas em todo o mundo, mesmo por pessoas que, como eu, não percebem nada de futebol!

Eu nasci no Norte, mais precisamente no Hospital de São João, no Porto. Cresci numa Vila que se chama Caldas de S. Jorge e aí vivi até aos meus 22 anos.

Hoje, com 32, vivo há 4 anos no Algarve, no sul de Portugal.

Quando aqui cheguei, deparei-me claro com uma nova pronúncia e muitas novas expressões que não usava no Norte ou que têm diferentes significados no Norte. Muitas das vezes fiquei com cara de parva a olhar para as pessoas porque apesar de ser Português eu não entendia o que queriam dizer, especialmente as pessoas mais velhas!

Se alguns de vocês aí desse lado do podcast vivem no Algarve, então este episodio é especialmente para vocês. Vamos ver algumas das expressões mais engraçadas que encontrei aqui nas terras do Sul.

“Môce” – a forma algarvia de dizer “moço”. Moço significa rapaz. Claro que é a mesma palavra mas a pronúncia muda tudo e os algarvios usam constantemente esta palavra. Por exemplo “Môce, onde estás?”.

Marafado – esta palavra nunca tinha ouvido até chegar ao Algarve. Significa maroto, rebelde ou traquina. Por exemplo, muitas vezes ouvimos “Ai môce marafado” e quer dizer que alguém teve um comportamento fora do esperado.
Por outro lado, também pode significar irritação, por exemplo, se eu dizer “hoje estou marafada” quero dizer que estou irritada ou chateada.

“Na dô” – é o mesmo que “não dou” e significa na verdade “não consigo”. Isto pode ser associado a várias verbos, por exemplo:
– “não dou feito” – não consigo fazer
– “não dou comido” – não consigo comer

“Que jête!” – é o mesmo que “que jeito!” e significa algo como “isso não tem jeito”. É usada para reprovar alguma coisa que foi dita ou perguntada, uma ideia, uma opinião ou uma sugestão. É usada constantemente para as coisas mais banais, por exemplo, se alguém pergunta “Já estás pronta para sair?” e eu respondo “Que jête, ainda vou tomar banho… “.

– Ê cá – é o mesmo que “eu cá” e significa algo como “eu pessoalmente” ou “eu de minha parte”. Por exemplo “ê cá não me quero meter nisso”.

Cagorro – é o mesmo que susto, por exemplo “deste-me cá um cagorro!”

Cabrão ou cabrona – esta foi para mim, sem dúvida, a expressão que mais me chocou, sendo nortenha. Cabrão ou cabrona simbolizam uma cabra grande, no masculino e no feminino, respectivamente. Ora, pra nós nortenhos chamar cabra, cabrão ou cabrona a alguém é algo realmente muito depreciativo, é forte, é mau! Não entrando em  detalhes, mas é mau. A única excepção é qual é usado em tom de brincadeira entre pessoas que se conhecem muito, muito bem.
No Algarve, está expressão tem muito menos impacto que no Norte, sendo que muito mais facilmente as pessoas se tratam por cabrão ou cabrona. A primeira vez que me chamaram cabrona eu fiquei de olhos abertos sem saber o que responder, porque não percebi porque é que aquela pessoa me estava a ofender à frente de toda a gente! Do nada! Depois percebi que o termo vinha num tom de brincadeira e não era assim tão desrespeituoso.
Mesmo assim, amigos ouvintes, eu aconselho a não usarem estes termos de forma corrente, a perceberem primeiro em que contextos podem ser usados, pois embora menos agressivos do que no Norte do país, continuam a não estar adequados para situações formais ou quando não conhecemos bem as pessoas.

Vir nas horas “dum” cabrão – significa vir a toda a velocidade.

Estar alvariado – significa que se anda distraído ou, também dito popularmente, “com a cabeça no ar”.

Estar almariado – quase prece a frase de cima, mas não. Almariado significa tonto, enjoado, nauseado, mal disposto.

Estar amantizade – alguém que está amantizade é alguém que vive com outra pessoa com a qual tem uma relação amorosa, mas não estão casados.

Larga-me da mão ou Deixa-me da mão – normalmente utilizados por alguém que pede para ser “deixado em paz”, ou seja, que pede para deixar de ser incomodado.

Os telhados estão baixos – na gíria popular está expressão é normalmente substituída por outra que diz que as paredes têm ouvidos. Regionalmente no Algarve, quando os telhados estão baixos, quer dizer que alguém pode estar a escutar a conversa. É normalmente dita como uma advertência, “Cuidado que os telhados estão baixos”.

Os regionalismos e a pronúncia Algarvia dava para fazer horas e horas de podcast, mas esse não é o objectivo.
Se algum de vocês vive ou pensa viver no Algarve, desejo a todos muito boa sorte, pois a pronúncia é realmente difícil! A mais simples da palavra parece mudar. Muitas vezes, pessoas que aprenderam português noutras regiões ou no Brasil e que até entendem bastante bem a língua, chegam ao Algarve e entendem nada ou muito pouco. Para mim é às vezes complicado entender tudo o que dizem as pessoas mais velhas.
Mas claro que é uma questão de ouvir e relacionar-se com as pessoas, aprender e ao final acabar por se apaixonar por esta pronúncia tão engraçada!

Junho é mês de Santos! Santos Populares!

Em Portugal, o mês de Junho ganha um destaque especial entre as festas populares. Neste mês celebram-se festas e romarias em nome de três santos: Santo António, São Pedro e São João.
Estas festas celebram-se em todo o país, desde as pequenas aldeias até às grandes cidades e juntam-se aí calor do mês de Junho que finalmente anuncia o Verão, depois de uma longa espera…

O povo espera pelo mês de Junho, que normalmente é um mês muito agradável. Melhores temperaturas, pouca chuva, dias longos e é por costume, também, comer muita sardinha. Dizem que a melhor sardinha é a do mês de Junho e ela começa a aparecer por todo o lado. É o prato principal destas festas populares também! Neste mês, as ruas enchem-se do cheiro da sardinha assada na brasa, os fogareiros começam a aparecer na rua, à porta das casas, nas varandas, nos passeios… E não se precisam muito para acompanhar, às vezes um bom pedaço de broa já é mais do que suficiente!

Mas porque é que eu saltei do tema dos Santos Populares para as sardinhas? Se vivem em Portugal, já devem ter compreendido. É que realmente, hoje em dia, estes estão totalmente ligados. Não há Santos sem sardinhada! Como eu disse, a sardinha come-se por excelência neste mês. Em dia de festa popular é quase obrigatória para a maioria dos portugueses!

Então, vamos lá descobrir um pouco mais sobre estas festas, a sua origem e a tradição actual.

O primeiro santo a ser celebrado neste mês é o Santo António, na noite de 12 para 13 de Junho.
Lisboa ganha especial destaque nesta celebração, pois Santo António é o santo padroeiro desta cidade. E porquê?
Santo António viveu entre o século XII e XIII, nasceu em Lisboa e morreu em Pádua, no preciso dia em que se faz esta festa, dia 13 de Junho.
Foi tido como santo e grande intelectual no seu tempo, tendo deixado atrás de si uma grande quantidade de textos e sermões escritos.

Fora a tradição cristã, hoje em dia, a comemoração deste dia em Lisboa é gigantesca e envolve toda a cidade!
As ruas enchem-se de enfeites, fitas e bandeirinhas, luzes e cores vivas. Os manjericos, uma planta originária da Índia muito parecida ao manjericão, colocam-se às janelas, ouve-se música popular e comem-se sardinhas sobre o pão, sem prato, nem garfo, nem faca!

Santo António, é também conhecido como o santo casamenteiro e acredita-se que quem case neste dia tem o seu casamento abençoado por ele! Então, no dia 12, fazem-se em Lisboa os Casamentos de Santo António, em que vários casais se casam ao mesmo tempo.
Esta tradição começou apenas em 1958, quando 26 casais se casaram ao mesmo tempo na igreja de Santo António. O objectivo desta iniciativa era proporcionar o casamento a casais com menos possibilidades económicas e, assim, se mantem essa tradição.

“Se o bendito Santo António
Este ano me casar
Cá voltarei para o ano
Pôr flores no seu altar”.

À noite fazem-se as Marchas Populares.
São um desfile onde vários grupos representativos de cada bairro da cidade de Lisboa, saem à rua e fazem uma demonstração, cantam e dançam. Envergam roupas carnavalescas, e dão corpo a um tema à sua escolha.
Como pessoa principal de cada grupo existe um padrinho ou madrinha, que é normalmente alguém importante ou uma cebridade.
As Marchas reúnem muitos, muitos espectadores, por esta altura as ruas já estão cheias e quase não se pode caminhar por lado nenhum!

Os casais que se casaram nesse dia na Igreja de Santo António, também têm o seu lugar para desfilar nas Marchas.

Depois das Marchas, as festas continuam noite a dentro pelos vários bairros. A música é a brincadeira continua, jovens e velhos bailam até ser dia.

Alguns dias mais tarde, no mês de Junho, celebra-se o São João, mais precisamente na noite de 23 para 24.
Esta festa dedica-se, então, a São João Baptista que nasceu a dia 24.
Sao João é celebrado principalmente na região Norte do país, ganhando especial destaque na cidade do Porto.

Tal como em Lisboa, nesta data, a cidade do Porto enche-se de manjericos, cores vivas, sardinhas e festa.
A tradição original dos manjericos dizia que cada homem deveria oferecer um manjerico à sua amada ou pretendente, juntamente com uma quadra de amor, quase sempre de teor popularesco..

Algo como:
“Um manjerico te vou dar
P’ró meu amor te provar
Os Santos vão abençoar
E as inspirações acompanhar!”

Talvez a tradição mais mágica desta festa são os balões de São João. São balões de ar quente, feitos em papel, onde se cocola uma vela a arder dentro, que fará o balão subir pelos céus e perder-se pela noite.
Conseguem imaginar centenas de balões, pequenos pontos luminosos que se espalham, como estrelas que bailam no escuro? Vemos estes pontos distanciarem-se e viajarem pelo ar.
O momento de lançar o balão é muito especial, normalmente feito com amigos e família, pedem-se desejos e cruzam-se os dedos para não vermos o balão incendiar-se e desfazer-se em cinzas como por vezes acontece. Todos ficam animados e felizes por ver o seu balão seguir caminho em direcção ao infinito, subir os céus até se perder de vista e se misturar com centenas de outros.

As pessoas saem à rua, fazem arraiais, comem sardinhas e bailam muito. Há música por toda a cidade claro!
Na mão, levam-se plantas de alho-porro ou, mais recentemente, martelinhos de plástico. O costume é passar o alho porro ou martelar nas cabeças de todos os que passam. É uma brincadeira e diz que assim se afasta o mau-olhado.

No final do mês, com menos destaque em relação às festas anteriores, celebra-se o São Pedro, no dia 29.
No entanto, este também se celebra e, principalmente, nas regiões junto ao mar, pois o São Pedro é o escolhido padroeiro dos pescadores.

Podemos falar, por exemplo, do São Pedro da Afurada. A Afurada é uma região bem junto ao Porto e junto ao mar.
Nesta festa, os pescadores fazem uma procissão e carregam santos que vão abençoar os seus barcos.

Estes dias de São Pedro Sar marcados, igualmente, por muita festa pelas ruas, a famosa sardinha e os bailaricos.

Bem, depois de falar-vos sobre as festas destes santos, que assentam numa linha de tradição cristã, quero dizer-vos que as festas do mês de Junho já existiam antes da cristianização deste mês. Eram chamadas de festas Juninas e tiveram uma origem pagã.
Como disse no início, Junho é o mês em que se inicia o Verão. Ou o solstício de Verão, o chamado dia mais longo do ano.
Em episódios anteriores falamos sobre as várias festas entre Outubro e Maio, que marcam ciclos agrícolas ou temporais, onde se pede ou festeja a abundância e fertilidade da terra. A festas Juninas são o culminar destas tradições. Sobrevivemos ao Outono e Inverno, começamos a ver os raios de prosperidade da Primavera e, agora, festejamos o início do tempo quente, da luz, dos frutos, das colheitas…

Principalmente a noite de São João, a noite mais curta do ano no Hemisfério Norte, celebra talvez uma antiga passagem de ano. O lançamento de balões com fogo, iluminando a noite e celebra o astro e deus mais poderoso: o Sol.
A mudança desta celebração para o dia 24, com o propósito do nascimento de São João ter sido nesse dia, foi mais um acto de cristianização das tradições pagãs.

O uso do alho porro no São João e da alcachofra no Santo António serva para afastar o mau olhado, pois eram importantes plantas medicinais, usadas para trazer saúde e afastar doenças.

Outro ritual pagão que também vai sobrevivendo nestas festas é o salto sobre a fogueira. Estas fogueiras, muitas vezes misturadas com ervas medicinais ou mágicas, como o funcho e o alecrim. Saltar sobre a fogueira representava a purificação dos corpos.

O mesmo acontece nos banhos nocturnos na noite de São João, em que se acredita que que se lava corpo e alma.

Para terminar, estas festas têm origens muito remotas e, como qualquer tradição, foi sendo alterada até aos dias de hoje.
Hoje, muitos já não se perguntam o porquê destas festas, apenas aproveitam estes dias para saírem à rua, festejarem e divertirem-se como um bom português gosta: música, baile e comida na rua!

A Queima das Fitas é uma festa tradicional de estudantes do ensino superior, ou seja, universidade, faculdade, ensino técnico superior e outros.

Esta festa também é conhecida por Semana Académica e, como o nome indica, ela tem a duração de uma semana completa.

Quando digo que é uma semana tradicional, é porque realmente esta semana já se celebra desde a metade do século XIX, e consistia em queimar as fitas de algodão que eram usadas para atar as pastas onde se guardavam as sebentas. As sebentas eram livros onde estavam compilados vários temas e matérias importantes sobre o estudo em causa.

Essas fitas tinham cores diferentes conforme a Faculdade e eram queimadas para simbolizar a libertação das sebentas no final do curso.

Apesar de a Queima das Fitas ser hoje um evento de grande dimensão nas várias cidades do país, esta tradição teve origem na cidade Universitária por excelência… Coimbra! A Queima era feita no Largo da Sé Nova onde um caloiro fazia um buraco no chão e os estudantes finalistas atiravam para lá as fitas e enterravam as cinzas.

Convém esclarecer que os caloiros são os alunos do primeiro ano do curso, os quais são submetidos a rituais de iniciação e integração na Praxe Académica, com o objetivo de transmitir os valores dos alunos mais velhos para os mais novos, na tentativa de manter vivas as tradições da Praxe.
A Praxe são o conjunto de tradições académicas.
Há relatos que datam do século XVIII de que estes rituais eram fisicamente violentos, que se rapavam cabelos ou que se obrigava os caloiros a imitar animais a comer o pasto.
Hoje em dia, a palavra Praxe continua a ser bastante controversa. Há quem adore, há quem odeie. E mesmo aqueles que adoram, na sua quase totalidade, recriminam os actos de violência ou extremismo que podem ser feitos nestes rituais. Infelizmente também existem…

Pessoalmente, participei na Praxe e, como caloira, mesmo tendo passado pelas mais ridículas situações, nunca me senti agredida ou humilhada. Esse não deve ser o intuito da Praxe.

Bem, voltando à Semana Académica…
Durante a Semana Académica os estudantes realizam vários eventos. Um dos mais importantes, é o Cortejo. É um desfile onde os finalistas aproveitam o facto de estar a terminar o seu curso para satirizar acontecimentos ocorridos durante os seus anos de estudo, principalmente satirizar as aulas e os professores. E como? Em cartazes, frases, desenhos, maquettes, bonecos, construções, colocados em carros que participam no desfile. Antigamente, eram utilizados carros puxados por animais, hoje em dia normalmente, são camiões. Há também o costume de cobrir estes carros com flores de papel nas cores dos respectivos cursos.
Estes carros são preparados durante o ano pelos finalistas e pelos caloiros. Os finalistas vivem o seu momento de glória no cimo dos camiões e há muita, muita música e centenas de pessoas saem à rua para acompanhar o desfile.

Outro dia muito importante desta semana é a Latada de Emancipação dos Caloiros, em que os caloiros descobrem se são ou não dignos de passar ao próximo nível de Praxe, no próximo ano de curso.
A Latada é também um cortejo, onde os caloiros são totalmente equipados e revestidos dos mais diversos utensílios que possam fazer barulho, como latas, tachos, panelas, buzinas, tudo…
O objectivo que deu origem à Latada era o de fazer barulho e chatear os restantes colegas que ainda tinham exames para fazer e criar confusão na cidade. Actualmente, tudo é uma grande brincadeira e as cidades saem à rua para ver este desfile, mas antigamente as Latadas eram altamente disruptivas para a cidade e fonte de grandes conflictos, tal como na Latada de 1903, em Coimbra, que veio dar origem à chamada Revolta do Grelo, em que os Estudantes se aliaram às hortaliceiras do Mercado D. Pedro V contra um imposto de selo.

Após um breve declínio devido à Primeira Guerra Mundial, em 1919 os Estudantes de Coimbra elegem uma Comissão para organizar as festas Académicas desse ano. Oficializava-se assim, a “Queima das Fitas”.
Em 1920 deu-se o primeiro programa oficial da Queima das Fitas onde, os vários eventos culturais e desportivos que aconteciam ao longo do ano, foram concentradas à volta do dia 27 de Maio, data do Cortejo.
Apenas em 1949 foi adicionado ao programa a Serenata Monumental. Hoje em dia, é ainda um dos mais belos eventos, onde correm muitas lágrimas pelas caras dos estudantes tocados pelas vozes dos seus colegas que, do alto das escadas da Sé, cantam tristes e profundos Fados. A Serenata começa à meia noite e decorre pela noite fora, todos se juntam em silêncio, enverga-se o traje sempre de capa traçada e nunca se aplaude no final das canções.
As tunas entoam canções de amor e despedida à cidade onde passaram os últimos anos, fazendo promessas de recordações eternas dos tempos de estudante. É um momento de muita emoção e saudade, especialmente para aqueles que se despedem do curso nesse ano.

Existem mais eventos ligados ao programa da Queima das Fitas e variam conforme a cidade. Como disse, Coimbra foi a precursora deste movimento. No entanto, hoje ganharam imensa importância outras Semanas Académicas como a Queima do Porto, de Lisboa ou Braga (a última que tem um nome particular “O Enterro da Gata”, falaremos no próximo episódio).

Ora bem, no episódio anterior falamos sobre Praxe e Semana Académica.
Estes temas “dão pano para mangas”. Dar pano para mangas é uma expressão portuguesa, que significa que algo está ou existe em abundância. Quero com isto dizer que se pode falar e divagar muito tempo sobre estes assuntos.

Sendo assim, quero continuar a falar-vos um pouco sobre o Enterro da Gata, as Tunas e o Traje Académico.

Como disse no episódio anterior, a Queima das Fitas é um evento que se iniciou em Coimbra mas que se espalhou pelas várias cidades universitárias de Portugal.

Uma delas, Braga, dá um nome bastante diferente e curioso a esta semana. “O Enterro da Gata”. Assim, quero contar-vos a história e a razão deste nome.

A primeira referência na imprensa relativamente ao “Enterro da Gata” reenvia-nos ao ano de 1889 e vem publicada no jornal “Aurora do Minho”. Lá se conta como um grupo de estudantes “para festejar o fim do ano e enterrar a gata” fizeram… um enterro!

A “Gata” é a representação do indesejado insucesso escolar. É, então, organizado simbolicamente um velório em que a “Gata” é transportada num caixão pelas ruas da cidade de Braga seguida por um cortejo que não pára de chorar a morte da “Gata”.

Também se organizam muitos outros eventos durante esta semana, organizados pelos estudantes. É o equivalente da Queima das Fitas noutros pontos do país.

Então e o que é a Tuna?
Talvez passeando pelas ruas do Porto, ou Coimbra ou Lisboa já tenham encontrado um grupo de estudantes vestidos ne negro à cantar canções na rua e a divertir os passantes.
A Tuna é um agrupamento musical, constituído por instrumentos de cordas e com ou sem canto.

Citando a Wikipedia, “A Tuna Académica é um agrupamento constituído por estudantes (na actualidade é essencialmente formada por alunos do ensino superior – embora nas primeiras décadas do século XX tenham sido comuns as tunas compostas por alunos de liceu, entre outros). O repertório musical das tunas é extremamente variado, indo desde adaptações de temas de autor, passando pela música erudita, pela música popular, até composições originais cuja temática incide essencialmente na vida boémia estudantil, na celebração do amor, mantendo afinidades temáticas com o fado”.

Isto leva-nos, então, ao Traje Académico. Que traje é este?
O Traje Académico é uma indumentária de cor negra envergada pelos estudantes do ensino superior, que os distingue, sem sombra de dúvidas, como tal. Se algum de vocês, ouvintes, vive ou já passou alguns dias numa cidade universitária portuguesa, com certeza que já viu um grupo de estudantes passar, pois o traje não passa despercebido.
Em altura de Semana Académica, podemos ver centenas de estudantes trajados, por dia.

Esta indumentária rígida inspira-se na indumentária dos religiosos, que eram antigamente os únicos que tinham acesso aos estudos superiores. O vestuário evoluiu com a abertura das universidades a outras classes sociais, sendo adicionados outros detalhes. No entanto, foi mantida uma certa austeridade e sobriedade no traje negro, com o intuito de evitar os excessos, a pompa, o gasto e despesas dos estudantes que cursavam a universidade.
Se antigamente o traje servia para distinguir a classe estudantil, hoje em dia fala-se na uniformização desejada pelo mesmo. Ou seja, somos todos iguais e todos valemos o mesmo. Não há marcas, não há etiquetas, não há modas, não há mais ricos nem mais pobres. Todos vestimos igual.
O uso do traje vem também com outras regras que compactuam com esta linha de pensamento. Em muitas Academias ou Faculdades é proibido usar jóias com o traje, ou maquilhagem, unhas pintadas ou outros acessórios decorativos e desnecessários.

Os trajes diferem, então, conforme a região do país.
Além do colete, bata, batina, calças ou saia, gravata ou laço, capuz ou chapéu, o estudante enverga sempre uma capa negra comprida. Por isso também os estudantes são chamados de “Capas Negras”.

(Música Capas negras de estudantes)

Uma curiosidade interessante sobre o traje, é que ele inspirou o traje utilizado na saída dos filmes Harry Potter. Se ainda não conhecem o traje académico, podem imaginar que se parece ao traje utilizado por Harry Potter.

Com o passar dos anos de curso, os estudantes muitas vezes adicionam emblemas à sua capa, cozidos à mão. Estes emblemas são símbolos, por exemplo, da escola, da Academia, do curso, da profissão, da família, dos amigos, da cidade, do clube de futebol, etc.

No último ano de curso, durante o Cortejo, os finalistas adicionam ao traje as chamadas Insígnias de finalista: uma cartola e uma bengala, nas cores do seu curso, contrastando com o negro da roupa.
No dia a dia, o traje deve andar bem vestido com cuidado.
No dia do Cortejo, os finalistas usam o traje descuidado: camisa para fora das calças ou saia, nó da gravata desfeito. Cartola e bengala durante toda a Semana Académica.
É nesta altura também que os estudantes oferecem as fitas aos amigos e família para que assinem, escrevam mensagens e devolvam. A tradição seria de depois queimar as fitas, mas, hoje em dia, muita gente as guarda para recordação.

A Pronúncia do Norte é para mim a mais bela de Portugal. Esta pronúncia conserva as marcas da origem da língua portuguesa e vamos falar um pouco de história pra tentar perceber porquê.

Primeiro, temos de localizar uma área na Europa hoje chamada de Península Ibérica, que se refere à região que hoje é ocupada por Espanha e Portugal, este extremo da Europa.

Em toda a Península Ibérica há influências pré românicas que influenciaram na construção das línguas actuais – influências do grego, celta, germânico, árabe,..

Conforme registrado pelo geógrafo grego Estrabão, na época do Imperador romano Augusto, havia na Península Ibérica uma enorme variedade de línguas. Após a ocupação Romana, com exceção da região basca, toda a Península assimilou a língua dos romanos, ou seja, o latim vulgar.
A linguagem latina foi-se misturando com os vários substratos linguísticos já existentes.

O condado Portucale, situado na região Norte do actual Portugal, foi doado pelos reis espanhois de Leão e Castela a D. Afonso, um nobre cavalheiro que os haviam ajudado a derrotar os árabes. D. Afonso casou-se com D. Teresa, filha do rei de Castela. O filho do casal, D. Afonso Henriques, lutou contra a própria Castela para tornar o seu reino independente, tornando-se assim o primeiro rei de Portugal.

No final do período medieval, os espanhóis começaram a adoptar o castelhano, língua de Castela, em vez do latim comum.

Segundo os linguistas, o português é irmão do galego, língua espanhola falada na região da Galicia, a Norte e fronteira de Portugal.

Então, para resumir, o português surge forte influência do castelhano, galedo e também do árabe.

Porque é que eu falo sobre tudo isto? Porque o desenvolvimento desta região a Norte de Portugal, influência claro o surgimento do português e desta pronúncia tão antiga.

Há alguns anos atrás viajei na região da Galiza, em Espanha e aí percebi o quão parecidos o galego e o português são.
Palavras como João ou Igreja, em galego dizem-se xoán e igrexa. Bem diferente do espanhol “iglesia” e parece aqui estar num intermédio entre o espanhol e o português.

A pronúncia do Norte é reconhecida por qualquer português por vários detalhes, mas o mais forte de todos eles é a clara confusão entre os “v” e os “b”, sendo que os primeiros são frequentemente substituídos pelos segundos.

Ora, um nortenho não diz “já vou”, diz “já bou!”!
Um nortenho não diz “és aventureira” mas sim “és abentureira”. Isto é claro e é lindo! É tão forte que podemos muita vezes encontrar coisas escritas em que as pessoas se confundem também entre o “v” e o “b”. Imaginem as crianças nos primeiros anos de escola, que há 5 anos ou mais estão acostumada a ouvir a pronúncia do Norte e que chegam à escola para descobrir que no abecedário existe a letra “V” (ahahah).

E isto é verídico e cada vez mais forte quanto mais a norte de Portugal. Por isso é tão bonito ver como claramente as línguas se difundem ao longo das regiões e vemos aqui uma aproximação do português do Norte à sua fronteira galega e depois ao castelhano ou espanhol.

A cultura do café está, claro, presente em muitos países do mundo. Portugal não é excepção, creio até que seja um muito bom exemplo.

É muito natural entrar num café ou pastelaria logo pela manhã cedo e ver várias pessoas a tomar o seu café no balcão. Antes de realmente começar o dia de trabalho, muitos portugueses começam pelo café.
Normalmente, numa pequena chávena, curto, médio ou cheio – é bom especificar.
Pedir um café em Portugal é sem sombra de dúvidas pedir um expresso. Aí não há engano. Um café cheio, não pensem, não vem numa chávena maior. É a mesma chávena de expresso mas cheia até cima. Um café curto, é cerca de 1/3 dessa mesma chávena. Podem imaginar que entra pela goela quase de uma vez, um poderoso shot de energia.

Café, bica ou cimbalino?
É o mesmo!

Uma bica é uma expressão mais utilizada em Lisboa e a Sul do país. A sua origem não é certa nem consensual, parece ter vindo do facto de antes de existirem as máquinas de café expresso, o café era passado por sacos e vertido por uma torneirinha – ou bica – para dentro de cafeteiras e servir-se à mesa.

A expressão cimbalino já é mais fácil de entender e deve-se à chegada das primeiras máquinas de café expresso a Portugal, vindas de Itália, cujo nome de marca era La Cimbali. La Cimbali criou o cimbalino que ainda hoje se ouve pedir no Porto e Norte do país.

Por gostos ou modernices, hoje podemos ser mais exigentes na hora de pedir um café.

Um café em chávena escaldada, como o próprio nome indica, pede que a chávena seja passada pelo vapor de água quente da máquina de café.

Um abatanado é a mesma medida de café de um expresso mas dissolvido numa maior quantidade de água, dentro de uma chávena maior.

Um galão é um copo alto, onde se serve o café com uma maior quantidade de leite fervido, enchendo todo o copo.

Uma meia de leite é metade café, metade leite.

Um pingo ou café pingando é, como o nome indica, um expresso com uma pinga de leite por cima.
Semelhante, o garoto, é um expresso curto completado com leite até perfazer a pequena chávena.

E um café com cheirinho? Muito pedido ao final do almoço mas também por vezes logo de manhã cedo! O cheirinho é uma pinga de aguardente que aromatiza o café no final. O tipo de aguardente vai variar conforme a região do país onde nos encontramos.

Enfim, o café ao balcão, é aquele que se toma de pé, sozinho ou acompanhado por um bolo ou pastel açucarado. Este, normalmente indica que o cliente está de passagem, mas tinha de fazer a paragem obrigatória do café.
Aqui há normalmente tempo para “dois dedos de conversa” com os empregados do estabelecimento ou, por vezes, para uma pequena discussão acesa entre amigos de café, que só se pode ter de pé.

Até aos últimos anos, com a introdução das pequenas máquinas e cápsulas de café expresso nas casas dos portugueses, estes raramente tomavam café em casa. Café era no café. Sentado, ou ao balcão.

S: Olá, bem vindos!
Como conseguem ver, hoje temos um episódio especial. É a primeira vez que eu não estou sozinha, certo?
Hoje temos connosco a Franziska. A Franziska está no processo de vir viver para Portugal, como talvez alguns se vocês também estão, e ela tem feito um longo processo de aprendizagem da Língua Portuguesa. Por isso, eu convidei a Franziska para vir fazer um episódio comigo, sim?

F: Sim, Olá!

S: Franziska, quem és tu? Queres falar um pouco sobre ti para as pessoas te conhecerem?

F: Sim, com certeza. Eu sou a Franziska, sou da Alemanha e sou escritora de alemão também. Tenho 31 anos e tenho uma cadela.

S: Recente, recentemente tu encontraste esta cadela!

F: Sim, sim, encontrei!

S: Ela já está grande?

F: Não, ela fica pequena porque é de raça pequena. Mas sim, encontrei ela também em Portugal e agora ela tem quase um ano e está com muita energia. E eu acho que é tudo.

S: É tudo? Sim, não é tudo com certeza mas é uma pequena apresentação.
Bem, eu conheço a Franziska há alguns meses e eu sei que ela quer vir para Portugal. Ela está em Portugal várias temporadas, certo? E como é que surgiu para ti esta ideia de vir para Portugal? Porque é que tu queres vir para Portugal?

F: Sim. Fui a Portugal a primeira vez em 2018 e foi por causa que eu queria fazer uma caminhada junto da costa, foi o Fisherman’s trail…?

S: Sim, o Caminho dos Pescadores.

F: Ah sim, o Caminho dos Pescadores. Queria fazer isto porque gosto de caminhar. E depois, eu fui de Lisboa para o Sul e cheguei aqui e gostei muito da zona aqui no Sul, a vida nas aldeias e a vida mais tranquila. E sim, gostei muito muito muito e queria, sim, voltar num instante. E voltei várias vezes por muitos vezes e sinto-me bem. Por isso foi um processo devagar, não sabia com certeza, rapidamente ok vou mudar-me para Portugal, mas foi passo a passo, não foi uma ideia de repente, foi uma ideia devagar…

S: …que se construiu com o tempo.
E quanto tempo é que tu demoraste desde a primeira vez que tu estiveste aqui em Vila do Bispo até voltar uma próxima vez?
Mais ou menos, se tu te lembras!

F: Sim, acho que só foram alguns meses, foi muito rápido.

S: Sim. E foi logo com Vila do Bispo que tu sentiste que gostavas de viver ou com outros lugares aqui também em Portugal?

F: Não, foi esta zona no Sul. No início fui também em Raposeira, a aldeia perto de Vila do Bispo, também gostei mas no fim fiquei aqui.

S: Sim, terminaste aqui!
E foi para ti uma decisão muito difícil? Tu disseste que foi uma decisão que não aconteceu logo rapidamente, que foi acontecendo aos poucos. Foi difícil, ou está a ser difícil tu dizeres adeus à Alemanha para vir viver para Portugal?

F: Sim, acho que não é fácil porque tu ficas com distância [“ficas distante” would be better] do teu país e da tua família também?

S: Ficas com saudades?

F: Um pouco! Ficas um pouco com saudades! Mas porque no início está [“é” would be better] tudo novo e não estás a falar a tua língua e tens uma vida muito diferente e uma cultura também. E por isso acho que não é fácil dizer ok eu vou fazer esta mudança de repente, porque é uma diferença do teus país. E por isso é mais difícil e tens…eu tinha que ir devagar, sim, também aclimatizar com a língua e a cultura e a maneira da vida e às vezes sentes-te… no início sentes-te bem e depois realizada que…

S: Apercebes-te!

F: Yeah, é diferente e já não queres ficar e por isso acho que tens que…

S: Sim, porque às vezes o início é muito…

F: Entusiástico!

S: Sim, o entusiasmo e a novidade… E tu ficas muito deslumbrada wow! Mas sim, mais tarde vêm também as dificuldades e tu vês ok aqui também existem problemas, não é tudo cor de rosa. Mas sim, eu fico surpreendida porque eu estou a ouvir-te falar agora e eu já te conheço há alguns meses e desde a primeira vez eu vi que tu consegues falar e que tu fizeste um longo percurso para aprender a língua. Mas, neste momento eu estou aqui a ouvir-te e tu dizes palavras que, sim, não são básicas e a maior parte das vezes tu utilizas tempos verbais que não são básicos, são difíceis, e tu utilizas já tudo bastante bem. Claro que eu consigo perceber que tu não és portuguesa, porque há um pequeno sotaque, uma pronúncia, algumas palavras… Claro, demoraria muitos anos até não percebermos que és expatriada. Mas, tu falas muito bem e é por isso também que eu queria convidar-te para este episódio, para passar a mensagem de que é possível! Sim, certo? É possível! Nós sabemos que o Português é muito difícil, sim, é uma língua difícil de aprender. Não é de um dia para o outro. Foi um longo percurso para a Franziska, certo? E eu queria também que tu nos explicasses como foi para ti aprender Português, quando tu começaste, como,… Como é que foi este processo?

F: Sim, eu não só comecei a aprender quando cheguei a primeira vez. Eu não cheguei aqui e tinha um curso e de repente ah eu posso falar Português agora. Eu já tinha na universidade na Alemanha… Tirei um curso?!

S: “Tirei um curso” isto é muito Português! We take the course, não sei porque mas nós _tiramos_ um curso. Sim!

F: Sim, tirei um curso de Português e foi e foi Brasileiro também, mas eles não tinham Português Europeu. Sim, tinha um curso básico e só porque eu podia fazer gratuito, eu podia fazer e não tinha que pagar, foi na Universidade e queria, ok, queria aprender uma língua e, mas toda a gente queria aprender espanhol e os cursos foram muito cheios e eu pensei ok eu acho que vou aprender outra língua e decidi Português, não sei porquê!

S: Nessa altura, não havia qualquer ideia de vir para Portugal, não?

F: Não, foi muito cedo também na minha…na Universidade, foi quando estava a estudar para o Bachelor, foi anos atrás. Eu nunca…sim, eu só decidi que eu acho que vou ver o Português e vou aprender um pouco. Mas também tinha um curso e depois fui para Inglaterra para fazer Erasmus e eles não tinham cursos gratuitos por isso não…

S: Paraste nesse momento…

F: Sim, parei e depois voltei e fiz o mesmo curso outra vez porque tudo já desapareceu.

S: Sim, esqueceste muita coisa.

F: Depois de um ano e não fazes nada, não tens o mesmo nível depois disto.

S: Sim, se não treinas, como tudo, quando tu não treinas um músculo enfraquece. A língua também
E esse primeiro curso quanto tempo é que foi?

F: Acho que foi “para” [should be replaced by durante] um semestre.

S: Semestre. Durante um semestre.

F: Sim, durante um semestre, três meses…?

S: Semestre são seis meses, mas o curso durou três, talvez.

F: Não tenho a certeza, mas foram alguns meses. E uma vez cada semana, não foi…

S: Não foi intensivo.

F: Só uma vez, uma hora e meia e foi isso.

S: E como é que tu te sentiste no final desse curso, tu sentias wow…!

F: Não, não, eu não podia falar e também entender foi difícil, mas me lembro que já tinha alguma conexão com a Língua, já fui bem durante este curso, foi fácil para mim não sei porquê. Talvez porque gosto de Línguas também. Mas, não, depois do curso não podia falar muito, quase nada. Só ler foi [better to say era] um pouco melhor.

S: E entender, mais ou menos?

F: Mais ou menos, mas também foi Brasileiro por isso é diferente também. Para mim só foi com quando eu fiz um curso intensivo em Lisboa. Para [should be replaced by durante] duas semanas…

S: Durante duas semanas!

F: Ah, durante duas semanas. Tínhamos aulas todo o dia, de manhã até à tarde, como uma escola. Foi muito intensivo e também durante este tempo eu pensava que não estava a aprender nada, porque estavam tantas coisas ao mesmo tempo. Mas, continuei. E depois do curso acho que alguma semanas depois é que…

S: Integraste as coisas….

F: Sim, senti-me um pouco mais confortável.
Senti ok eu hora tenho um novo nível
Mas também fiz este curso porque queria fazer para o meu trabalho como guia.

S: Ah sim, verdade, porque tu trabalhas te em Cabo Verde também. Ou fizeste algumas viagens em Cabo Verde.
E nesse momento tu já conseguias por em prática o teu Português, lá!

F: Sim, sim, para lá. Eu trabalhei para uma agência alemã e eles queriam que eu vou [better to say vá] para Cabo Verde e eu sabia que eles falam Português e eu já tenho os básicos, mas queria mais…mais…sim, aprender mais da língua para ir lá e falar…melhor com as pessoas.

S: Eu sei que em Portugal e, principalmente na área onde nós estamos agora, existem muitas pessoas estrangeiras, muitos expatriados e muitas pessoas vivem cá e não falam Português. Ou…algumas pessoas estão a tentar aprender, outras pessoas não querem aprender. É um processo longo e algumas pessoas “ficam pelo caminho”, quer dizer que algumas pessoas começam mas não acabam, certo? E várias pessoas que vivem cá há muitos, muitos anos. Para fiz parece-me que tu sentiste que era uma necessidade para vir viver para Portugal, tu sentias que era necessário falar português.

F: Para mim, porque já tinha este básico dos cursos eu…sim, eu já podia ouvir e entender as pessoas mas porque há muitas pessoas de outros países eu não sinto que eu tenho que aprender mais para viver ou para ficar aqui algum tempo. Porque também os Portugueses são muito amigáveis e querem ficar… simpáticos e eles podem ouvir “ok ela não está [better to say é] daqui”, eles mudam também para inglês.

S: Sim, muito rapidamente, sim.

F: Sim, muito rápido. Também, quando to estás a falar ou a responder em Português eles mudam para Inglês, porque eles sentem ah ela está [é] de outro país, e por isso…

S: Contigo também acontece muito isso? Porque tu consegues falar rapidamente e expressar-te bastante bem. Eu sei que isso acontece muito com pessoas que tentam e têm muita boa vontade e não conseguem muito bem expressar-se. Mas, contigo também acontece?

F: Acho que às vezes. E no início também, porque no início eu tinha problemas de entender ainda, porque eu aprendi em Lisboa e lá está [é] muito diferente.

S: Primeiro Brasileiro, depois em Lisboa e depois vens para o Algarve e o sotaque é muito diferente, sim.

F: Ya, senti que eu não aprendi nada, porque o dialecto é tão diferente. E no início foi assim também, porque eu não entendia este dialecto, mas também eles não querem falar mais devagar, por isso mudam para Inglês.

S: Sim, é verdade, é verdade.

F: Sim, o primeiro ano…os primeiros dois anos talvez, foi assim…que mudamos sempre para Inglês. *E só quando eu perguntei as pessoas “por favor, fala Português comigo, eu sei que está um pouco mais devagar e talvez não é tão fácil e não é tão fácil para ti também, mas é melhor” e depois eu aprendi mais*.

S: Sim, isto é uma mensagem importante, eu acho porque…eu digo isto sempre aos meus alunos “tu tens de pedir, tu tens de dizer – não, vamos falar em Português, fala mais devagar por favor – e mesmo que a pessoa te responda em Inglês, tu tentas em Português”. Tens de ser tu também. E sim, é verdade que quando as pessoas querem que a mensagem passe rápido mudamos para Inglês muito facilmente, sim.

F: E para mim também foi um hábito difícil de mudar em situações especiais, por exemplo com carros ou coisas mais técnicas, ainda estou a falar mais em inglês, porque sempre estou a pensar ah é mais fácil e acho que para algumas pessoas aqui é em todos os momentos, eles eles pensam ok eu só falo algumas palavras, é melhor…eu vou falar em Inglês.

S: Sim e quando tu queres interagir numa coisa que tu queres que fique bem. Há momentos em que é importante que a tua mensagem passe correctamente, certo? Tu não queres dizer uma coisa errada ao mecânico e depois o problema com o teu carro não fica resolvido ou ao contrário, certo?

F: Sim, são momentos assim. É mais fácil mudar para Inglês por exemplo. Mas acho que é importante no dia a dia conversar, tentar falar Português.

S: Tentar falar Português. E tu consegues todos os dias? Sentes que tens oportunidades todos os dias de de falar um bocadinho em Português, ou não?

F: Tens que procurar estas situações porque normalmente…porque há tanta tanta gente de outros países, estás a falar, por exemplo eu sou alemã e eu tenho muitos amigos da Alemanha e estamos a falar alemão, por isso… Mas tenho que ver quem eu conheço que fala Português e falar com estes Portugueses e também irmos a encontros onde as pessoas só devem falar Português.

S: Só Português é permitido!

F: Sim, também quando estamos [somos would be better] alemães mas encontramo-nos para falar Português por algum tempo, é uma hora ou não sei quê e depois voltamos.

S: Óptimo, óptimo! E isto que estivemos aqui a fazer também foi um treino! Hoje, tu também falaste Português durante algum tempo.

F: Em frente à câmara!

S: Em frente à câmara, não é fácil! Ok óptimo! Franziska, eu gostei muito que tu viesses aqui ao Podcast. No próximo episodio eu vou estar sozinha, a Franziska não vai estar aqui.

F: Oh, talvez outra vez…um dia!

S: Sim, para vermos a diferença. A Franziska vai estar super rápida, fluente em Português.
Eu tenho outra coisa preparada para vocês na próxima semana. Então, eu espero ver-vos neste Podcast daqui a uma semana.

F: Obrigada, tchau!

S: Obrigada!

Fernando Pessoa foi um dos mais importantes poetas portugueses. Viveu entre 1888 e 1935. Escreveu poemas sobre temas nacionalistas e tradicionalistas assim como sobre o seu “Eu” mais profundo, exprimindo reflexões sobre as suas inquietações, desassossegos, solidão e tédio.

Será para sempre conhecido pela sua maior particularidade poética: os heterónimos!

Os heterónimos são subdivisões de Fernando Pessoal. São o mesmo poeta e, ao mesmo tempo, outros poetas. São inteiras construções com diferentes estilos, com um nome, personalidade e vida próprios.
Através deles, Fernando Pessoa escreveu a sua poesia, expressando vários ângulos da realidade do seu tempo.
Falarei dos heterónimos mais à frente, com mais detalhe…

Fernando António Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa, no dia 13 de junho de 1888. Era filho de Joaquim de Seabra Pessoa, natural de Lisboa, que era crítico musical, e de Maria Magdalena Pinheiro Nogueira Pessoa, natural dos Açores.
A sua família paterna pertencia à nobreza e, assim, Pessoa teve uma educação rica, sendo instruído no francês, inglês e alemão. Algo extremamente aristocrático na época, além de, desde muito cedo, ter constante contacto com a leitura literária.
Ficou órfão de pai aos 5 anos de idade e, mais tarde, o seu padrasto, que era o comandante militar João Miguel Rosa, foi nomeado cônsul de Portugal em Durban, na África do Sul. Assim, Fernando Pessoa seguiu para a África do Sul, onde recebeu educação inglesa no colégio de freiras e na Durban High School.

Em 1901, escreveu os seus primeiros poemas em inglês.
Em 1902 a família voltou para Lisboa, mas em 1903, Pessoa voltou sozinho para a África do Sul para frequentar a Universidade de Capetown.
Em 1905 regressou a Lisboa e matriculou-se na Faculdade de Letras, no entanto, deixou o curso no ano seguinte, pois necessitava de mais tempo para ler e escrever. Recusou vários bons empregos e só em 1908 passou a trabalhar como tradutor autónomo em escritórios comerciais.

Em 1912, Fernando Pessoa estreou-se como crítico literário na revista “Águia”.
A partir de 1915, liderou o grupo mentor da revista “Orpheu”, entre eles, Mário de Sá-Carneiro, Raul Leal, Luís de Montalvor, Almada-Negreiros e o brasileiro Ronald de Carvalho.

A revista foi a porta-voz dos ideais de renovação futurista desejados pelo grupo, defendendo a liberdade de expressão, numa época em que Portugal atravessava uma profunda instabilidade político-social da primeira república. Nessa época, criou os seus heterônimos principais.
A revista Orpheu teve vida curta, mas enquanto durou, Fernando Pessoa publicou poemas que escandalizaram a sociedade conservadora da época.

Fernando Pessoal definiu-se como plural. Criou heterónimos. E heterónimos não são pseudónimos! Não são apenas um novo nome inventado, mas todo um mundo, contexto e personalidade.
Quero falar-vos dos 3 principais heterónimos do poeta, que foram criados para a eternidade.

O primeiro heterónimo, Alberto Caeiro, nasceu em Lisboa, a 16 de abril de 1889. Era órfão de pai e mãe e viveu quase toda a vida no campo, sob a proteção de uma tia. Era alguém com poucos estudos, só tinha a instrução primária. Escrevia objectivamente sobre a natureza, da forma simples e ingénua com que via e sentia o mundo à sua volta.
Para que possam compreender melhor a obra de Alberto Caeiro, eu quero ler-vos dois poemas escritos por ele.

“Se, depois de eu morrer…”
Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas: a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.
Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso fui o único poeta da Natureza.

“Sou um guardador de rebanhos”
Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar numa flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei da verdade e sou feliz.

O segundo heterónimo, Ricardo Reis, nasceu na cidade do Porto, a 19 de setembro de 1887. Formou-se numa escola de jesuítas e estudou medicina. Monarquista, aristócrata, exilou-se no Brasil, por não concordar com a Proclamação da República Portuguesa.
Foi profundo admirador da cultura clássica, tendo estudado latim, grego e mitologia.

Aqui fica um exemplo de um dos seus poemas:

“Para ser grande, sê inteiro”
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

O terceiro heterónimo, Álvaro de Campos, nasceu no extremo sul de Portugal, em Tavira, a 15 de outubro de 1890. É o poeta moderno, aquele que vive as ideologias do século XX. Estudou Engenharia Naval, na Escócia, mas não suportava viver confinado em escritórios.
Tem um temperamento rebelde, agressivo e os seus versos reproduzem a revolta e o inconformismo, manifestados através de uma verdadeira revolução poética.

“Ode triunfal”
À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas.

Pessoa era, de facto, um génio criativo. Os seus heterónimos, apesar de criações da sua mente, são eternamente vistos como entidades autónomas, pois expressam estilos totalmente diferentes entre si e entre Pessoa.

Nos últimos anos de sua vida, viveu cada vez mais solitário, absorvido no álcool, que anestesiava o seu sofrimento. Faleceu a 30 de Novembro de 1935, por cirrose hepática. Morreu aos 47 anos.
A maioria da sua obra foi publicada depois de morto, pois só mais tarde foi realmente reconhecido o seu valor. Em vida, além de vários poemas, publicou um único livro de poemas em português, chamado “A Mensagem”, em 1934, um ano antes da sua morte.
Para terminar, fica aqui um extracto dessa ode épica:

“Mar português”
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Vila do Bispo é uma pequena cidade no extremo sudoeste de Portugal Continental.Pitoresca, à beira mar, envolta de saudade e berço de gente humilde que por muitos anos trabalhou a sua terra e pescou do seu peixe.
Assim é a mais velha geração, que muito vemos neste lugar que ficou um pouco esquecido no tempo durante as últimas décadas.
Uma geração habituada à tranquilidade da sua terra, à intemporalidade, à praça de frutas e legumes, aos campos de favas e de trigo, às figueiras e às nespereiras que crescem selvagens em cada canto.

Vila do Bispo está ladeada a oeste e a sul pelo azul do Atlântico, que se espalha com todo o seu esplendor nas suas rochas e falésias vertiginosas. Pedras altas de calcário e argila, escarpas perigosas e dramáticas decidem a fronteira da terra e do mar. No cimo delas podemos contemplar o eterno movimento das ondas.

A oeste, o mar é mais bravo! A paisagem é mais selvagem. É tão bom chegar de manhã à praia do Castelejo, quando o sol nascente ainda está escondido por trás da rocha, a areia ainda se sente fria por baixo dos pés, o nevoeiro da manhã descobre aos poucos e poucos o horizonte e vai revelando a praia. A sombra da rocha vai se tornando cada vez mais pequena e o mar vai-se tornando mais e mais azul.
Há dias em que o som das ondas é quase ensurdecedor!

E o pôr do sol nas praias de oeste, hmmm que privilégio é ver o sol dizer adeus no mar!
Normalmente para dar lugar às noites frias e ventosas.

Vila do Bispo é um moinho de vento. Nesta pontinha de Portugal o ventos dançam fortes danças de 30 e 40km/h.

A costa Sul é mais arábica. Em dias de sol o mar é azul turquês, esmeralda, transparente. Vemos o fundo e os peixes. As rochas são amareladas e alaranjadas, áridas, secas, desérticas.

Sagres é o chamado Fim do Mundo, onde termina a cauda da Europa, do Mundo Antigo, onde saíam os barcos em busca no Novo Mundo. Mas há quem defenda que não é o Fim, mas sim o Princípio.

Deste mar ainda vivem muitos pescadores que de madrugada saem juntos a lançar as suas redes.

Nos últimos anos, Vila do Bispo tornou-se o destino de muitos jovens e famílias europeias que deixam os seus países em busca de uma nova vida nesta modesta pequena cidade.
Existe hoje um choque de culturas que ainda estão a aprender a compreender-se pacificamente dentro das suas diferenças.

Se ainda não conheces Vila do Bispo, há sempre tempo para vir sentir o cheio das flores de esteva e da maresia. Prometo que não irás embora desiludido!

Neste episódio quero falar-vos de comida, mais precisamente da gastronomia que podem encontrar no Interior Norte de Portugal. Se aí vivem, ou querem visitar, então aqui ficam alguns conselhos.

É uma região de prados, vales e montanhas, onde chove mais frequentemente, o que faz dela um lugar para boas pastagens, ou seja, para a criação de vários animais que vão fazer parte da alimentação dos que aí vivem. Assim, é difícil falar em em gastronomia do Norte sem falar em carne.
A comida tradicional desta região reflete as dificuldades vividas pelas populações locais em outros tempos. Por exemplo, os enchidos, onde tudo se aproveita dos animais; e no uso extensivo de ingredientes de grande durabilidade, como a castanha. Ou seja, isto aponta para uma vida marcada pela pobreza, em que a gestão eficiente da comida era essencial à sobrevivência.
Alguns pratos ainda muito apreciados hoje são:

O Caldo Verde
É uma sopa à base de batata, cebola de alho, ingredientes que são totalmente triturados. No final junta-se a couve galega, que pela sua cor dá o tom verde à sopa bem consistente. Estas couves devem estar cortadas em fios, característica do caldo verde. Um toque muito importante do Caldo Verde são as rodelas de chouriço, que podem ser adicionadas ao fim ou durante a cozedura.

As Papas de Sarrabulho
É um género de caldo confeccionado com um ingrediente muito específico: o sangue de porco! Claro que o sangue é cozido no caldo e dá-lhe então esta cor escura.
A esta festa juntam-se uma série de carnes: galinha, porco, salpicão, presunto e chouriço.
Não pode faltar o pão triturado ou farinha de milho e os cominhos.
As Papas de Sarrabulho são apenas confeccionadas no Inverno, uma vez que é nessa altura que se realiza a matança do porco. Para além disso, constituem um prato bastante forte, mais apetecível no tempo frio.

A Sopa de Castanhas Piladas
Como o nome indica, este é um creme ou caldo de castanhas. Mas o que são afinal castanhas piladas? São castanhas submetidas a um método tradicional. Antigamente, as castanhas eram gradualmente secas no fumo e calor da fogueira durante uns dois meses. No final deste processo de secagem, eram pisadas por homens e mulheres de forma a tirar-lhes as cascas. Assim, conservavam as castanhas por muito mais tempo.
Para cozinhar esta sopa, as castanhas são antes demolhadas na véspera.

O Caldo de Cascas
É uma sopa de batatas e feijão verde seco ao sol, misturada com os sabores do presunto, linguiça, chouriço ou salpicão. Mais um exemplo de uma sopa forte para resistir ao Inervno rigoroso da região.

O Javali no Pote
Tradicionalmente temperado no dia anterior e cozinhado num pote de ferro ao lume, com vinho branco, vinho tinto e aguardente. Normalmente acompanhado com batatas, castanhas, legumes cozidos e frutas cozidas, como a maçã, ou marmelo ou pêra bêbada.

A Feijoada à Transmontana
É uma grande panela cheia de arroz de feijão e todo o tipo de carnes cozidas junto: Orelheira de porco, salpicão, chouriço de carne, barriga de porco, entrecosto, focinho de porco, toucinho fumado e linguiça. Mais uma prova de que o animal quando morte era utilizado na sua quase totalidade.

O Cabrito Assado à Transmontana
É o cabrito temperado de véspera no vinho branco, assado no forno com batata e castanha.

A Posta à Mirandesa
A Posta à Mirandesa é um bife alto e almofadado de carne bovina da região de Mirandela, a qual dá nome a uma carne de alta qualidade pelo tipo de bovinos específicos daí. Esta carne é terna e suculenta, possui aromas e sabores que a diferenciam de outras carnes de bovino.
O segredo está também no corte do bife, que é depois grelhado e temperado com sal, alho e pimenta. Geralmente é servido mal passado, acompanhado de batata à murro e legumes salteados.

A Alheira de Mirandela
A Alheira é um enchido recheado com os mais variados ingredientes triturados e misturamos numa pasta: carne de frango, peru, porco, pão, banha, azeite… tudo se junta, triturado, para criar esta iguaria, que se acompanha de batatas cozidas e azeite.

Pudim de Castanha
Semelhante ao pudim de ovos, mas com a adição claro das castanhas cozidas trituradas. É uma sobremesa que não se encontra habitualmente noutras partes do país e é apenas deliciosa!

Toucinho do Céu de Murça
É um presente deixado pelas tradição conventual. Este bolo é feito com açúcar, amêndoa, doce de gila, ovos e farinha de trigo. Normalmente tem forma retangular e cor amarela e a textura… Hmm húmida, desfaz-se na boca. Maravilhoso!

Moscatel de Favaios
É um tipo de vinho feito de uvas Moscatel, tem um sabor floral, a citrinos como a laranja, tangerina e lima, e também a mel e caramelo. É bastante doce e aveludado.

Saramago. Uma figura controversa, adorada por uns, desprezada por outros.Faleceu com 88 anos em Junho de 2010, até então conhecido por ser um dos mais famosos escritores portugueses, tendo recebido o prémio Nobel de Literatura em 1998.

Autor de mais de 40 títulos, José Saramago nasceu em 1922, segundo ele “numa família de camponeses sem terra”. Os seus pais deram-lhe o nome de José de Sousa e o seu apelido incomum de Saramago surgiu apenas graças ao funcionário do Registo Civil que por sua própria iniciativa decidiu acrescentar a alcunha pela qual a família do seu pai era conhecida na aldeia. Saramago, um nome inconfundível para os portugueses, é também o nome de uma planta existente no território português, cujas folhas serviam de alimento aos pobres em tempos de carência.
Apenas aos 7 anos, quando teve de apresentar um documento oficial para entrar na escola primária, se descobriu o seu nome completo: José de Sousa Saramago.

Foi um óptimo aluno, mas por falta de meios os seus pais não conseguiram continuar a mantê-lo no liceu, pelo que a única alternativa foi entrar para uma escola de ensino profissional, onde aprendeu o ofício de serralheiro mecânico, arte que apenas exerceu durante 2 anos e meio numa oficina de automóveis.

Desde cedo começou a frequentar uma Bilioteca Pública de Lisboa nos horários nocturnos, guiado pela curiosidade e pela vontade de aprender, desenvolveu e apurou o seu gosto pela literatura.

Publicou o seu primeiro livro em 1947, abandonando depois a escrita por 19 anos. Apenas em 1980, já com 58 anos, publica o romance “Levantado do Chão”, que caracteriza o início da sua forma peculiar de narrar.

Em consequência da censura exercida pelo Governo português sobre o romance “O Evangelho segundo Jesus Cristo”, em 1991, impedindo a sua apresentação ao Prémio Literário Europeu sob pretexto de que o livro era ofensivo para os católicos, Saramago e a esposa de nacionalidade espanhola transferiram-se, para a ilha de Lanzarote, nas Canárias. Atitude muito criticada pelo espírito nacionalista ferido dos portugueses.

Saramago ficou conhecido por escrever livros em prosa de narrativa ficcional original e inovadora, aclamado e criticado pelos seus romances polémicos, onde sobram parábolas e metáforas que criticam ou simplesmente questionam várias questões políticas, existenciais, morais, ideológicas, sociais e religiosas.

Saramago desafia o olhar e o pensamento do leitor. Desafia-nos a ler nas entrelinhas das suas palavras, a observar o mundo e a sociedade no seu todo, a olhar de frente a podridão e a obscuridade do ser humano, vendo-o como um todo na sua perfeição e imperfeição, vendo que somos capazes do melhor e do pior. Desafia-nos a pensar criticamente sobre os grandes temas da sociedade e da Vida através de histórias ficcionais e fantasiadas que por vezes parecem não fazer qualquer sentido.

O meu livro favorito é, sem dúvida, “As Intermitências da Morte”, cuja frase inicial é seca e inesquecível e passo a citar:
“No dia seguinte ninguém morreu” – ponto final. E assim começa a sua ficção sobre o ano em que, aqui em Portugal, a Morte simplesmente deixou de exercer as suas funções de morte! Deixou de trabalhar! Deixou de matar e já mais ninguém morreu! E depois?!

Depois segue-se a descrição do estado desastroso em que ficou um país a acumular-se de vivos e sem saber o que fazer a todos aqueles que estavam às portas da morte e que ficaram fechados do lado de cá. Aqueles mortos-vivos que ficaram à espera da morte em camas de hospitais, agoniando por tempo indefinido, sem dar descanso aos familiares que já não sabem mais o que fazer com aqueles moribundos.

Segue-se a descrição de um género de máfia que surge espontaneamente na tentativa de resolver esta questão dos moribundos que nunca mais morrem. Um género de máfia que ilegal e secretamente leva estes moribundos exactamente às portas da morte, que é como quem diz, à fronteira de Portugal com Espanha, já que a morte decidiu apenas fazer greve aqui no país!
Chegados a Espanha, cruzando a fronteira, encontram o eterno repouso!

Entre varias peripécias – como o grave problema de desemprego de coveiros e a falência das agências funerárias causados pela suspensão da morte – Saramago critica a fobia social da morte versus o seu aproveitamento para negócio.

Entre o entupimento de Hospitais e Lares de Terceira Idade, Saramago critica a necessidade deste ciclo vital que é a morte, pede a sua aceitação e lança um olhar sobre a obstinação da cura e do prolongar da vida, talvez, mais além do ideal.

Entre a máfia dos transportadores de moribundos até à fronteira espanhola, Saramago apela à discussão sobre os métodos de prolongamento artificial da vida e à eutanásia como resposta a situações sofrimento prolongado.

Enfim, eu não sou uma crítica literária, mas entendo que a prosa de Saramago consegue ser belissimamente intensa e que temos de buscar nas suas entrelinhas.

Além disso, Saramago é conhecido pela sua forma peculiar de escrever extensamente grandes parágrafos sem respeito à pontuação convencional. Saramago nem sempre usa vírgulas ou pontos finais, passa do discurso indirecto para o discurso directo sem meios de pontuação e tudo isto é, claro, confuso para os leitores menos habituados. Apenas por isto é já detestado por muitos. No meu entender, Saramago não escreve apenas, ele fala os seus livros. Quando leio, eu ouço a sua voz narrar as páginas, é como uma história contada e não lida. Pois nós , também, no dia a dia quando contamos uma história em voz alta não dizemos a pontuação, apenas usamos a entoação e misturamos as nossas ideias em frases que soltamos no ar e tentamos fazer algum sentido ou sequência lógica disso. Assim são as suas páginas também.

Após a atribuição do Prémio Nobel, o autor passou a vida a viajar e a dar conferências, a participar em reuniões e congressos de carácter literário, social e político, participando principalmente em acções defensoras dos Direitos Humanos. Como o próprio disse “pela consecução de uma sociedade mais justa onde a pessoa seja prioridade absoluta.

Faleceu na Ilha de Lanzarote, junto a sua esposa Pilar, a sua maior ídola, a sua musa, a sua melhor amiga e companheira, pela qual revelava a, cada olhar, ter uma adoração imensa.

Lisboa, como sabem, é a capital de Portugal e tem hoje uma imensa variedade de restaurantes e gastronomia de toda a parte do mundo. No entanto, guarda claro, vários segredos da tipicidade portuguesa nas suas comidas e iguarias.

Uma delas é o Pastel de Belém, já bem falado no episódio 4.
Mas há mais…

As Pataniscas de Bacalhau
Claro que o bacalhau não pode faltar à mesa da nossa capital! As pataniscas são umas deliciosas e almofadas de bacalhau desfiado, envolto numa mistura de ovos, farinha, cebola e salsa. Esta mistura tem normalmente um formato achatado e arredondado e é frita e servida muitas vezes com um belo arroz de feijão ou arroz de tomate. Maravilhoso e saboroso!

A Mão de Vaca
Como o nome já indica, é cozinhada a pata da vaca, com grão-de-bico, cenouras, cebola, alhos, chouriço e louro. Ingredientes típicos e de fácil acesso, que se juntam um prato típico ainda bastante comum nas antigas tavernas lisboetas.

As Iscas com Elas
Sabem o que são iscas? Iscas são fatias de fígado bovino cortadas muito fininhas e depois levemente fritas para que não fiquem demasiado duras, pois normalmente preferem-se mais suculentas. Então o que são iscas com elas!? Elas, são as batatas cozidas que acompanham, cortadas às rodelas.

Os Ovos Verdes
Ora aqui está uma iguaria que prova como se pode fazer algo muito bom e simples, com muitos poucos ingredientes.
Os ovos são cozidos, cortados ao meio e é cuidadosamente retirada a gema do ovo com uma colher. A esta gema juntam-lhe salsa e outros condimentos, fazendo uma pasta. A razão do nome ovos verdes é então fácil de entender, é porque substituem a gema original por esta pasta esverdeada. Depois, os ovos são passados em farinha e pão ralado e fritos. Uma delícia!

As Amêijoas à Bulhão Pato
Mais um petisco simples e simplesmente maravilhoso. São as amêijoas levemente fervidas e cozinhadas em vinho branco, coentros e alho e, no final, regadas com sumo de limão. É de comer e chorar por mais!

A Fava Rica
É mais um petisco que revela os tempos difíceis de outrora, pois é feito com favas secas e pão duro. As favas demolhadas, são depois cozidas num caldo bem temperado que é vertido sobre o pão seco, misturando os sabores. O último toque são umas pequenas gotas de vinagre.

Bem, vimos que Lisboa é rica em petiscos e abriu-me o apetite de ir comer nas tavernas típicas de Lisboa.
No entanto, hoje não ficamos só pela capital…

Atravessando o rio Tejo, em direcção ao caloroso Sul, viajando pela costa litoral, chegamos ao distrito de Setúbal.
Esta região é marcada por uma grande beleza Natural. Já ouviram falar na Serra da Arrábida e no Estuário do Sado?

A Serra da Arrábida, Parque Natural, encontra-se junto ao mar e mistura vales e os planícies verdes com a cor azul do mar, formando uma paisagem absolutamente maravilhosa. É possível percorrer a Serra e fazer vários desportos de aventura. Ou apenas passear de carro e visitar as praias da Arrábida, como a Figueirinha, Galapos e o Portinho da Arrábida.

Nesta região, também existe uma grande extensão de águas de rio (o rio Sado). Este nasce perto de Beja, e percorre as planícies alentejanas ao longo de 180kms desaguando no mar junto a Setúbal. Forma-se aqui uma de área de rio, húmida e muito fértil onde a paisagem é marcada pelos arrozais, pelos ninhos de cegonhas-brancas e pelos flamingos cor-de-rosa. É uma Reserva Natural Protegida, onde podemos encontrar golfinhos livres no seu habitat e onde existem espécies animais e plantas únicas.
No litoral, podemos encontrar a Península de Tróia, conhecida pelas suas praias de areia branca e águas cristalinas.

Bem, isto tudo para apresentar a zona de Sebubal, como sendo uma zona riquíssima em termos de Natureza, onde se misturam rios, serras e mar. Mas, do que estávamos a falar mesmo era de comida.
O que é que se come em Setúbal?

O Choco Frito
Claro, Setúbal é sinónimo de choco frito!
O choco é cortado em tiras finas, passado na farinha e frito no azeite, e serve-se acompanhado de batata frita.

A Feijoada de Choco
É, como o nome indica, um preparado de feijão com choco, que se tempera com louro, chouriço, coentros, pimentos, pimentão doce e tomate.

A Caldeirada à Setubalense
Já viemos que dada a proximidade ao mar é ao rio, os setubalenses cozinham muito peixe. Está caldeirada não foge à regra e é uma caldeirada de várias peixes da nossa costa, por exemplo, o tamboril, safio, pata-roxa e raia. Os fígados do tamboril e da pata-roxa, verdadeiras relíquias, são como o caviar deste prato e não se podem desperdiçar.
É então feita uma caldeirada com batatas e os outros ingredientes típicos que há sabem, cebola, alho, louro, tomate, hortelã e coentros etc.

A Ostra do Sado
É comida ao natural, apenas o limão lhe dá um toque especial intensificando o seu sabor. Nada como comer as ostras à mão, ir espremendo o limão por cima…e prometo que vai querer lamber o dedos!

“Lisboa, menina e moça”, assim dizia o fado de Carlos do Carmo…

Como já devem saber, é a actual capital de Portugal e está localizada no litoral oeste, na região Centro do país. Uma posição com história estratégica, para abastecimento, partida e chegada de barcos que relacionam o comércio entre o Mar do Norte e o Mar Mediterrâneo, África e América.

É atravessada pelo maior rio da Península Ibérica, o rio Tejo.
Diz a lenda que a cidade de Lisboa foi fundada por Ulisses, mas já antes tinha sido ocupada por várias tribos que usufruam do Rio Tejo para comercializar com outras tribos mais no interior do país.
Os fenícios ocuparam este região e deixaram muitas marcas, uma delas, o nome. Originalmente, na língua fenícia Alis Ubbo significava “porto seguro”.

Durante a ocupação romana, a cidade chamou-se Olissipo.
Seguiram-se várias outras ocupações de outros impérios, saques, batalhas, conquistas e epidemias mortais de sarampo e varíola, que fizeram variar bastante a população desta região.

Durante o período muçulmano, a capital tinha o nome de Alusbuba. Os árabes, também conhecidos como mouros invadiram a Península Ibérica, chegaram a Lisboa numa época em que a dinâmica comercial se encontrava com graves problemas e revitalizaram as trocas com o Mediterrâneo Africano. A cidade encontrou, no século X, o seu ponto alto, tendo sido uma das maiores cidades da Europa, maior do que Londres ou Paris.
A maioria dos muçulmanos dos habitantes converteu-se à língua e religião árabe. Os árabes deixaram marcas visíveis na língua, na arquitectura, na organização e construção da cidade, na agricultura e na pesca.

A fundação do país que hoje conhecemos como Portugal começou pelo Norte, sendo o Porto a primeira cidade mais importante. Com o passar do tempo, o primeiro Rei de Portugal continuou a conquistar território. Teve, no entanto, muita dificuldade em conquistar a cidade de Lisboa. Eventualmente conseguiu em 1147.

Muitos anos de história se passaram até aos dias de hoje, claro. Lisboa sofreu vários terramotos graves que destruíram muitos edifícios e mataram várias pessoas, assim como a chegada da Peste Negra.

Lisboa levanta-se mais uma vez graças ao comércio marítimo e durante o século XV iniciam-se várias expedições para exploração de outros territórios marítimos. Encontraram-se os Açores e Madeira e estabeleceram-se novos portos. A partir daí, Lisboa tornou-se um dos pontos de partida mais importantes. Começava a chamada Era dos Descobrimentos, onde de estabeleceram caminhos marítimos desde Lisboa até os vários cantos do mundo.

Em 1755, acontece um forte terramoto na cidade de Lisboa seguido de um tsunami e vários incêndios, uma combinação mortal que destruiu grande parte da cidade.
Estima-se que este terremoto tenha atingido magnitudes de 8,7 a 9! Aconteceu no dia 1 de Novembro, dia de Todos os Santos, em que as ruas e as igrejas estavam cheias de pessoas. Houveram vários desmoronamentos e, na tentativa de se protegerem, as pessoas correram para a zona portuária, onde não havia edifícios, mas foram atingidas pelo tsunami que invadiu o porto e o centro da cidade.
Muitas pessoas fugiram então, deixando para trás uma cidade em chamas, que duraram vários dias seguidos e destruíram grande parte da cidade que não tinha sido tocada nem pelo terramoto nem pelo tsunami.

A baixa de Lisboa, junto ao rio, foi totalmente reconstruída. O Marquês de Pombal, quem encabeçou este grande projecto, ficou marcado pela sua visão futurista. Esta zona da cidade recebeu o nome de Baixa Pombalina, os seus edifícios foram uns dos primeiros a serem construidos à prova de sismos. Foram construídas ruas e avenidas largas e perpendiculares, muito diferentes do resto da cidade. Também os sistemas contra incêndios fora e dentro dos edifícios foram desenvolvidos.

Hoje conhecemos Lisboa pelos seus diferentes bairros. Bairros são divisões informais e populares, que partilham tradições semelhantes.
Cada bairro teve uma origem e uma razão para essa origem.

Alfama é o bairro mais antigo da cidade e o seu nome tem origem árabe, significando “fontes de águas quentes e boas”. Realmente nesta zona existem nascentes naturais de águas medicinais. O bairro assemelha-se a uma pequena aldeia e é marcado pelas casas de fado e pelos festejos dos Santos Populares, em Junho.

O Bairro Alto, hoje conhecido e frequentado pela população mais jovem, por ser a zona de mais bares, restaurantes e actividade nocturna, foi antes ocupado pelos principais jornais do país. Mesmo ao lado, o Chiado, era onde viviam vários jornalistas, estudantes, escritores e artistas.

O Parque das Nações é uma das zonas mais recentes da cidade e foi alto de uma rápida transformação aquando a Expo 98, altura em que foram criados vários edifícios para receber esta exposição de impacto mundial. Após a Expo 98 continuaram a ser construidos edifícios de habitação altamente modernos.

O parque de Monsanto é hoje o maior pulmão da cidade e é o maior parque florestal do país. No século XIX, era utilizado para pasto de gado, agricultura e extração de pedras. Posteriormente, foi arborizado para benefício do clima e da paisagem.

Hoje, Lisboa é uma cidade vibrante e altamente atractiva! A mistura da arquitectura rica e colorida dos bairros típicos e da baixa com a modernização de certos bairros. O desenvolvimento e ocupação artística, a gastronomia, a proximidade ao rio e ao mar, o clima ameno do litoral centro do país. Tudo isto tem precipitado a ocupação por pessoas vindas de todo o mundo e a gentrificação. Observamos uma transformação acelerada da cidade.

Lisboa, terra de rio, terra de mar, terra de fado e pastéis de Belém. Temos uma linda capital!

Como já falamos em episódios anteriores, em diferentes regiões de Portugal encontramos palavras e expressões utilizadas apenas nessas regiões e muitas vezes até desconhecidas ou incompreendidas noutras.

Hoje, vamos ver algumas palavras e expressões que se caracterizam portuenses ou tripeiras.
Vamos começar por ver algumas palavras e a tradução das mesmas:

Chuço – é um guarda chuva ou chapéu de chuva.

Briol – é o mesmo que frio.

Jeco – significa cão.

Morcão – é o mesmo que estúpido.

Estrugido – normalmente chamado de refogado, é o primeiro passo de muitos cozinhados portugueses, ou seja, colocar a cebola e o alho (e até outros ingredientes) a aquecer ou fritar levemente no azeite. Por exemplo, eu faço o estrugido com cebola e pimenta.

Alapar – sentar-se ou não sair do sítio.

Aloquete – o mesmo que cadeado.

Chaço – é um carro velho.

Fino – é uma cerveja tirada à pressão num copo de 20cL. O fino é uma palavra que consegue até levantar rivalidades entre o Norte e o Sul de Portugal. Por exemplo, no Sul não se pede um fino, pede-se uma imperial, que significa exactamente o mesmo. No entanto, aconteceu-me várias vezes pedir um fino no Sul e a pessoa não entender ou então repetir depois de mim “uma imperial”. O mesmo acontece no Norte mas ao contrário. E já agora, abro aqui um parênteses para falar do tipo de cerveja também, já que o pessoal de Norte bebe sempre Super Bock e o pessoal do Sul bebe Sagres e há aqui uma eterna rivalidade sobre qual das duas é a melhor. Eu acho que a maioria das pessoas nem sequer sente a diferença, mas enfim…

Falemos agora de algumas expressões que muito provavelmente podes ouvir no Porto:

Vai no Batalha – quando julgamos que alguém nos está a mentir ou a enganar, convidamos essa pessoa a ir no Batalha (uma conhecida e muito antiga casa de cinema da cidade), como que a dizer que essa história é mentira, como um filme no Batalha.

Vergar a mola – significa trabalhar muito.

Mandar bitaites – é o mesmo que dar uma opinião.

Dar de frosques – é o mesmo que ir embora, por exemplo, vou dar de frosques.

Andor violeta – é dizer a alguém para dar de frosques, para se ir embora, para desaparecer daqui.

Adiantar um grosso – quando digo que algo me adianta um grosso, quero dizer que não me ajuda, não me beneficia ou que não vale a pena.

Laurear a pevide – quer dizer ir passear, ir dar uma volta por aí.

Andar de cu tremido – é o mesmo que andar de carro.

Acordar de cu para o ar – significa acordar mal humorado.

Chamar o Gregório ou gregar – é o mesmo que vomitar.

Estar com o toco – isto diz-se a alguém que está mal humorado “tu hoje estás com o toco, não se pode falar contigo!”

Oh, vai me à loja! – muito usado para dizer a alguém para parar de me chatear ou para se ir embora.

Baixar a bolinha – se dizemos ou pedimos a alguém para baixar a bolinha, estamos a aconselhar essa pessoa a acalmar-se.

Fazer um basqueiro – é fazer muito barulho.

Engolir sapos – quando queremos dizer algo mas não podemos, engolimos sapos.

E por último,

Arrotar postas de pescada – é nada mais, nada menos, do que gabar-se ou exibir-se.

Se algum de vocês aí desse lado está a pensar passar pelo Porto, lembrem-se que a maioria destas expressões são ditas em contextos informais, entre amigos ou pessoas que se conhecem bem.
Se têm amigos do Porto, então talvez finalmente comecem a entender alguma coisa daquilo que estão a dizer 🙂

No ano de 2011, foi feita uma votação publica para eleger as sete maravilhas da culinária portuguesa.

Vários pratos, desde entradas, sopas, iguarias, sobremesas, petiscos, participaram neste concurso e os portugueses tiveram oportunidade de votar nos seus preferidos.

Haviam 70 candidatos, mas desses os 7 finalistas foram os seguintes:

As Alheiras de Mirandela
A alheira é um prato típico da culinária portuguesa e é designada como sendo um enchido. Um enchido é um género de alimento muito tradicional e antigo, em que são enchidas as tripas dos animais. Tripas, como quem diz, os intestinos.
A alheira de Mirandela só pode ser produzida nesta região delimitada e é usada uma raça particular de porcos, chamada de porcos Bísaros.
Este enchido é, também, fumado. No seu interior o recheio é principalmente feito com carne e gordura de porco, carne de galinha e/ou peru, pão de trigo, azeite, sal, alho e pimentão.
Outras variantes da alheira incluem o recheio com carna de vaca, salpicão e presunto.
O formato da alheira é parecido com uma ferradura. Como já disse, são enchidas as tripas do porco ou vaca e ambas as pontas são atadas juntas, dando-lhe então esta forma de ferradura.

O Queijo da Serra da Estrela
Este queijo é feito a partir do leite de ovelha, de raças específicas da região da Serra da Estrela, cuja origem e crescimento são protegidos. As ovelhas da raça Churra Mandegueira são consideradas as melhores para produzir leite
Existem menções deste queijo desde o século XII, tendo sido servido à mesa de banquetes reais.
A produção deste queijo é feita, ainda, de uma forma muito tradicional, como há centenas de anos. Os pastores conduzem os rebanhos às melhores pastagens, escolhendo cuidadosamente o tipo de ervas e plantas oferecem ao seu rebanho. Ao cair da noite, as ovelhas são ordenhadas e é preparado o leite para produzir o queijo. Esta preparação é feita através de técnicas ancestrais que passaram de geração em geração e cada queijo deve ser produzido com o leite da mesma ordenha.
Este tipo de queijo é curado e forma uma pasta amanteigada, amarelada e semi-mole, de sabor intenso.

O Caldo Verde
Depois de falar em queijo da Serra, o Caldo Verde vem mesmo a calhar! São uma óptima combinação!
O Caldo Verde é uma sopa típica da região Norte do país, feita com couve-galega, que é uma couve de folha larga verde escura que é cortada muito muito fina e que fica a boiar sobre um caldo de batatas e cebola raladas.
Tipicamente, é servido em tijelas de barro e são -lhe colocadas rodelas de chouriço ou salpicão por cima.
É simples mas delicioso e é até celebrado num festival, no terceiro fim de semana de Julho, em Irivo, no concelho de Penafiel.

A Sardinha Assada
Típica e popular, sempre uma boa companheira à mesa, de Norte a Sul do país.
Junta-se normalmente a pratos simples e é deliciosa, grande ou pequena.
A sardinha assada só por si, já é uma refeição! Mas normalmente é acompanhada, pelo menos, pelo pão, cujo tipo pode variar conforme as diferentes regiões do país. Muitas vezes acompanhada também com batatas cozidas.
É o prato principal de várias festas e celebrações durante os meses de Verão, como por exemplo, as festas dos Santos Populares.
Neste altura do ano, é comum sentir-se o cheiro da sardinha pelas ruas, a ser assada nas brasas de carvão. Junta-apenas umas pedras de sal e já está!

O Arroz de Marisco
Este prato tem a sua origem na região de Leiria, cuja costa tem uma forte tradição piscatória até aos dias de hoje.
Juntam-se vários mariscos como os camarões, as amêijoas, o mexilhão, o berbigão, sapateira e lagosta. É no saboroso caldo destes mariscos que é cozido o arroz.

O Leitão da Bairrada
Voltamos ao interior do país, à região Centro das Beiras, a Bairrada.
Mais uma vez, a raça do leitão é importante e, talvez, a mais importante seja a Bísara.
Para temperar o leitão é feito um preparado de alho, louro, sal, pimenta, toucinho e banha e, depois, o leitão é assado num espeto. A sua forma de assadura faz com que a cara fique tenra por dentro e a pele, por fora, muito estaladiça!
É apreciado quente e frio, no preto ou em sandes e, ao visitar a região da Bairrada, não faltam lugares onde provar este petisco.

O Pastel de Belém
O famoso! Fabricado na zona de Belém, em Lisboa, junto ao rio. Junto à pastelaria onde são confeccionados estes pastéis pela sua receita original, há sempre uma fila de pessoas à espera de provar este delicioso pastel acabado de sair do forno.
É a receita que originou o comum pastel de Nata que encontramos de Norte a Sul do país.

This episode doesn’t contain a transcription because it’s a conversation. BUT you can study with the subtitles on the Youtube video.

This subtitles have been reviewed and introduced by me, so that you can use them to understand the video better and learn new words, expressions and grammar.

This conversational episodes are amazing for you to learn how exactly can a Portuguese native person speak!

Hoje trago-vos um artigo sobre o Padrão dos Descobrimentos, que não fui eu que escrevi.

Este artigo foi escrito por Carlos Arruda e Larissa Pereira, um casal brasileiro que criou o blog Vida Cigana. Neste blog podem encontrar vários artigos sobre a vida nómada, dicas de viagem em diversos países e cidades do mundo, dicas sobre fotografia de viagem, entre outras coisas.

No seu blog eu encontrei então este artigo que eu gostaria de partilhar com vocês.

Ora então aqui vai ele:

Padrão dos Descobrimentos em Lisboa: um monumento também brasileiro

“Lá na beira do Rio Tejo, na freguesia de Belém, em Lisboa, encontra-se o chamado Padrão dos Descobrimentos. Como o próprio nome já diz, o monumento é uma homenagem aos tempos gloriosos de Portugal como pioneiro marítimo. Época em que o país era responsável por desbravar novas rotas pelos oceanos do mundo, por fincar sua bandeira e espalhar a língua portuguesa por terras nunca antes exploradas.

Ali, no mesmo terreno onde hoje se encontra o Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, era o local de onde as caravelas portuguesas partiam para o Novo Mundo e de onde Pedro Álvares Cabral partiu com suas caravelas em direção ao Brasil. Assim, a nós brasileiros, é praticamente impossível não se identificar com uma atração tão simbólica para a nossa história. Juntamente com a Torre de Belém e o Mosteiro dos Jerônimos, o Padrão entra no hall das atrações mais visitadas do país.

Construído às margens do Tejo pelo arquiteto Cottinelli Telmo em 1960, o Padrão dos Descobrimentos fica no mesmo local onde um monumento com a mesma temática se estendia anteriormente, mas feito com materiais perecíveis.
Quando erguido de forma permanente, com materiais duráveis, o Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, foi edificado como parte das celebrações do aniversário de 500 anos de morte do Infante D. Henrique, príncipe português e a figura mais importante para o início da expansão marítima do país.

O Padrão dos Descobrimentos que se vê hoje ergue-se soberano em seus 56 metros em uma área do Rio Tejo bastante vazia. Ali, sozinho e imponente, é bastante impactante vislumbrá-lo ao se aproximar. É enorme, e difícil entender o seu tamanho somente por fotos, que não conseguem dar a proporção real que o monumento tem diante do que o circunda.

O grande marco lisboeta tem o formato de uma caravela se lançando ao mar, com a estátua de Infante D. Henrique em sua proa, comandando a maior equipe de navegadores do mundo. Nomes como Vasco da Gama (primeiro a chegar à Índia por vias marítimas), Bartolomeu Dias (desbravador do Cabo da Boa Esperança), Fernão de Magalhães (o primeiro a cruzar o Estreito de… Magalhães!) e Pedro Álvares Cabral (esse dispensa explicações, não é?), se fazem presentes nas 32 estátuas que circundam o monumento. Até o poeta Camões também figura no “hall de famosos” devido à sua importância ao escrever o grande clássico da literatura do país, Os Lusíadas, relato sobre as vitórias marítimas portuguesas. O conjunto escultórico é obra do artista Leopoldo de Almeida.

A vista do topo do monumento permite uma visão ímpar a esse enorme mural.

Para quem só vai visitá-lo de fora, o acesso é gratuito, podendo ver todas as faces do monumento e caminhar pela rosa dos ventos. Muitas pessoas aproveitam a gratuidade para subir no mesmo patamar das estátuas gigantescas dos navegadores para tirar fotos.

Agora, caso queira ter uma vista inesquecível de Belém e do Rio Tejo, assim como da Rosa dos Ventos lá embaixo, nada melhor do que subir até o mirante em seu topo, e ver Lisboa a 56 metros de altura.
Lá do alto a vista é magnífica, sendo possível ver o Tejo desaguando no Oceano Atlântico. Tente coordenar a visita para estar lá em cima durante o pôr do sol e será inesquecível.”

Obrigada Carlos e Larissa por me deixarem partilhar o vosso artigo.
Se tiverem curiosidade sobre o blog Vida Cigana já sabem, podem procurar no Google ou então procurar o seu instagram.

A Festa dos Tabuleiros é na verdade um conjunto de vários dias de festas que se espalham ao longo de várias semanas. Têm início na Páscoa e prolongam-se até Julho.Hoje, quero dar especial destaque à Festa dos Tabuleiros que se realiza na cidade de Tomar. Esta festa acontece de 4 em 4 anos e hoje é feita em homenagem ao Espírito Santo, embora o significado original seja um género de festa das Colheitas, uma homenagem à mãe-Terra e aos produtos que se obtiveram dela nos meses de Primavera e Verão.

Tomar é uma cidade portuguesa da região Centro, distrito de Santarém.
É uma cidade fortemente marcada pela causa e expansão cristã, o que é facilmente observável através da arquitectura dos edifícios mais históricos, dos quais se destaca o Convento de Cristo.
Conhecida como a Cidade Templária, foi conquistada aos árabes e aí se instalou a Ordem do Templo ou dos Templários.

Aqui acontece, então, a Festa dos Tabuleiros.
Como já disse anteriormente, estas celebrações começam no Domingo de Páscoa. Faz-se uma procissão com coroas que é animada por música ao vivo.

Posteriormente, o Cortejo dos Rapazes é uma procissão onde apenas participam jovens crianças.

O Cortejo do Mordomo, por sua vez, acontece uma semana antes do Cortejo dos Tabuleiros. Neste, são trazidos os bois à rua e estes são a principal atenção! No passado, estes bois eram sacrificados e a sua carne era distribuída, hoje em dia, apenas desfilam pelas ruas.

No sábado seguinte, chegam as centenas de Tabuleiros, vindos de cada freguesia. São estes Tabuleiros que, no dia seguinte, Domingo, irão desfilar nas cabeças das moças e mulheres da região.

É verdade, são as mulheres que carregam estes Tabuleiros e, cada um, tem o mesmo tamanho da pessoa que o transporta! Ou seja, quanto maior a mulher, mais alto é o tabuleiro!

As mulheres vão tradicionalmente de vestido comprido branco e os Tabuleiros à cabeça são coloridos por flores de papel, espigas de milho e verduras, uma estreita ligação simbólica à Natureza, à qual se vem agradecer pelas dádivas. Igualmente, os Tabuleiros carregam 300 pães de um formato especial, fixos em 5 ou 6 canas. No topo do tabuleiro, está uma cruz de Cristo ou uma pomba do Espírito Santo. E assim, mais uma vez, se cristianizou uma tradição pagã!

No final do cortejo, vêm os carros de bois, que carregam pão, carne e vinho.
Na segunda-feira após o cortejo, o costume é mostrar a solidariedade para com os mais desfavorecidos e distribuir este pão, carne e vinho por aqueles que mais necessitam.

Braga é uma das cidades mais antigas da Europa, contando com mais de 2000 anos de história; e ao mesmo tempo, foi considerada também a mais jovem, pois apresenta a mais baixa média de idades da Europa.

Os vestígios de civilização humana em Braga começam no período Neolítico, passando pela Idade do Bronze e pela Idade do Ferro.

Antes de ser tomada pelos Romanos em, os Brácaros habitavam esta região. No ano 16 A. C., os Romanos edificam a cidade e chamam-lhe de Bracara Augusta, em homenagem ao imperador César Augusto.

Durante o domínio Romano, Bracara Augusta era a maior e mais importance cidade no território que hoje denominamos Portugal, conectando importantes rotas de viagem, tráfego e negócios.

Durante a Idade Medieval, Braga foi concedida a Bispos e Arcebispos que praticamente geriam a cidade e tinham privilégios sobre a mesma. A cidade foi também redesenhada, enchendo as suas ruas de igrejas, monumentos e edifícios religiosos, inspirados nas ruas de Roma.

Braga teve um grande peso na cristianização da Península Ibérica, eliminando vários símbolos e elementos históricos pagãos, como os dias da semana, tal como falamos noutro episódio do Podcast.

Ainda hoje, a Semana Santa, ou seja, a semana que termina com o Domingo de Páscoa, é o seu momento festivo mais importante e, nessa semana, a cidade enche-se de centenas de visitantes e turistas tanto religiosos como apenas curiosos. Os altares das igrejas, cada um evocando uma cena da paixão de Cristo, estão decorados de velas e flores. Fazem-se procissões nocturnas, faz-se a procissão do enterro do Senhor na Sexta-feira Santa e no Domingo de manhã centenas de pessoas saem em conjunto para anunciar a Ressurreição de Jesus, onde se dá a cruz a beijar, de casa em casa.

Braga, o ex-libris do estilo Barroco em Portugal, hoje, podemos dizer que é uma grande representante da região do Minho ou região minhota, delimitada a Norte pela fronteira com a Galiza e a sul pelo rio Douro.

Depois de toda apresentação, vamos então conhecer as mais típicas expressões populares que envolvem esta cidade. Então, aqui estão elas:

Mandar abaixo de Braga – Muitas vezes dizemos que fomos mandados abaixo de Braga para resumir ou dar a entender que fomos mal tratados por alguém. Esta expressão tem origem numa antiga zona imediatamente fora das muralhas da cidade que, por se encontrar num nível um pouco mais baixo, recebia todos os dejectos e resíduos. Ora, não é um lugar muito agradável para ser enviado!

És de Braga? – Quando perguntamos a alguém se é de Braga, obviamente sabendo que essa pessoa não é, imediatamente sabemos que alguma porta foi deixada aberta! Pode ser a porta da entrada, a porta do quartos, as portas dos armários… Se vejo alguém esquecer-se de uma porta aberta, eu posso dizer-lhe “Deves ser de Braga!”. A explicação mais aceite, deve-se ao facto de a porta do Arco Novo, uma das mais importantes portas da cidade, nunca ter tido na verdade nenhuma porta!

Fazer a pomba – quando um bracarense disser que fez a pomba, quer dizer que conseguiu uma boa quantia de dinheiro num curto espaço de tempo, ou por exemplo, fez um bom negócio.

Ver Braga por um canudo – esta expressão deriva do telescópio localizado no Bom Jesus de onde se pode observar a cidade. Essa expressão é usada quando não conseguimos chegar às nossas expectativas ou objectivos, quando estávamos quase, quase…

Estar varado – significa que se está espantado, admirado, perplexo.

Estar ougado – alguém que está ougado é alguém que está desejoso por algo, normalmente comida. Ficar ougado é ficar com água na boca, quando por exemplo se vê alguém a comer algo apetecível ou se fala em algo que se gosta.

Saber a pato – quando digo que esta comida me soube a pato, quero dizer que comi sem pagar, que a refeição me foi oferecida por exemplo.

Andar a vender água sem caneco – diz-se sobre alguém que fala sobre um assunto que não domina ou não entende.

É o queijo! – é o mesmo que dizer “é o maximo”, “é espetacular”, “é óptimo”!

Fazer tanta falta como uma viola num enterro – diz-se quando alguém fala ou faz alguma coisa totalmente desnecessária num determinado contexto.

És bom para ir buscar a morte – dizemos a alguém que é muito lento ou demora muito tempo a fazer algo.

Com isto, eu recomendo, caros ouvintes a visitar esta bela cidade a Norte de Portugal, a deliciar-se com a pronúncia minhota, a sua comida e a sua gente, que é normalmente muito alegre e divertida!

O dia 6 de Janeiro é conhecido como o Dia de Reis, o dia em que se celebra, segundo a tradição cristã, a visita de três Reis Magos ao menino Jesus, recém-nascido, trazendo consigo presentes: ouro, incenso e mirra.

Por todo o mundo, há várias festividades que acompanham esta data. Em Portugal, o dia em si ganha importância por ser o último dia das celebrações natalícias, onde se retiram as as iluminações, os enfeites e o presépio.

O presépio é a figuração da Natividade, ou seja, a representação da noite em que o menino Jesus nasceu, na manjedoura, na palha, entre os animais. Estas figuras são colocadas durante a época de Natal e, como eu disse, retiradas no dia de Reis.

O que também acontece de muito tradicional nesta época de início de Janeiro, são as Janeiras!
Entre o dia 1 e o dia 6 de Janeiro, pessoas em grupos saem à rua para cantar de porta em porta, para desejar um bom ano a todos e pedir as sobras das noites abastadas do Natal, como comida, presentes ou uma recompensa monetária.

Antigamente, acontecia frequentemente que os grupos de pessoas mais pobres saíssem a cantar as Janeiras nas casas das pessoas mais ricas, pedindo, por isso as sobras.
Por esta razão, a canção das Janeiras mais conhecida chama-se “Natal dos Pobres” e foi escrita pelo grande Zeca Afonso.

“Vamos cantar as janeiras
Vamos cantar as janeiras
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas solteiras
Vamos cantar orvalhadas
Vamos cantar orvalhadas
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas casadas”

Hoje em dia, as pessoas saem por vontade de cantar ou para entoar canções religiosas e fazer um peditório para a igreja da localidade.

É fácil de perceber que o nome Janeiras é inspirado no mês de Janeiro, que por sua vez vai buscar o seu nome a Janus, Deus das Portas do Céu, ou Deus dos Princípios ou das Entradas.
Janus é um Deus de duas caras, viradas para sentidos opostos, representando assim o que passou e o que está para chegar. Na prática, hoje em dia, representa a entrada num novo ano.
Os romanos festejavam esta altura do ano e pediam sorte e fortuna.

É, então, hoje, comum ouvir o bombo e as pandeiretas chegar às nossas casas no início de Janeiro, acompanhado da flauta, viola, o reco reco e outros.
No Algarve, estes cantares chamam-se Charolas, têm uma melodia bastante diferente da do Norte do país, pois são habitualmente acompanhados por castanholas!

Enquanto o grupo entoa canções natalícias, ou de boas novas, os donos das casas ouvem as canções e divertem-se.

Nesta altura do ano é comum encontrar-se em todas as pastelarias o Bolo Rei. São poucas as famílias que fazem este bolo em casa, pois é difícil de confeccionar! Mas é comum este bolo apresentar-se à mesa dos portugueses, mas apenas na época de Natal e Reis. No resto do ano, normalmente desaparece.
O Bolo Rei é uma tradição milenar e remonta mais uma vez a esta mesma época em que os romanos festejavam a Saturnália.
Tinham por hábito fazer uma torta redonda, onde escondiam uma fava seca na massa. O bolo era partilhado e, a quem saísse a fava seca, era considerado o rei da festa. A fava seca simbolizava a fecundidade.

A receita envolve, então, um bolo de massa de ovos de forma circular, cheio…mas quando digo “cheio” é realmente cheio(!) de frutos secos e frutos cristalizados em açúcar.

Adorado por alguns e nada apreciado por o outros, é verdade quem tem um sabor especial e pouco comum. Mas, ainda assim, é com certeza o Bolo da época Natalícia por excelência!

Sebastião José de Carvalho e Melo, para sempre lembrado como o Marquês de Pombal.Nasceu a 13 de Maio de 1699, em Lisboa e morreu em Pombal a 8 de Maio de 1782, viveu no período do Iluminismo. Nasceu numa família nobre e estudou Direito
Foi Secretário de Estado durante o reinado de D. José I, algo como um primeiro-ministro, e foi cabeça de várias decisões importantes.
Não ficou conhecido pela sua gestão complacente ou humanitária, mas sim pela sua forma objectiva, racional e organizativa.

Antes disso, passou vários anos em Inglaterra, como Embaixador, experiência que o moldou. Trouxe para Portugal uma forma de governar baseada na racionalidade, quis organizar toda a sociedade e o Estado e considerava que todos os interesses nacionais se resumiam ao desenvolvimento político e económico.
Recebeu, pois, grande oposição por parte de sectores mais populares e religiosos.

Em 1761, proibiu o tráfico de escravos em Portugal Continental, mas não por razões humanitárias, mas por considerar que eram mão de obra fundamental no Brasil. Além de organizar estas manobras comerciais, também beneficiava economicamente delas, pois era accionista de companhias que geriam o tráfico de milhares de humanos.

Reorganizou o exército, a marinha e a Universidade de Coimbra, a mais antiga do país. Reformou o sistema fiscal, criando inimizades com as classes mais altas e nobres.

Em 1755 enfrentou o maior desafio da sua carreira, após o grande terramoto de Lisboa.
Este terramoto teve uma magnitude estimada de 9 na Escala de Richter, destruiu por si só grande parte de Lisboa e provocou milhares de mortes, associado ao tsunami que se seguiu e aos incêndios que devastaram o resto da cidade sem parar, nos dias seguintes.
Ele teve o papel de reconstruir as partes destruídas da cidade, que foram redesenhadas com parâmetros anti-sismos, algo totalmente novo e inovador.
Criou o saneamento, ruas e avenidas organizadas perpendicularmente, muito largas, ao contrário da restante cidade.

Após o Terramoto recebeu grande poder do Rei, tornou-se uma espécie de ditador, tomando conta de várias decisões. As suas disputas com a nobreza e os seus inimigos aumentavam.

Em 1758, aconteceu aquilo que ficou conhecido como o Processo dos Távoras.
Houve uma conspiração e uma tentativa de assassinato do Rei, enquanto este regressava incógnito a casa, após visitar a sua amante.
O rei foi alvejado num braço, mas sobreviveu.
Seguiu-se um processo de acusação e perseguição, foram presas mais de mil pessoas que nunca tiveram direito a um julgamento formal. Os presos foram brutalmente torturados, sendo condenados à morte vários membros da família dos Távoras. Estes foram torturados e mortos em praça pública, em Belém, na presenta do Rei e das Cortes.
Este horrível espetáculo serviu para intimidar todos aqueles que se opusessem ao Rei.
Sebastião Melo não mostrou qualquer misericórdia, mostrou-se implacável.

O Marquês controlava sem piedade, mas sempre dependeu do apoio do Rei. Quando D. José I morreu, D. Maria I e D. Pedro III tomaram o trono. Ambos detestavam o Marquês de Pombal, retirando-lhe cargos e poder. Este, estava obrigado a manter uma distância da rainha de, pelo menos, 32km. Se a rainha saísse em viagem e tivesse de passar por perto de uma propriedade do Marquês de Pombal, este era obrigado a sair da sua própria casa.
Quase todos os seus antigos aliados o abandonaram. Tinha inimigos na nobreza e no clero. A população festejou na rua e houveram tentativas de destruição dos seus bens.
No entanto, morreu pacificamente na sua propriedade, em Pombal, deixando para trás uma época de reformas controversas.

Imagino que o título deste episódio possa ser muito estranho para vocês, pois talvez não entendam nenhuma destas palavras! Entrudo?
Caretos?
Podence?

O que é isto? Estão confusos? Pois eu imagino que muitos portugueses também não saibam do que eu quero falar aqui.

Comecemos pelo Entrudo.
A palavra Entrudo evoluiu do latim e significa Entrada. Hoje em dia, este período é mais conhecido como Carnaval. É o período que antecede a Quaresma e a Quaresma são os 40 dias que antecedem a Páscoa.

A sua origem não é totalmente certa. Ao longo da História, existem várias comemorações que se assemelham a esta época. Por exemplo, no antigo Egipto, as festas pagãs em homenagem à deusa Isis marcavam o início de um novo ciclo anual e representavam um agradecimento pelos períodos agrícolas de plantio e colheita. As cerimónias envolviam fartura de comida, bebida e libertinagem sexual.

O Entrudo foi realizado em Portugal pela primeira vez em 1252.
Os rituais eram marcados pela saída da população às ruas, personagens mascaradas, desfiles, danças e fantasias. Era uma época de total desordem social e inversão de papéis.

Eram construidos bonecos de palha e na terça-feira os bonecos eram queimados publicamente, simbolizando a queima do Entrudo, ou seja, a queima da desordem e libertinagem social. Na 4ª Feira retornava-se ao quotidiano ordenado e em equilíbrio.

Como eu disse, estes rituais têm uma origem pagã e o Cristianismo não fez mais do que tolerar estas festividades e incluí-las no seu propósito religioso, dando origem ao Carnaval.
Pensa-se que a origem da palavra “Carnaval” está relacionada com a junção de duas palavras latinas: “carnis” que significa carne e “valles” que significa prazeres. Esta junção poderia, então, significar que esta era uma época de excessos e prazeres ou uma despedida da carne, pois na Quaresma a população deveria iniciar o jejum ou abstinência da carne.

Durante os três dias que antecediam este período de penitência e privação, as pessoas uniam-se e organizavam uma grande festa que decorria nos chamados “dias gordos”, principalmente na terça-feira.
Nesta altura, o povo trocava presentes, comia e bebia de manhã à noite e elegia um rei por brincadeira.

O Carnaval português sempre teve características muito peculiares associadas a actos travessos e malvados.
Pelas ruas generalizavam-se lutas de ovos, farinha, gesso, água mal cheirosa e faziam-se tubos cilíndricos de onde se soprava com violência e se atirava milho e feijão ao ar e sobre as cabeças da gente.

Isto parece um pouco familiar aos tempos do Carnaval português de hoje. Costumamos dizer que “É Carnaval, ninguém leva a mal” e temos a permissão para fazer muitas travessuras e brincadeiras em praça pública. Os tubos cilíndricos transformaram-se em apitos, e o milho e o feijão transformaram-se em confettis.
Hoje, organizam-se desfiles temáticos de crítica à sociedade e as pessoas continuam a sair à rua e a aproveitar a oportunidade para se mascarar, brincar e divertir-se. A tradição de eleger o Rei do Carnaval ainda se mantém!

O Carnaval foi exportado para o Brasil, quando este país era colonia de Portugal. Pela influência das suas gentes e cultura, o Carnaval no Brasil modificou-se ao longo dos tempos numa grande festa musical de samba, de desfiles de roupas excéntricas e exuberantes. O samba foi depois importado para o nosso Carnaval também, que hoje alegra os nossos desfiles em várias zonas do país.

Em Podence, terra de Trás-os-Montes, mantém se uma tradição muito antiga e curiosa. Este ritual realiza-se nos dias em que hoje reconhecemos como época de Carnaval.
Era realizado nesta época do ano, entre o final do Inverno e o Início da Primavera, para dizer adeus ao longo período de mau tempo e para receber o bom tempo com prosperidade e colheitas abundantes.

Celebra-se então o Carnaval de Podence ou o Entrudo Chocalheiro.
A característica principal deste ritual é a saída à rua de homens e rapazes da terra, mascarados de uma forma muito especial.
Vestem fatos compridos, que cobrem todo corpo feitos, feitos de franjas de lã de ovelha (tradicionalmente), tingidos de cor vermelha, amarela e verde. A técnica antiga deste fato feito de forma artesanal, unia saberes e artes de várias pessoas da região.
Usam, também, máscaras que cobrem toda a cara. Podem ser feitos de chapa ou couro e são pintadas de vermelho.
Por último, usam duas tiras de campainhas que cruzam sobre o peito e as costas, formando um X. À cintura, usam um cinto de chocalhos.

Vestidos desta forma, os homens saem à rua e fazem muito barulho, correm pelas ruas, saltam, gritam e brincam com os passantes. Hoje em dia, a função destes homens é causar a brincadeira e o convívio entre pessoas e vizinhos, homens ou mulheres, mas o significado inicial deste comportamento era um pouco diferente antigamente e é trazido pela memória das pessoas mais antigas da região.
Antigamente, os Caretos eram apenas homens solteiros e estes dirigiam-se às mulheres solteiras, para as chocalhar. E o que é isto de chocalhar? Literalmente, é fazer abanar os chocalhos, que são uma espécie de sinos que trazem à cintura. Para chocalhar, estes tinham que abanar a cintura, num género de dança que se assemelha ao acto sexual. A sua missão era sugestionar, aliciar e também chamar a fertilidade das mulheres e dos campos, das plantas, das colheitas. Um pedido de fertilidade no novo ciclo que está a começar, a Primavera, a primeira época de luz, calor e crescimento após o Inverno rigoroso do Norte.

Hoje, os caretos são de idade e estado civil variado, havendo participação dos mais pequenos, a que se chamam facanitos e até de raparigas envergando fatos de careto dos pais, tios ou irmãos.
O comportamento destas figuras também é, hoje em dia, mais moderado. Antigamente, era costume subirem às varandas, entrar pelas casas a dentro e deixar a aldeia “virada ao contrário”! Eram figuras misteriosas e ligadas ao Diabo. Eram verdadeiros Diabos à solta…

Mas os Caretos de Podence não são os únicos caretos da região de Trás-os-Montes. Nem é o Entrudo a única festa onde se utilizam máscaras e trajes! Estes estão presentes em várias festas que se misturam entre o paganismo e o cristianismo, entre o Natal, Ano Novo, Dias de Reis, Carnaval, entre outros…

E se ainda restarem curiosidades sobre os caretas e sobre a máscara, eu aconselho a visitarem o Museu Ibérico da Máscara e do Traje. Também podem consultar o website. Poderão ver que há inúmeras festas em toda a Região de Trás-os-Montes e Zamora, no Norte de Espanha, em que se utilizam máscaras e trajes que simbolizam frequentemente demónios. Nestas tradições podemos ver que os rituais pagãos dos nossos antepassados foram passados de geração em geração durante mais de um milénio e, hoje em dia ainda são celebrados em algumas povoações mais antigas. Estes rituais são místicos e misteriosos…

Este museu concentra um grande património cultural e através dele é possível conhecer os vários rituais das Festas de Inverno e Carnaval.

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Natal pode ser sinónimo de muitas coisas, uma delas é: comida!

Neste dia, a mesa fica cheia! De Norte a Sul do país, os cozinheiros e as cozinheiras da casa, esforçam-se por levar à mesa o melhor que sabem… Desde as entradas, ao prato principal, até às sobremesas!
Dependendo das regiões do país, a ementa de Natal pode variar bastante, desde o bacalhau, ao peru ou ao polvo.

Mas hoje, não quero falar do prato principal, quero mesmo é falar da minha parte preferida… Os doces de Natal!

Se vocês vivem em Portugal, ou se, pelo menos, conhecem a nossa gastronomia, então já sabem que os nossos doces são muito à base de ovos e açúcar, de diferentes formas. Os doces de Natal não são exceção.

Neste episódio, eu tentei juntar exemplos de doces e sobremesas de Natal, do Norte a Sul do país, para que vocês também possam ver as diferenças de região para região.

Uma sobremesa tradicional da região do Minho são os Formigos. Também conhecidos como Mexidos, são feitos com pedacinhos de pão duro humedecido num caldo de água ou de leite, açúcar, mel e canela. Por vezes, é-lhes acrescentado um cálice de vinho do Porto e frutos secos, que lhe dão um toque crocante e delicioso.

De Norte a Sul do país, há pratos que são comuns, transversais, que aparecem em quase todas as mesas. Um deles é a Aletria.
Estreitamente tradicional, é feita com uma massa de fios muito, muito finos e compridos, como cabelos. Chamamos-lhe massa de aletria, mas no seu nome original em italiano, chama-se vermicelli. Parece spaghetti, mas muito mais fino!
É, então, com esta mass que fazemos a aletria, que vai ser cozida em água e depois adicionada a um caldo de leite, açúcar, canela e casca de limão, que ferve muito lentamente. No final, são adicionadas as gemas de ovo batidas.
A aletria pode ficar mais líquida para comer com a colher, ou então, pode ficar mais rija e seca, para ser comida com faca e garfo. De qualquer das formas, tem uma textura muito cremosa e uma cor amarelo claro.
Normalmente enfeita-se com desenhos feitos com canela em pó.
Pensa-se que a origem desta sobremesa seja árabe, aquando a sua ocupação de Portugal. O próprio nome surge do árabe “al itriyaa”, que corresponde às palavras “os fios”.

Outra sobremesa transversal a todo o país são as Rabanadas. No entanto, normalmente no Sul do país, estas são conhecidas como Fatias Douradas.
É muito semelhante à receita francesa de Pain Perdu, no entanto há vestígios de receitas gregas e romanas do século V.
É feita com pão que não é fresco, ou seja, que já tem alguns dias e está um pouco mais duro. Este pão é mergulhado no leite quente com açúcar e canela. Também há quem junte um pouco de vinho do Porto. Depois das fatias do pão estarem bem molhadas do leite, são passadas por ovo batido e depois fritas. No final, podemos polvilhar com mais açúcar e canela.

Normalmente quando falamos de Rabanadas, pensamos nas Rabanadas de Leite, mas também há muita gente que faça rabanadas de vinho, normalmente de vinho tinto ou vinho do Porto, ambas com sabores muito diferentes.
Na receita das Rabanadas de Vinho, o vinho substitui o leite. Este é fervido também com açúcar e canela e as fatias de pão são igualmente mergulhadas, passadas no ovo e depois fritas.

Para ambas as Rabanadas de Leite ou Mel, existem pequenas variações, por exemplo, há quem adicione uma calda de mel e vinho do Porto por cima, nozes, passas e outros frutos secos.

As Filhós ou Sonhos, muitas vezes confundidas ou tidas como sendo a mesma coisa, na verdade a diferença está na massa. A dos Sonhos é mais leve e fofa e a das Filhós é mais compacta e consistente.
A tradicional filhó é uma combinação de farinha de trigo, fermento, ovos e azeite, que é deixada a levedar duas horas e depois frita em óleo ou azeite bem quente.
A receita tradicional dos sonhos leva menos farinha de trigo e menos ovos, não tem fermento e leva manteiga. Depois de feita a massa os sonhos são fritos na hora. Devem ficar leves e ocos. No fim, podem polvilhar-se com açúcar e canela, embora nalgumas variantes se cubram com uma calda de açúcar ou de vinho do Porto.
Tanto as Filhós como os Sonhos têm um formato arredondado e podem ser simples ou recheadas, normalmente com abóbora.

Os Bilharacos são um doce tradicional da região de Aveiro. São uma espécie de mistura entre a Filhós e os Sonhos, mas não é nem um nem outro, pois na receita está um importante detalhe no momento de escorrer a abóbora, que faz a diferença. A abóbora é cozida com um pouquinho de sal e depois é colocada num pano de linho ou algodão e é deixada a escorrer de um dia para o outro. No dia seguinte, a abóbora é colocada num alguidar onde são adicionados os ovos, a farinha, açúcar, um cálice de aguardente e raspa de limão.
Esta mistura é depois transformada em pequenas bolas, frita e no final polvilhada com açúcar e canela.

Das regiões do Alentejo e Algarve chegam-nos as Azevias.
São achatadas e tem a forms de um meio círculo. São feitas de massa de farinha e manteiga e recheadas com uma pasta doce, que pode variar entre grão de bico, abóbora ou batata doce. Esta pasta é feita com açúcar, gemas de ovos, canela e, por vezes, frutos secos.
As Azevias são depois fritas.

Mas do Alentejo não nos chegam apenas as Azevias. Um doce bastante típico desta região são os Coscorões.
São feitos à base de uma massa de farinha de trigo, ovos, sumo de laranja e azeite. Esta massa é depois cortada em rectângulos finos e depois frita. Não leva recheio e fica muito estaladiça.

As Broas de Natal são pequenos bolos que parecem pequenos paezinhos e são feitas de puré de bata doce, farinha de milho, açúcar, canela, erva-doce e é gema de ovo.
Esta massa é normalmente preparada à noite e deixada a repousar até à manhã seguinte. Depois as broas são moldadas, pinceladas com gema de ovo e são levadas ao forno.

O Bolo Rei é uma figura indispensável à mesa dos portugueses, na ceia de Natal. O seu nome é em homenagem aos três reis magos.
Têm a forma de uma coroa, ou seja, é redondo e tem um buraco no centro. É feito de uma massa fofa de farinha e ovos, misturada com licores ou vinhos, frutos secos, passas e frutas cristalizadas.
Como tradição, costumava colocar-se uma fava misturada na massa do bolo. A fava iría, depois, sair por sorte a alguém. Quem encontrasse esse brinde era considerado o Rei, ou era considerado bem afortunado no próximo ano.
Apesar deste bolo estar ligado ao dia de Reis, que se celebra a 6 de Janeiro, ele está normalmente presente ao longo da época Natalícia, bem como na ceia de Natal.

Bem, termino com aquele que é o meu doce de Natal preferido!
É muito simples e muito tradicional. O Leite Creme de Natal!
Tal como o nome indica, ele tem uma consistência que fica entre leitosa e cremosa e é comido com a colher.
É feito à base de leite, açúcar, canela, casca de limão, vinho do Porto e amido de milho. Tudo isto é aquecido no lume muito lentamente e depois juntam-se as gemas de ovos. Fica um creme homogéneo que se desfaz na boca.
Para terminar, coloca-se o creme numa travessa pouco profunda e larga. Por cima, polvilha-se com açúcar. Estes grãos de açúcar e a superfície do creme, vão ser queimados com um ferro em brasa, de forma a torrar ligeiramente o topo do creme.
Assim, o creme permanece cremoso por baixo e com uma fina crosta ligeiramente estaladiça e caramelizada por cima. Muito bom!

Bem, hoje ficaram então com uma ideia dos vários doces que podem encontrar à mesa das famílias portuguesas, caso passem o Natal em casa de alguma, já sabem um pouco mais sobre o que vos espera no final da refeição.

Normalmente, as mesas também estão preenchidas com vários frutos secos ou frutas da época, vinho, vinho do Porto, licores ou aguardentes.

Olá a todos, bom ano! Bom ano novo! Espero que a vossa entrada no ano 2024 tenha sido boa! Se foi a festejar, se foi com a família, se foi com muitos amigos, se foi com poucos amigos, se foi a dormir ou a jogar jogos de tabuleiro em pijama, não importa… o que importa é que tenha acontecido de uma forma boa para vocês.

A minha entrada em 2024 foi boa e eu começo o ano cheia de sonhos, desejos e expectativas que eu gostaria de realizar neste próximo ano! É uma boa sensação, pois eu gosto de ter projectos e trabalhar sobre esses projectos, de sonhar e de visualizar.

Como sabem, eu decidi fazer este intervalo no formato inicial do Podcast para poder preparar uma nova temporada de Listen & Learn, tal qual como vocês o conheceram até agora, mas eu não poderia deixar de continuar a entregar-vos conteúdo para vos ajudar no vosso processo de aprendizagem da Língua Portuguesa.

Aos poucos vocês vão entender melhor sobre este novo formato do Podcast. A ideia é que vocês vão continuar a ter episódios no Spotify totalmente falados em Português, de uma forma muito clara e a grande missão é trabalhar no vosso desenvolvimento e na vossa mindset. Concretamente, vocês terão episódios que vão trabalhar desde as coisas mais fundamentais e estruturais, como a gramática, até às coisas mais avançadas, como por exemplo a Pronúncia Perfeita.

Eu quero que vocês perceberam que todos estes episódios até agora, desde o episódio número um, foram como aulas de Pronúncia. Cada um de vocês está a retirar, certamente, aquilo que mais precisa neste momento: vocabulário, verbos, saber mais sobre a cultura…o que quer que seja! Mas sem dúvida, cada vez que vocês estão a ouvir um episódio com atenção, vocês estão a trabalhar na vossa pronúncia!

Se ainda não entenderam, para mim é muito importante trabalhar para fazer desmoronar a barreira da língua entre portugueses e estrangeiros ou expats em Portugal, que vivem ou estão no processo de vir viver para Portugal e querem estabelecer-se aqui nos próximos anos. Para mim é muito importante facilitar a comunicação entre estes dois grupos de pessoas, para que haja uma melhor compreensão de ambas as partes, para que ambas as culturas se possam misturar de uma forma harmoniosa e possam aprender uma com a outra.

Como sabem, eu também dou aulas de Português para estrangeiros, são aulas presenciais em Vila do Bispo, no Algarve, no Sul de Portugal, onde eu vivo actualmente. Todas as semanas eu encontro-me com várias pessoas que estão em diferentes níveis e diferentes fases no seu processo de aprender uma língua estrangeira que, na maior parte dos casos, é uma língua com uma estrutura e regras muito, muito, muito diferentes da sua língua materna. A maioria dos meus alunos têm como língua materna o Alemão ou o Inglês.

Apesar de todos serem pessoas diferentes, com origens diferentes, há muitas frases e problemas em comum neste contexto. Há várias frases que eu continuo a ouvir repetidamente. Não vou falar sobre todas elas hoje, mas vou centrar-me em uma dificuldade comum: eu ouço muitas vezes “quando eu abro a boca para tentar falar, eu esqueço todas as palavras que sei, eu bloqueio!”

Há uma grande verdade por trás deste tipo de frases: há insegurança e há medo de falhar.

Ora, eu não sou coach e não quero fazer de conta que sou coach, mas hoje eu quero desconstruir isto com vocês e dar-vos algumas dicas sobre como ultrapassar isto.

Falar em frente de alguém é por si só uma grande exposição. Mesmo na nossa língua materna, às vezes bloqueamos ao falar de alguns assuntos porque nos sentimos demasiado expostos, porque temos alguém a olhar para nós, à espera de que as palavras saiam da nossa boca, com um sentido lógico e correcto. Às vezes, parece que demoramos uma eternidade para verbalizar aquilo em que estamos a pensar e que a pessoa à nossa frente já está a ficar aborrecida e sem paciência.

Vocês têm de ser objectivos sobre o nível em que vocês estão. Se o vosso nível ainda não vos permite ter uma pequena conversa espontânea com uma pessoa na rua, então, tudo bem, há outras coisas que vocês podem fazer. Por exemplo, num nível mais básico o melhor que vocês podem fazer é ouvir frases e repetir essas frases. Falar sozinho é um óptimo, óptimo treino! Jogar com as palavras que vocês conhecem até agora e imaginar diálogos na vossa cabeça!

Eu comecei a aprender francês assim: eu estudava claro e depois eu conversava sozinha, eu imaginava uma situação, eu respondi a perguntava e geria o diálogo com aquilo que eu conseguia já dizer.

Além de estudar a gramática e a estrutura da língua vocês têm também, desde o início, de ouvir! Eu já disse isto várias vezes e vou continuar a repetir. Desde o nível mais básico vocês têm de ouvir e tentar captar o máximo possível e aqui, também, o melhor é ouvir e ler ao mesmo tempo, ou seja, ter legendas ou transcrições daquilo que estão a ouvir. Porque só quando vocês conseguem fazer a ligação entre a palavra visual e o som dessa palavra é que vocês vão ser capazes de memorizar palavras infinitamente e entender que palavras estão a sair da boca das pessoas. Igualmente serão muito mais capazes de falar da forma mais correcta e de aprender a pronúncia Portuguesa.

O erro mais comum aqui é estudar gramática, gramática, gramática, e mais gramática, exercícios sem fim, conhecer toda a estrutura e não ter uma ideia definida de como é que essa estrutura soa na realidade. Ora, a maioria de vocês está a aprender Português para poder falar em Português, não apensas para saber ler ou escrever mensagens no telemóvel. Então, treinar o ouvido, entrar em imersão é a forma de aprender!

E muitos dizem: ah, mas eu não tenho com quem falar, eu não tenho muitos amigos portugueses ou eu não vivo em Portugal. Hoje em dia, todos os nossos recursos estão online e há imensos podcasts que vocês podem ouvir para estar em contacto diário com o Português. E aqui está o outro ponto onde eu quero chegar hoje: contacto diário.

Muitos de vocês já entenderam que têm de ouvir Português, mas se calhar ainda não entenderam o quanto têm de o fazer. O ideal, desde o início em que estão a aprender Português é ouvir diariamente, mesmo que sejam 10-20 minutos, mas com atenção. É melhor do que ouvir rádio uma tarde inteira sem colocar realmente atenção naquilo que estão a ouvir. É normal que, no início a duração da vossa atenção seja mais baixa e, quanto mais sabem e aprendem, conseguem ouvir durante mais tempo e com mais interesse.

No início, têm de procurar coisas muito básicas e, aqui vai outra dica muito importante, repetir várias vezes aquilo que estão a ouvir. Diálogos e interacções podem ajudar-vos nas vossas interacções do dia-a-dia. Em situações do dia-a-dia é comum repetirmos as mesmas coisas e as mesmas palavras e não há problema nenhum nisso: quando entramos ou saímos de um lugar, quando encontramos alguém, quando precisamos de comprar alguma coisa… muitas as vezes as palavras que precisamos de utilizar são as mesmas e assim, com estas pequenas coisas, começamos a treinar.

Por isso, quero reforçar que é importante ouvir activamente, com atenção, diariamente, principalmente se no vosso dia-a-dia há outra língua predominante.

Voltando à parte da exposição, como falava antes, eu sei que isto é mais problemático para umas pessoas do que para outras. Eu vejo isto muito claramente com os meus próprios alunos: há pessoas que têm muito pouca noção da estrutura da língua, que dizem muitas coisas erradas e mesmo assim essas pessoas abrem a boca e falam aquilo que conseguem e mesmo num português um pouco desarticulado conseguem fazer a sua mensagem passar e ser compreendidos. Este tipo de pessoas não está preocupado se parece ridículo, ou estúpido, ou se vai dizer coisas erradas. Este tipo de pessoas não tem tanto medo da exposição e parte do princípio em que está a fazer o seu melhor para falar numa língua que não é a dele! Não tem medo do ridículo, encara o desafio como uma coisa boa, como um jogo.

Além disso, o que faz com que este tipo de pessoas comece a falar mais e mais cedo, não é só o não ter medo de abrir a boca e falar, mas é o facto de elas se exporem muito, muito mais à Língua Portuguesa. São sempre estas pessoas que fazem um maior esforço por ouvir podcasts, música, rádio, as conversas da mesa ao lado, as conversas entre os vizinhos, são pessoas que têm os ouvidos abertos quando estão, por exemplo, na fila do supermercado.

Eu quero falar mais sobre a exposição ao ridículo e fazer-vos entender que vocês não são ridículos quando estão a tentar falar numa língua que não dominam e quero continuar com este tema no próximo episódio.

Convido-vos também a seguir as minhas mini-aulas no Instagram ou no Tik Tok e a reverem os episódios anteriores de Listen & Learn no Youtube.

Para aqueles que querem saber mais sobre o meu trabalho podem ver o meu website www.withsilvia.com.

E para aqueles que querem aprender ou melhorar o seu Português comigo, eu vou abrir Cursos de Português Online em 2024, por isso apenas estejam atentos ou podem registar o vosso e-mail no meu website para serem os primeiros a saber quando os cursos estiverem prontos.

Ok, sem mais, envio a todos um forte abraço e um grande beijinho.

Até ao próximo episódio. Tchau!

Olá e bem-vindos a mais um episódio de Listen & Learn.

Hoje começo com uma pergunta bastante curta e bastante directa para vocês: Tu também tens medo de ser ridículo quando falas em Portugês?

E eu digo a palavra “também” porque há muita gente que tem medo do ridículo quando está a falar ou a tentar falar em Português. Muitas pessoas me dizem isto.

Eu repito a minha pergunta, tu também tens medo de ser ridículo quando falas em Português?

Qual é a primeira resposta que vem à tua cabeça? Responde com sinceridade!

Então e porquê?

Entre os meus alunos eu consigo ver claramente que há dois grupos de pessoas: aqueles que têm medo da exposição ao ridículo e aqueles que não têm.

Ok, talvez, de uma certa forma, até todos tenham até algum certo nível medo da exposição ao ridículo, mas há um grupo de pessoas que consegue ultrapassar isso por si só, muito rapidamente e consegue controlar esse medo ou pô-lo de lado.

E há outro grupo de pessoas que não consegue fazer isso tão rapidamente ou que fica bloqueado nesses momentos de exposição.

Se tu sentes que ficas bloqueado quando tentas falar Português então este episódio é especialmente para ti.

Vamos tentar racionalizar aqui as coisas.

Afinal, o que é ser ridículo?

Nós sentimo-nos ridículos quando não atingimos ou seguimos as expectativas que nós ou a sociedade exige para nós. Ou quando fazemos ou dizemos alguma coisa que os outros não aprovam. Ou quando vestimos uma roupa mais extravagante e alguém olha para nós com um olhar reprovador. Ou quando dizemos alguma coisa errada e alguém nos faz sentir mal por isso, ou faz-nos sentir menos inteligente, ou menos capaz. Quando, na verdade, todos dizemos coisas erradas muitas vezes ao longo das nossas vidas e normalmente, ninguém morre por causa disso!

Quando somos crianças e estamos no processo de aprender a nossa língua materna dizemos muitas vezes coisas erradas, trocamos letras, sílabas ou palavras e todos à nossa volta acham muito engraçado e muito fofas essas coisas engraçadas que dizemos e ninguém nos “aponta o dedo” com crítica. É possível que os nossos pais tenham dado muitas gargalhadas com coisas que nós dissemos enquanto crianças, mas eles não nos acharam ridículos por isso, porque eles sabiam que nós estávamos a aprender e não era possível sabermos tudo. Eles corrigiram-nos para nos ajuda a aprender, não para nos criticar.

Eu lembro-me que quando era criança eu dizia sempre “gomitar” em vez de “vomitar” e quando descobri como realmente se dizia e escrevia a palavra eu pensei “mas durante tanto tempo eu disse esta palavra errada, que ridículo!”.

Hoje, enquanto adultos normalmente temos menos tolerância para os nossos erros, mas temos de pensar que ao falarmos uma língua estrangeira, principalmente no início, nós não temos as mesmas competências como na nossa língua materna. A nossa língua materna nós já falamos há dezenas de anos e esta língua estrangeira talvez vocês só falam ou aprendem há alguns meses ou poucos anos.

É possível que algumas pessoas, no mesmo espaço de tempo, já falem melhor do que outras, mas isso não é problema nenhum! Não temos de comparar-nos, cada um tem o seu ritmo.

Mas há uma coisa muito importante em que temos de trabalhar: controlar o nosso medo de expor-nos ao ridículo!

O ridículo não é um bicho mau, não nos morde, não nos faz mal!

Quando tentas falar em Português e ainda não tens muita prática, é normal dizeres coisas erradas, mas está tudo bem, não há problema! O importante é perceber se a mensagem que tu querias passar passou correctamente e para isso tu podes sempre perguntar à pessoa se entendeu, ou o que é que entendeu e assim podes confirmar.

A pessoa pode corrigir-te e isso também não é um problema. Aliás, normalmente quando somos corrigidos nestas situações temos tendência a não esquecer, por estarmos a experimentar emocionalmente essa situação, por vezes ficámos envergonhados ou até nos rimos.

Por isso é que é óptimo tentar e errar, é uma forma de aprender muito poderosa!

E quando dizes alguma coisa errada e a pessoa se ri? O que fazer? Simplesmente perguntar porque é que a pessoa se ri, ela vai explicar-te e tu vais aprender. Mais nada!

E quando dizes alguma coisa errada e só te apercebes depois, porque ninguém te corrigiu?

Isso aconteceu comigo uma vez em francês, em vez de dizer à pessoa para se calar, disse para ela mamar, o que pode ser um cariz muito sexual claro. Eu vi que a pessoa olhou para mim de uma forma muito estranha mas só dias mais tarde percebi porquê. Claro que eu me senti ridícula nesse momento e envergonhada, mas o que é que eu podia fazer? Rapidamente eu pensei: ela sabe que eu sou estrangeira e sabe que por vezes digo coisas erradas e pronto, tudo bem!

A maioria das pessoas vai achar-te muito corajosa por estares a falar ou a aprender Português.

A maioria das pessoas em Portugal fica muito feliz por estares a fazer esse esforço.

Se alguém te acha ridículo o problema é dessa pessoa, não é teu! Tu estás a fazer o teu melhor e a verdade é que vais dizer muitas coisas erradas durante muito tempo, até seres fluente. E mesmo aí é possível errar.

As 7 coisas que eu quero que tu memorizes neste episódio são:

Começa a falar logo desde o início que começas a aprender Português. Aquelas frases básicas tipo “olá, boa tarde, como estás, hoje está sol, está calor, está a chover, quando custa isto, quero pagar com dinheiro, muito obrigada, até amanhã, boa semana, etc etc”. Repete as mesmas coisas em situações diferentes e utiliza o que já sabes.
Aproveita todas as boas situações para treinar falar Português. Pode ser que algumas situações não sejam muito boas, por exemplo, se ainda estás num nível muito baixo e queres tentar falar com a funcionária da loja, mas há uma fila enorme atrás de ti, é possível que a funcionária não vá ter a paciência necessária e vai falar contigo em inglês ou não vai entrar na conversa. Então, escolhe momentos e pessoas onde exista calma e tempo.
As pessoas estão a olhar para ti e isso pode parecer intimidante eu sei, mas elas só estão concentradas e à espera, elas não te estão a julgar. Não deixes a tua cabeça começar a pensar “ah, estou a demorar muito, tenho de falar mais depressa, oops não sei esta palavra, vou fazer figura de ridículo”. Se é uma boa situação para treinar falar Português, não a deixes passar, aproveita-a! Toma o teu tempo, utiliza as mãos e a tua expressão corporal e por vezes até uma palavra na tua língua materna ou em inglês, pode ser que a pessoa entenda e traduz-te para Português.
Regularidade. Quanto mais vezes te expuseres a essa situação difícil, mais fácil ela vai ficar. Até que chega um momento em que já não é uma situação difícil!
Começa por falar com uma pessoa de cada vez apenas, entrar numa conversa de grupo é muito muito mais difícil, é outro nível e se ainda não estiveres preparado isso pode frustrar-te. O ideal seria encontrar alguém com quem possas conversar regularmente, com o qual te sentias muito confortável, como um amigo ou um vizinho, um professor ou mesmo um tandem online.
Revê as conversas na tua cabeça. Depois de teres tido uma conversa com alguém podes rever algumas coisas, normalmente vais perceber que deverias ter dito algumas coisas de forma diferente. Não fiques com vergonha disso, mas ao veres os teus erros vais poder corrigi-los numa próxima vez.
O que fazer quando as pessoas mudam para inglês? Muitas vezes isso acontece porque as pessoas te querem ajudar. Se achas que é uma boa situação para treinar o teu Português, então podes dizer, quantas vezes for necessário, que estás a aprender Português e que queres treinar. Isto pode acontecer muitas vezes, mas mantém esta atitude e não fiques desmotivado.

Eu sei que o teu objectivo é falar cada vez melhor e tu vais conseguir!

No próximo episódio eu quero falar sobre a Pronúncia Portuguesa. Muitas pessoas acham-na muito difícil. Vou falar sobre a diferença entre pronúncia e sotaque e como resolver certos problemas.

Até ao próximo episódio e não te esqueças de seguir as minhas mini-aulas no Instagram.

Tchau!

Olá a todos, como estão?

Espero que esteja tudo bem por aí. Por aqui, tudo bem!

Então vamos lá a mais um episódio de Listen and Learn. Se ouviram o episódio anterior já sabem que eu quero falar sobre a Pronúncia do Português Europeu e como vos disse antes, pronúncia não é a mesma coisa do que sotaque. Sabiam esta diferença?

A pronúncia correcta do Português é algo que pode ser difícil para muitos de vocês e, ao mesmo tempo, é algo que é muito importante aprender correctamente.

É talvez a coisa mais fundamental para poder falar Português correctamente e para que as pessoas vos entendam quando vocês falam, porque mesmo que vocês saibam toda a gramática muito bem, se vocês não dizem as palavras correctamente é possível que as pessoas realmente não vos entendam… e isso, claro é um problema que vocês querem eliminar.

A pronúncia correcta tem uma estrutura rígida, ela é a parte fonética das palavras. Pronunciar bem uma palavra é expressar o som correcto dessa palavra e este som pode estar correcto mesmo em sotaques diferentes. Porque o sotaque não é uma coisa tão rígida e está muito relacionado com influências culturais e geográficas. Todos os idiomas têm várias sotaques diferentes, isto acontece em zonas diferentes do país por exemplo, os mesmo em países diferentes onde a língua oficial é a mesma.

Também é muitas vezes possível identificar quando é uma pessoa estrangeira a falar uma certa língua, porque mesmo sendo fluente e avançado numa língua, muitas pessoas guardam um certo sotaque que está relacionado com a sua língua materna ou com a sua região geográfica.

Normalmente, para mim é sempre muito fácil identificar uma pessoa Portuguesa a falar Inglês, mesmo que essa pessoa fale fluentemente.

Também é possível com treino eliminar esse sotaque que está tão enraizado em nós e chegar a um nível de Pronúncia Perfeita, sim! É possível!

Para isso é necessário primeiro aprender bem todas as regras fonéticas da língua, todas as combinações de sons possíveis e porquê. Isto é um conhecimento que vocês podem aprender. Obviamente é demasiado longo para falar neste episódio…

Depois de ter esse conhecimento, é necessário continuar a treinar a fala e o ouvido.

Mas eu acho que o sotaque não é um real problema, que é uma característica bonita e pessoal e que diz um pouco sobre nós. Eu, por exemplo, como falo várias línguas, já vivi em vários países e já vivi em zonas diferentes do meu próprio país com sotaques bem diferentes, tenho uma grande mistura de sotaques e expressões e normalmente até as pessoas Portuguesas têm uma dificuldade em perceber as minhas origens.

Ao contrário, há outras pessoas que toda a sua vida guardam o seu sotaque primário, mesmo mudando de região ou país e podemos sempre identificar as suas origens.

Então, é importante, é fundamental adquirir a pronúncia perfeita para poder falar uma língua fluentemente e ser sempre compreendido? O que acham?

Eu acho que a pronúncia perfeita não é a meta, mas sim a pronúncia correcta! É fundamental saber como pronunciar cada letra e saber as regras e as combinações de sons que originam a pronúncia Portuguesa. A maioria destas regras vocês conseguem aprender rapidamente.

Estas regras são uma das primeiras coisas que eu ensino no meu Curso de Português e que eu considero fundamentais saber, antes da gramática, ou verbos, ou vocabulário.

Para quê saber muitas palavras se não as consegues dizer correctamente?!

Conhecer a pronúncia de cada letra permite-vos dizer as palavras correctamente. Por exemplo, se vocês sabem a diferença entre a letra N e a letra R, vocês podem dizer correctamente as palavras “ponto” e “porto”. Elas são muito parecidas, certo? Apenas uma letra muda. Se vocês não conhecem o som da letra N e da letra R, ou se dizem esse som errado, pode acontecer que vocês vão dizer “ponto” em vez de “porto” e a pessoa não vai entender o que vocês estão a dizer, porque não faz sentido!

Por isso, a pronúncia correcta é fundamental!

Agora, continuando com o exemplo da pronúncia da letra R. Esta letra pode ter dois sons muito diferentes.

O primeiro som acontece sempre que esta letra está no início da palavra ela tem um som muito forte como “RRR”, por exemplo “rua” ou “realidade”. Isto também acontece quando vemos dois R seguidos numa palavra, por exemplo, “arroz” ou “carro”.

O segundo som acontece quando o R está sozinho, no meio ou no final da palavra e é um som mais fraco, por exemplo, nas palavras “mar”, “gostar”, “arte” ou “porto”.

Saber estas diferenças, estas regras também é fundamental e, depois, de saber as regras, vocês têm que treinar este som e tentar imitá-lo.

Claro que, com alguns sons isto pode ser difícil e estranho ao início. Muitos sons na Língua Portuguese podem parecer estranhos para ti ao início, mas isto só acontece porque simplesmente tu não estás habituado a produzir estes sons. É possível que tu não sejas capaz de produzir estes sons inicialmente, mas isto também é um treino.

É como, por exemplo, se eu te digo para fazer o pino, ou um “hand stand” e tu nunca fizeste isto antes, então a primeira vez pode ser que tu não consigas, ou que seja muito difícil para ti. Mas quando eu te explico como fazer, quais são as regras e depois de praticares algumas vezes, tu podes ser capaz e podes fazer isso cada vez melhor.

Com a pronúncia é a mesma coisa, porque o som de uma palavra é a combinação da utilização dos músculos da cada, boca, língua e garganta, com a passagem do ar pelas nossas cordas vocais.

Alguns dos teus músculos não estão habituados a fazer certos movimentos mas para pronúncia correctamente o Português Europeu, tu tens de aprender a treinar essas movimentos. Com o tempo fica mais fácil.

Então, como podes conseguir isto?

O teu curso ou professor deve ensinar-te todas estas regras.
Não deves desvalorizar as regras sobre os acentos (ou stress signs). Acentos são sinais que podes encontrar em cima de vogais, que vão dar uma força ou som específico a essa letra e mudam a pronúncia da palavra.
Deves treinar estes sons com as dicas que o teu professor te dá. Isto são dicas como onde ou como posicionar a tua língua ou onde é importante colocar a força numa palavra.
Podes treinar sozinho ou em frente ao espelho, repetir várias vezes as mesmas palavras. Podes ouvir vídeos ou frases e repeti-las.
Tens que observar activamente quando estão a falar contigo. É como estar a ver vídeos sobre surf quando estás a aprender a surfar. A observação com atenção também ajuda!

Ok, vemo-nos no próximo episódio. Até lá, beijinhos e boas semanas. Tchau!

Olá a todos, mais uma vez, bem-vindos a mais um episódio deste Podcast Listen and Learn.

Espero que esteja tudo bem com vocês.

Aproveito para relembrar que mesmo no Spotify vocês podem deixar comentários no final de cada episódio e que podem dizer-me o que acharam sobre este episódio…ou sobre outros episódios e também podem colocar uma estrela no meu Podcast para ajudar-me a subir no ranking do Spotify. É muito importante para mim chegar até mais pessoas, claro!

Quero relembrar-vos também que vocês podem encontrar todas as transcrições destes episódios no meu website withsilvia.com. O link está no final de cada episódio. Assim vocês podem entender melhor e estudar vocabulário ou expressões novas.

Então, vamos lá ao que interessa… E episódio de hoje eu vou falar um pouco sobre os sons mais difíceis do Português Europeu. Claro que isto pode ser um pouco diferente de pessoa para pessoa, algumas pessoas podem considerar que o R é um som muito difícil e outra pessoa conseguir fazer esse som sem problema nenhum. Depende muitas vezes da origem da pessoa e de qual é a sua língua materna. Depois, também é possível que algumas pessoas já tenham alguns problemas em emitir certos sons na sua própria língua materna e que não foram corrigidos numa fase mais primária, ou seja, na infância e, por isso, tenham alguma dificuldade em posicionar a língua e os restantes músculos faciais de uma certa forma específica.

Mais uma vez, se vocês ouviram o episódio anterior, eu considero que atingir a pronúncia perfeita não tem de ser o vosso objectivo máximo. Mas eu acho que é extremamente importante conseguir atingir uma pronúncia correcta! Correcta o suficiente para que o som que vocês estão a emitir seja o som correcto da palavra e as pessoas possam compreender-vos bem, sem erros.

Então, como no episódio anterior falámos sobre pronúncia, eu hoje queria falar sobre uns dos sons mais difíceis de pronunciar. Normalmente, estes sons os sons nasais.

Em Português podemos distinguir sons nasais e sons vocais.

Como é fácil de perceber, os sons vocais são aqueles sons em que o ar passa pelas nossas cordas vocais e sai unicamente pela boca. Estes sons são normalmente mais fáceis de compreender e imitar.

Os sons nasais, como também já devem ter percebido, são aqueles sons em que o ar sai pela boca mas também pelo nariz. Ao sair pelo nariz cria uma ressonância, um som ligeiramente diferente.

Eu sei que teoricamente isto parece fácil mas… quando chega a hora da verdade, na prática, isto é um pouco mais estranho.

A primeira coisa é saber esta expressão Portuguesa “primei estranha, depois entranha”. E o que quer dizer esta expressão? Que normalmente, ao início, as coisas novas podem parecer um pouco estranhas, mas logo com o tempo e com a prática, estas coisas vão-se tornando cada vez mais normais ou mais fáceis, que já nem temos de pensar nelas.

É a mesma coisa com estes sons: se tu achas que este som é estranho, se tu sentes que é um esforço fazer este som, que não é natural ou até que soa um pouco mal…isto pode ser normal!

Se tu não estás habituado a fazer este som na tua língua materna, podes sentir-te um pouco estranho ao fazê-lo em Português, no início.

No início tens de forçar um pouco este som, até te habituares a ele.

Então, afinal que sons nasais existem em Português?!

Eu posso começar pelo “m” no final da palavra, porque normalmente é um som que muitas pessoas não dizem muito correctamente, ou que têm dificuldade.

O “m” no final da palavra tem um som nasal, de forma que parece que não terminamos de dizer o “m” completamente. É como se começássemos a dizer o “m” mas, a meio, nos arrependemos!

Nós começamos a dizer o “m” mas não acabamos, não fechamos a boca, os nossos lábios não tocam! O som continua a sair pela boca e pelo nariz. É um som mais prolongado: mmmmmm.

Vamos ver exemplos… Eu vou dar muitos exemplos para vocês ouvirem com atenção e poderem repetir.

Quando conjugo a terceira pessoa do plural de qualquer verbo, por exemplo, no presente:

Eles andam, eles compram, eles pagam, eles deixam, eles gostam, eles amam, eles viajam, eles usam, eles chamam, eles cantam, eles dançam, eles falam.

Eles fazem, eles trazem, eles dizem, esse escrevem, eles comem, eles bebem, eles podem, eles pedem, eles conduzem, eles sobem, eles descem, eles saem, eles caem, eles põem.

Eu nunca digo eles falaM. Eu digo eles falam.

Eu nunca digo eles podeM. Eu digo eles podem.

Isto é um som nasal!

Claro, acontece em muitas outras palavras, não só com os verbos. Por exemplo:

Sim, em, bem, bom, assim, também, viagem, ontem, alguém, algum. Tudo isto são palavras muito comuns, que usamos todos os dias.

Este mesmo som também pode acontecer no meio da palavra, em palavras em que o “m” está antes do “b” ou do “p”. Por exemplo, as palavras tempo, tampa, também, exemplo. Eu não digo teMpo, ou taMpa, ou taMbém, certo? Isto é mais fácil de compreender normalmente.

No entanto, normalmente, no meio da palavra, na maioria das vezes nós encontramos não o “m” mas sim o “n” antes de outras consoantes. Quando isso acontece, também acontece exactamente o mesmo som. O “m” ou o “n” no meio de uma palavra, antes de uma consoante, têm exactamente o mesmo som.

Para quem são sabe, consoantes são as letras do alfabeto excepto as vogais a, e, i, o u.

Então, palavras por exemplo:

Ontem, branco, banco, quinta, quando, quanto. Eu não digo oNtem, braNco, baNco, quiNta, quaNdo, quaNto. Vocês sabem isso. No meio da palavra normalmente é mais fácil ou mais intuitivo. Esse mesmo som, é o com que vocês têm de fazer no final das palavras que terminam em “m”.

Conseguem imitar este som? Podem ouvir várias vezes até conseguir.

Quando vocês conseguem fazer este som, então é mais fácil fazer o próximo som que eu quero falar: “ão”.

“Ão” é a junção da letra “a” com a letra “o” e com um acento por cima do “a”. Este sinal parece uma onda por cima do “a”. Sempre que vocês vêem este acento por cima de uma vogal, vocês devem saber que o som dessa vogal vai ser um som nasal! Essa vogal vai ter uma força nasal!

O som da palavra “gostam” que terminam em “AM” é muito parecido com o som da palavra “não” que termina em “AO” com o acento tilde.

Gostam.

Não.

Eles não gostam de peixe.

Ouvem a diferença?! Talvez não…é muito subtil. São sons parecidos!

Mas há muitas palavras em português europeu que terminam com “ão”, por exemplo:

Não, então, noção, emoção, sensação, dedicação, atenção, paixão, acção, pão, razão, intenção, interacção, ilusão.

Também alguns verbos irregulares, a terceira pessoa do plural tem este som: eles são, eles estão, eles vão.

No futuro, também terminamos sempre com “ão”: eles falarão, eles comerão, eles sairão.

Podem não ouvir uma diferença entre estes dois sons, mas existe! Principalmente, é importante lembrar que o “m” é uma letra fraca para estar no final da palavra, digamos. Eu não vou pôr muita força nesta letra. Mas no som “ão”, porque tem um acento, eu vou pôr muita mais força.

Então por exemplo: eles entram, eles entrarão! Eles comem, eles comerão!

Bem, existem claro outros sons que poderíamos falar hoje, mas fica para outra vez.

Hoje, ficam com estas dicas e estas explicações para tornar a vossa pronúncia mais correcta.

Espero que tenham gostado e não se esqueçam de avaliar o episódio, ou comentar.

Beijinhos, até à próxima. Boa semana!

Olá olá, bem-vindos!

Bem-vindos a mais um episódio de Listen and Learn.

Quero relembrar-os que vocês podem encontrar todas as transcrições destes episódios no meu website withsilvia.com. O link está no final de cada episódio. Assim vocês podem entender melhor e estudar vocabulário ou expressões novas.

Hoje continuamos a falar sobre sons difíceis da Língua Portuguesa. Sim, porque já começámos a falar sobre isto no episódio anterior e falámos sobre os sons nasais.

Hoje, continuamos com mais alguns sons nasais, porque normalmente estes são os sons mais difíceis!

Como eu expliquei no episódio anterior, os sons nasais são sons em que nós deixamos passar algum do ar pelo nariz, não apenas pela boca.

O som “ão” que falamos no episódio anterior é um bom exemplo.

Algum de vocês já consegue dizer o nome João correctamente?! Este é sempre um exemplo muito cómico! Para nós, Portugueses, João é um nome muito comum, assim como o som “ão” também é muito comum e para mim nunca foi um problema, pois eu aprendi este som quando ainda era uma criança muito pequena. Mas através deste nome, eu percebi pela primeira vez como este som é extremamente difícil para alguns estrangeiros, porque sempre que tentavam dizer o nome “João” diziam tudo, menos João.

Além do som “ão”, existem outros dois sons nasais que também são formados por duas vogais e aquele acento que parece tipo uma onda, que se chama tilde.

O som “õe” que é formado por um “o” e um “e” e o tilde.

E também o som “ãe” que é formado por um “a” e um “e” e o tilde.

Porque é que é importante dizer bem estes sons? Porque é possível que quando vocês lêem estas palavras, ou estas sílabas, intuitivamente vocês querem fazer um som muito diferente e depois, as pessoas não vão entender-vos.

Quando vocês estão a aprender estes sons, eles podem parecer muito estranhos, pode parecer forçado e, tudo bem…é assim mesmo no início. É preciso forçar este movimento um pouco, para depois de habituar.

Também é muito importante saber dizer estes sons bem, porque muitas das palavras que terminam em “ão”, quando ditas no plural, elas vão terminam em “ões” ou “ães”.

Eu vou dar vários exemplos para vocês ouvirem com muita atenção estes dois sons.

Primeiro, o som “õe”:

Ele põe, botões, balões, sugestões, opiniões, acções, questões, nações, canções, lições, razões, missões, expressões.

Ok, como podem ouvir este som é muito nasal “õe”, “õe” “õe” “õe”.

O que pode ser muito útil, pode ajudar-vos muito é visualizar, na vossa língua materna, como é que vocês escreveriam este som. Se a combinação “õ+e” não faz sentido para vocês, então imagina uma outra combinação de letras que para ti faz esse som.

Eu imagino que não seja muito fácil imaginar, porque talvez não sabes como representar um som nasal. Mais uma vez, em Português o som nasal é representado, por exemplo, pelo acento tilde.

Ok e o próximo som “ãe”. Aqui vão algumas palavras para te ajudar a praticar este som:

Mãe, pães, capitães, pães, cães. Este som não é tão comum como os outros, mas como podes ver, existem algumas palavras importantes.

Então, não te esqueças, o som nasal é um som em que o ar sai também pelo nariz e é um som mais prolongado. Como quando tocas na corda de um instrumento e ouves o som que se prolonga durante um pouco mais tipo “tõeeeeeeemmmm”. É parecido.

Ok, este episódio termina aqui hoje. Mais uma vez, se gostaste do episódio podes deixar uma impressão, uma estrela, um comentário ou uma sugestão.

Até ao próximo episódio. Boa semana!

Olá a todos, bem-vindos, bem-vindos!

Que bom é ter-vos em mais um episódio de Listen and Learn!

Antes de começar, quero relembrar-vos que todos os episódios do Podcast estão transcritos no meu website withsilvia.com e que isso vos ajuda a compreender melhor o episódio, ajuda-vos talvez em alguma parte que não entenderam bem, ou então pode ser interessante para procurar uma palavra ou expressão específica que vocês querem aprender ou estudar melhor.

Pois bem, neste episódio eu continuo a tentar dar-vos algumas dicas importância para vocês se distinguirem como falantes da Língua Portuguesa. Eu sei que muitos de vocês já são intermédios ou mesmo avançados no Português Europeu e hoje eu quero falar de uma coisa que vos pode distinguir ainda melhor como bons falantes.

É uma coisa básica, sim, que aprendemos bem no início, quando começamos a estudar Português. No entanto, muitos de vocês talvez não consideraram que isto fosse muito importante e tendem a esquecer-se, a não valorizar, a não dar importância e, como consequência, tendem a não dizer isto correctamente.

Eu estou a falar sobre “verbos reflexivos”.

Eu sei que não é relacionado com a pronúncia, nem com trabalhar o vosso mindset, nem com o cultura Portuguesa. É sobre gramática eu sei! Mas ouvir este episódio vai ajudar-vos a não esquecer mais estes verbos. Queres saber porquê? Então, vamos lá!

Os verbos reflexivos, são verbos em que a pessoa que faz a ação é também a pessoa que recebe a ação. É um pouco estranho, porque isto acontece em Português mas não acontece necessariamente em Inglês, ou Alemão ou noutra língua, com os mesmos verbos.

Eu vou mostrar-vos hoje 5 exemplos destes verbos. Os 10 exemplos mais comuns de verbos reflexivos, vou explicar-vos o que significa, dar-vos exemplos e mostrar-vos como nunca mais de vão esquecer destes 5 verbos reflexivos, ok?

Lembrar-se.
O verbo lembrar significa “to remember oneself/to remind oneself”. Em Português dizemos algo como “to remind myself”. Por exemplo:

Lembras-te da última coisa que comeste?

Sim, lembro-me, claro! Foi uma tigela de arroz doce! E tu, lembras-te?

Não, eu não me lembro!

E agora, como é que vocês vão memorizar este verbo?

Vocês vão imaginar uma frase em que vocês vão utilizar este verbo. Pensem numa situação engraçada e pessoal. Por exemplo, a frase “eu lembro-me que ontem à noite em comi………”

Faz uma pausa no podcast, pega num lápis ou caneta e escreve esta frase. Olha para a frase, lê a frase, repete algumas vezes e depois volta ao Podcast.

Eu lembro-me. E assim tu vais lembrar-te para sempre, que este verbo é reflexivo. Ok? Nunca mais vais esquecer-te!

E assim passamos para o nosso segundo verbo reflexivo. Esquecer-se.

2. Esquecer-se é o contrário de lembrar-se. Significa “to forget oneself” ou, eu também gosto de pensar em “not remind itself of something”. Então, podemos continuar a nossa situação anterior:

Lembras-te da última coisa que comeste?

Sim, lembro-me, claro! Foi uma tigela de arroz doce! E tu, lembras-te?

Não, eu não me lembro! Esqueci-me!

Esqueceste-te? Como é que te esqueceste?

Olha, não sei, esqueci-me pronto!

E agora vocês, vão imaginar também uma situação em que vocês se esqueceram de uma coisa importante e assim nunca mais vão esquecer-se que este verbo é reflexivo também.

Por exemplo, “foi muito mau, mas uma vez eu esqueci-me de…..”. E pensem nessa frase várias vezes.

3. Levantar-se.

O verbo “levantar” significa “to get up, to rise, to lift” por exemplo. Mas quando falamos sobre levantar-nos a nós próprios, por exemplo, quando saímos da cama, este verbo é sempre reflexivo, mais ou menos como “to get itself up, to lift itself”. Por exemplo:

Ontem estava na minha cama, à noite e, de repente eu lembrei-me que tinha deixado a porta aberta. Não sei como, mas esqueci-me completamente de fechar a porta. Então, eu não queria levantar-me porque estava muito frio e eu estava bem na cama, mas levantei-me e fui fechar a porta.

Agora é a tua vez, de imaginar uma pequena frase onde tu utilizar o verbo levantar-se para uma situação pessoal. Lembra-te, quanto mais pessoal, real e específico for este exemplo, mais provavelmente tu nunca mais vais esquecer-te.

4. Divertir-se.

Este verbo fica muitas vezes esquecido, mas ele é necessário para desejar alguém umas boas férias por exemplo. Divertir-se significa algo como “to amuse ou enjoy oneself”. Então, quando eu quero dizer a alguém “have fun” é este verbo que eu vou utilizar e tem de ser sempre reflexivo! Por exemplo:

Olha, lembras-te de quando tu foste à Madeira com a Joana? Divertiste-te?

Não me diverti muito, porque a Joana não foi uma boa companhia. Diverti-me muito mais quando fui contigo. Nós as suas divertimo-nos sempre muito!

Agora, é a tua vez de imaginar. Faz pausa no Podcast e escreve uma frase como:

“Diverti-me muito quando fui……..”

5. Perder-se.

O verbo “perder-se” significa algo como “to lose oneself” e é usado para situações como quando tu te perdes no caminho, ou em situações mais figurativas, por exemplo quando tu te perdes na conversa com alguém, ou te perdes no tempo.

Exemplo:

Ontem estava ao telefone com o Miguel e perdemo-nos nas horas, quando vimos já era meio dia e eu tinha um compromisso às 11h30 e esqueci-me. Bem, não me esqueci, simplesmente perdi-me na conversa.

E tu? Consegues pensar e alguma situação em que tu te perdeste? Pensa numa situação engraçada, pela no papel e escreve uma frase com o verbo perder-se.

Ok e assim chegamos ao final deste episódio. Hoje eu quis mostrar-te que saber usar os verbos reflexivos faz-te de ti um melhor falante e também quis mostrar-te um método para aprenderes coisas que tens dificuldade em memorizar.

Por hoje é tudo, desejo-vos uma óptima semana.

Não esqueçam de deixar um comentário ou uma estrela no meu canal.

Até ao próximo episódio!

Olá a todos, como estão? Por aqui tudo muito bem…

Antes de começar o episódio, quero relembrar-vos que podem encontrar a transcrição deste episódio no meu website withsilvia.com e também dever-vos muito obrigada por estarem mais uma vez junto a mim, aí do outro lado. Eu sei que muitos de vocês me ouvem de muito longe… Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Espanha, Itália, Canadá, França, México e muito mais… é incrível e eu só tenho a dizer: muito, muito obrigada!

Então, hoje eu trago-vos a história de como aprendi francês em poucos meses e tornei-me fluente, ao ponto de ter a certeza de que nunca vou esquecer como falar esta língua. Mesmo que agora não a fale frequentemente há muitos anos, ainda consigo falar francês com muita confiança sempre que preciso.

Prometo-te que esta história vai valer a pena! Então, aqui vai…

Em 2011, meses antes de terminar o meu curso de Enfermagem, já sabia que não havia NENHUMA oportunidade de emprego à minha espera em Portugal por causa da grande crise económica aqui. Sabia que tinha de mudar para outro país.

Inicialmente, porque já tinha um bom nível de inglês, pensei que iria para Inglaterra, mas surgiu outra possibilidade no meu caminho: Bélgica! Não sabia nada sobre este país, não conhecia ninguém lá, não conhecia nenhuma das suas línguas oficiais, e de alguma forma tudo isso foi o que me atraiu neste país!

Decidi que iria para a Bélgica e assim tive duas opções de língua para aprender: flamengo ou francês. Escolhi o francês!

É verdade que tinha aprendido francês na escola muitos anos antes, mas honestamente, a esta altura, já tinha esquecido tudo. Tudo o que conseguia dizer era “Je m’appelle Sílvia” (Chamo-me Sílvia). Nada mais!

No entanto, decidi que o iria aprender, não importa quanto tempo demorasse! Em 2012, fui a Bruxelas pela primeira vez e tive 4 entrevistas de emprego em francês. Como talvez saibas, as entrevistas de emprego podem ser momentos bastante stressantes, embora possa dizer que me saí bastante bem, falando francês com muita confiança.

Como aprendi francês a um nível tão confiante em poucos meses? Como me tornei fluente a ponto de nunca esquecer como falar francês, mesmo que não o use diariamente?

Vou contar-te sobre os meus métodos…

1. Eu estava profundamente motivada

Acho honestamente que esta foi a maior razão pela qual pude aprender francês tão rapidamente. Tinha os olhos totalmente postos no prémio e estava muito comprometida com os meus objetivos: queria viver plenamente a minha vida no estrangeiro, queria arranjar um bom emprego, queria fazer amigos, entender os meus colegas e tudo à minha volta, queria ser compreendida, integrar-me e ligar-me às pessoas e à cultura belga, queria ser capaz de resolver assuntos difíceis ao telefone e ser independente. Talvez tenhas de te questionar a ti próprio por que razão exatamente queres aprender português? Onde te levará? O que alcançarás? Como melhorará a tua vida? Porque quando te concentras nisso, o teu caminho torna-se muito mais fácil.

2. A minha mentalidade estava no sítio certo

Eu acreditava profundamente que era capaz de aprender francês, não importa quanto tempo me levasse!

Isto pode parecer um cliché, mas tens de acreditar em ti mesmo, porque se não acreditas que consegues, certamente nunca acontecerá! Hoje em dia, tenho muitos alunos que me dizem que “não são bons com línguas” e que têm medo de aprender português, porque receiam o fracasso. O que penso é que estas pessoas cresceram com uma crença falsa, rotulando-se dessa forma, talvez porque outros lhes disseram isso, por más experiências na escola ou porque se comparam com outros que parecem aprender mais rápido. Se te reconheces nisto, deixa-me dizer-te que esta crença está a bloquear-te de aprender realmente! Qualquer pessoa pode aprender uma língua estrangeira em qualquer idade, com a abordagem certa e os métodos certos.

3. Eu não aprendi sozinha, eu tinha um plano e uma estrutura

Não aprendi francês sozinha, encontrei um programa estruturado. Primeiro, encontrei uma professora que me levou até ao nível A2. Depois, encontrei outra professora que me levou até ao nível B1/B2. Isso não significa que não possas aprender uma língua por ti mesmo, mas ver vídeos aleatórios no Instagram ou no Youtube ou usar apps de “flashcards” não é suficiente, porque não há uma verdadeira estrutura nisso. Estas são apenas coisas para apoiar os teus estudos, mas precisas realmente de um bom programa para te guiar principalmente.

4. Ouvi francês quase todos os dias durante meses

Não estava apenas a estudar gramática e vocabulário. Desde o início, familiarizei-me com os sons e a melodia da língua francesa. Na altura, os podcasts ainda não eram uma coisa importante, então estava principalmente a ouvir música e a ver filmes. Ouvia a mesma playlist de músicas francesas todas as noites antes de ir para a cama, até poder entender mais e mais das letras. Ou então, estava a divertir-me a descobrir mais sobre o cinema francês, prestando real atenção aos diálogos e usando legendas (às vezes em português, às vezes em francês).

5. Eu pratiquei

Se ainda estás à espera que um milagre aconteça, lamento dizer-te: não vai acontecer! Estava a praticar quase todos os dias, quer a ler, quer a fazer exercícios, quer a memorizar palavras ou verbos, quer a falar sozinha. Por favor, tem cuidado com pessoas que anunciam métodos mágicos que não exigem esforço. Sabes que aprender algo novo na vida requer prática e quanto mais praticares, mais progredirás.

6. Eu entrei em imersão

Quando finalmente me mudei para a Bélgica, pude realmente experimentar a língua fora dos livros didáticos. Através da imersão, pude aprender expressões que nunca teria aprendido num livro. Pude melhorar continuamente a minha compreensão, pronúncia e vocabulário. Finalmente, pude deixar de ter medo de atender o telefone para resolver qualquer tipo de assunto importante e, finalmente, pude entender algo muito importante que está escondido por trás de qualquer língua: a cultura.

Bom, espero que estas dicas te possam ajudar e encorajar-te no teu caminho a aprender ou a continuar a aprender Português. Encontramo-nos no próximo episódio.

Até lá, beijinhos, tchau tchau!

Olá a todos e bem-vindos a mais um episódio de Listen & Learn.

Se ainda não deixaste uma avaliação no meu Podcast, então vá, vai agora! Ou então podes sempre deixar-me um comentário com o teu feedback sobre o episódio.

Hoje eu quero conversar contigo sobre a razão pela qual estás a aprender Português. Se sentes que estás num momento em que melhorar o teu Português é difícil, então este episódio é especialmente para ti, porque quando tu encontras o teu “PORQUÊ” então também encontrarás o “COMO”.

Tu queres falar bem Português Europeu certo? Gostaria de te convidar a pensar na razão pela qual queres fazer isto…

Deixa-me contar-te as minhas grandes razões para aprender uma língua estrangeira:

Francês: Queria mudar-me para a Bélgica e ser capaz de encontrar um bom emprego, desempenhar o meu trabalho corretamente, fazer amigos, conectar-me com os meus colegas e com os belgas, ser independente na minha vida diária e resolver situações simples ou complicadas sem a complicação de não entender a língua adequadamente.

Onde me levou? À fluência e a 5 anos de experiência total nesse país.

Espanhol: Queria viajar e fazer mochilão pela América Latina, fazer amigos, conectar-me com as pessoas locais, entender o meu ambiente para evitar situações perigosas e resolver problemas independentemente.

Onde me levou? À fluência, a muitos amigos em toda a América Latina que literalmente abriram as portas das suas casas e famílias para mim, e muitos meses de experiência total nesses países.

Inglês: Queria conectar-me com pessoas de todo o mundo, já que o inglês é a língua internacional comum de conexão e oportunidades.

Onde me levou? À fluência, à independência, a oportunidades de emprego, a começar o meu próprio negócio, a muitos amigos e a uma incrível parceiro de vida.

Italiano: Queria ser capaz de falar esta bela língua melódica e, ultimamente, gostaria de ser capaz de falar o maior número possível de línguas.

Onde me levou? Não tão longe ainda, porque ainda não coloquei realmente isto como uma prioridade na vida, não abri o espaço e o tempo necessários para isso!

Assim, podes ver a diferença: quando realmente encontras o teu grande PORQUÊ, conseguirás descobrir o COMO.

Até lá, continuarás a colocar outras prioridades à frente, como eu estou ainda a fazer com o Italiano, não encontrando tempo e vontade, ficando estagnado, continuando a ficar frustrado e a acreditar que és incapaz…

Então, pergunto-te “Qual é o teu PORQUÊ?”

É porque queres integrar mais com a comunidade portuguesa?

É porque estás a viver em Portugal?

É porque queres viver em Portugal?

É porque o teu parceiro é português?

É por planos futuros de trabalho?

É porque os teus filhos vão crescer em Portugal?

É porque queres entender melhor a cultura e as pessoas?

É porque queres conectar-te e ser mais independente?

É porque queres dar-te bem em Portugal com menos complicações?

Assim que o colocares por escrito e no universo, prometo-te que mudanças incríveis começarão a acontecer!

Pessoal, hoje termina esta série de episódios audio que eu preparei especialmente para vos ajudar a trabalhar duas coisas que eu acho fundamentais para dominar uma língua estrangeira: o mindset e a pronúncia.

Eu espero que estes episódios vos tenham ajudado a compreender melhor porque querem realmente aprender e ser fluentes em Português Europeu, de forma a aumentar o vosso foco e a vossa motivação.

Igualmente, dei-vos algumas dicas sobre a pronúncia, pois é um trabalho que eu faço com os meus alunos logo desde início.

Assim, este é o último episódio desta série audio.

É com alguma pena que anuncio que após este episódio eu vou fazer uma pausa indeterminada no Podcast para me concentrar totalmente nos cursos online.

Mas, em breve Listen & Learn voltará ao Spotify e ao Youtube, para novos episódios inteiramente dedicados à cultura de Portugal. Vou voltar a falar sobre festividades, história, personagens importantes, comida, hábitos, expressões, calão e tudo aquilo que vocês querem saber sobre a cultura Portuguesa. Assim como, a ter novos convidados especiais.

Então, um até já!

Estarei com vocês muito em breve!

Obrigada por estarem aí. Obrigada pelo feedback. Não se esqueçam de deixar uma avaliação no meu programa!

Muitos beijinhos!!!

Hoje vou falar-vos sobre o que é a Páscoa, como se celebra em Portugal, desde quando e porquê?!

A Páscoa é uma festividade religiosa que normalmente se celebra em todo o país. Como vocês já devem saber, a religião predominante em Portugal é a religião Católica cristã, com uma tradição longa e que desde muito séculos influencia a nossa história, até aos dias de hoje.

Para aqueles que se estão a perguntar se eu vos vou dar uma aula sobre religião, não é isso! Eu apenas pretendo contar ou explicar um pouco sobre como os Portugueses celebram a Páscoa.

De uma forma geral, principalmente as gerações mais novas, não têm uma relação tão próxima com a religião e não são tão devotas como antigamente, no entanto, dias como a Páscoa continuam a ser dias importantes, pois a sua tradição envolve de tal forma a comunidade e as famílias, que faz com que este dia normalmente não passe desapercebido!

Na sua origem, para os cristãos, a Páscoa simboliza a ressurreição de Jesus depois da sua crucificação e morte.
A Páscoa acontece sempre num Domingo. O Domingo de Páscoa é precedido da Quaresma. A Quaresma é um período de 40 dias de jejum, orações e penitências, ou seja, uma preparação para o Domingo de Pascoa.

O dia de Páscoa não é um dia fixo no ano, pelo contrário, é um feriado móvel. Sendo assim, foi determinado que a Páscoa acontece no primeiro Domingo após a Lua Cheia, depois do equinócio vernal, ou seja, o primeiro dia de Primavera no hemisfério Norte, onde se encontra Portugal. A Primavera começa dia 21 de Março, então a Páscoa acontece no Domingo depois da primeira Lua Cheia, depois do dia 21 de Março.

A ultima semana da Quaresma é chamada de Semana Santa e nesta semana também existem dias simbólicos, como a Sexta-feira Santa, que simboliza o dia em que Jesus foi crucificado.

Lembram-se de vos falar que a Quaresma é um período de jejum? Pois, normalmente a maioria das pessoas não cumpre este jejum os quarenta dias, mas muitos abstêm-se de comer carne ou outras coisas importantes na Sexta-feira Santa.

No Domingo de Páscoa, tradicionalmente as famílias juntam-se para o Almoço de Páscoa. Em muitas freguesias, é dia de festa, há a Missa da Páscoa de manhã e fazem-se tapetes de flores às portas das igrejas e casas, para receber o Compasso, que sai à rua. E o que é o Compasso? O Compasso é um grupo de paroquianos que vai de casa em casa para dar a benção ao lar e às famílias. Ele vem anunciado pelo som forte dos sinos que levam nas mãos, foguetes ou música. As famílias são convidadas a beijar a cruz, que quer dizer isso mesmo, literalmente beijar a cruz ou os pés da figura de Jesus. Nem todas as casas querem receber o Compasso, então apenas as casas que querem, normalmente demonstram esse interesse colocando tapetes de flores em frente à porta.
Quando o grupo entra na casa, é recebido normalmente com uma mesa repleta de doces, frutos secos, enchidos e salgados e até um copo de vinho ou aguardente!
Para mim, esta é a memória mais engraçada da Páscoa, quando eu era pequena. Lembro-me que passávamos a Páscoa em casa da minha avó materna, lembro-me dos tapetes de flores em frente ao seu portão, que eu ajudava a preparar e lembro-me também da mesa posta, cheia de coisas boas para comer, mas que era proibido tocar até ao Compasso chegar! Então eu esperava, ansiosa, pelo Compasso para poder comer umas amêndoas de chocolate!

Então, quais são os petiscos ou comidas mais tradicionais da Páscoa?
Para o almoço de Páscoa, o mais tradicional é o Cabrito Assado ou o Borrego Assado, acompanhados de batatas assadas.

Para sobremesa come-se o Folar, que é um pão doce tradicional. Este pão é muito diferente em varias partes do país e normalmente é cozido com um ou mais ovos inteiros dentro, ou por cima. Apesar da massa deste pão ter ovos na sua mistura, estes ovos de que eu falo agora não são misturados, são cozidos inteiros!

Hoje em dia, o Folar também é uma troca de prendas que acontece entre padrinhos e afilhados.
O Domingo que antecede a Páscoa chama-se Domingo de Ramos e neste dia é tradição os afilhados oferecerem um ramo de flores aos seus padrinhos.
Por sua vez, no Domingo de Páscoa, os padrinhos oferecerem uma prenda aos seus afilhados, ou seja, o Folar.
Se vivem em Portugal, com certeza já viram que, na altura da Páscoa, os supermercados estão cheios de ovos e amêndoas de chocolate. Os ovos de chocolate ganharam ao longo dos anos uma proporção gigante, medem às vezes mais de um palmo, vêm embrulhados num papel exuberante e trazem um presente dentro. Hoje em dia, estes ovos ou amêndoas são muitas vezes o Folar ou são oferecidos juntamente com o Folar.

Também existem algumas Caças aos Ovos, em que os ovos são escondidos e é criada uma brincadeira para as crianças encontrarem os ovos. Eu penso que esta brincadeira não é muito tradicional em Portugal e eu, pessoalmente, não me lembro de isto ser importante na minha família ou amigos, quando eu era pequena.

Existem zonas do país em que a Páscoa ganha especial importância. Por exemplo, em Braga, bem a Norte de Portugal, a Semana Santa é celebrada com muita tradição e importância, movimentando pessoas e turistas de vários lugares do mundo.

Bem, se tu também festejas a Páscoa então eu desejo-te uma boa Páscoa, mesmo se a tua forma de festejar for diferente da que eu acabei de te contar. Na verdade, tenho curiosidade de saber sobre outras tradições, por isso adoraria que partilhassem comigo qual é a tua forma de festejar a Páscoa, ou qual é a tradição no teu país. Para isso podes deixar-me um comentário aqui em baixo e contar-me mais sobre isso!

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Obrigada por estares desse lado e até à próxima! Tchau!

olá a todos e bem-vindos a mais um episódio de Listen
and Learn
voltámos
estamos de novo “no ar” depois de 1 merecida pausa
para 1 nova temporada de Listen & Learn
1 podcast totalmente falado em português Europeu
ou português de Portugal
feito especialmente para ti
que queres melhorar o teu nível de português
ouvir os sons e melodia da língua
aprender novo vocabulário
enquanto aprendes ao mesmo tempo
sobre a cultura de Portugal
estou muito feliz
por ter voltado às gravações do podcast
e tenho muitas coisas preparadas para ti
vou ter muitos convidados surpresa
ao longo dos próximos meses
eu quero continuar a apoiar-te
nesta tua viagem de aprendizagem do português
e por isso a marca with sílvia continua a crescer
neste momento tu podes aprender comigo
através do
podcast
através da minha página de Instagram
onde eu partilho diariamente conteúdo para te ajudar
também através dos meus cursos online
que já estão disponíveis e vão crescer no próximo ano
e finalmente
se vives na área de Vila do Bispo
no Algarve
em Portugal
podes aprender diretamente comigo em aulas presenciais
pois é, muito trabalho e muita motivação
todos os detalhes estão nos links aqui em baixo
ou então no meu site
withsilvia.com
bem vamos então ao tema do episódio de hoje
neste episódio
eu quero focar-me
1 pouco na aprendizagem da língua portuguesa
mais concretamente
eu vou falar-te das coisas que tu
não deves fazer quando estás a aprender português
mais especificamente eu
vou falar-te de três coisas que não deves fazer
e são elas
não aprender o português errado
não aprender só por absorção
e não querer falar como um nativo
ok vamos ver então estas três coisas
número um
para começar
é muito importante saber qual é o português que tu
queres aprender
ou seja
a língua portuguesa é falada em vários países
e continentes
e apesar de ser a mesma língua
há coisas muito diferentes
eu falo principalmente da diferença
entre o português europeu
ou português de Portugal
e o português do Brasil
como sabes
o Brasil é um país gigante
com cerca de duzentos e treze milhões de habitantes
e noventa e nove por cento da população fala português
isto faz com que a maioria
dos falantes de português no mundo
falem português do Brasil
ora como eu já disse
é a mesma língua
e um português e um brasileiro podem
conversar sem grande dificuldade
no entanto
a forma como falam é ligeiramente diferente
desde as palavras que escolhem
até à forma como fazem as frases
há diferenças
além disso
existem também palavras e expressões que são iguais
mas têm significados completamente diferentes
em português de Portugal e português do Brasil
hoje
EU não vou entrar em mais detalhes sobre as diferenças
e semelhanças
entre estas 2 línguas
mas o que eu queria dizer é que é muito importante que
quando começas a estudar português
deves saber qual é o português que queres aprender
e procurar livros
material e
conteúdo nesse português
muitos alunos que estão a aprender português europeu
perguntam-me se é errado
estudar ou ouvir em português do Brasil
porque na internet é muito
muito mais fácil encontrar conteúdo
em português do Brasil
eu sempre respondo
se tens a possibilidade de ouvir só português europeu
é melhor para ti
cada vez há mais conteúdo disponível
em português de Portugal
tal como o meu podcast e o meu Instagram
é claro que na impossibilidade de encontrar conteúdo
em português de Portugal
nesse caso
o português do Brasil é melhor do que nada
por exemplo
estrangeiros que viajam no Brasil
conseguem muito mais facilmente aprender o português
daí por imersão
por duas razões
primeiro
porque é mais difícil encontrar pessoas lá no Brasil
que falam inglês fluentemente
e segundo
porque a melodia do português do Brasil é
pela opinião geral
mais fácil de se compreender
do que a melodia do português de Portugal
então uma vez um amigo dizia-me
que a melhor forma de aprender português é fazer
uma viagem pelo Brasil
eu concordo que isso pode ajudar muito sim
mas se o teu objetivo é aprender português de Portugal
o melhor é estudares esse mesmo
pois no futuro poderá ser muito difícil para ti
entender os portugueses
pois a nossa pronúncia é realmente muito diferente
mesmo que as palavras usadas sejam as mesmas
segundo
pensas que vais aprender facilmente a gramática por
absorção
aprender 1 língua só por imersão
absorção
enquanto adulto
é realmente muito
muito difícil
quando somos crianças
e estamos a aprender a nossa língua materna
ou línguas maternas
no caso de crianças que crescem
bilíngues
aprendemos realmente por imersão
nos primeiros anos de vida
por isso somos capazes já de falar
antes de ir para a escola
e depois na escola
aprendemos a escrever
e melhoramos a nossa forma de falar
etc
aprender uma língua enquanto adulto
é diferente
a imersão está claro
recomendada
não haverá nunca nenhum professor que te dirá
que não deves entrar em imersão
e que basta apenas estudar pelo livro
não claro que não
a imersão é recomendada e na minha opinião
só pessoas que entram em imersão chegam a um nível
de verdadeira
verdadeira fluência
e aqui eu vou distinguir entre falar muito bem
e ser fluente
são coisas diferentes
então
mas o que eu quero dizer é que a gramática e sublinho
a gramática
não se aprende apenas por imersão ou absorção
para aprender a gramática da língua portuguesa
bem ou bem o suficiente
é necessário
estudar
e 1 das maiores razões para isso são os verbos
na língua portuguesa existem dezenas
de tempos verbais diferentes e
combinações entre tempos verbais possíveis
como há muitos tempos verbais específicos
para situações diferentes
será muito difícil aprender isto sem estudar
além dos verbos e tempos verbais
há outras coisas importantes na gramática de base
que são características das línguas latinas
que é preciso aprender de 1 forma estruturada
com 1 professor
com 1 curso
com 1 programa e
depois é preciso estudar
para mim
não é possível aprender gramática sem repetição
ou seja
escrever
escrever
escrever
ler ler ler
escrever ler
ler outra vez
ler em voz alta
repetir
repetir
aplicar
aplicar
etc
3ª e última coisa que tu
não deves fazer quando estudas português
pensar que facilmente vais conseguir falar como 1
nativo
mais uma vez
eu estou a falar sobre pessoas estrangeiras
que estão a aprender português enquanto adultos
ser fluente
falar muito bem 1 língua estrangeira
e falar como 1 nativo
são coisas diferentes
chegar a um nível de fluência é possível
para muitas pessoas
demora tempo sim
é necessário esforço sim
dedicação
estudo empenho
1 estrutura
1 professor
1 curso
motivação sim
mas é muito
muito possível
agora falar como 1 nativo
não
para mim é importante dizer isto
para que tenhas 1 noção mais real de onde tu podes
chegar
falar como 1 nativo
só pessoas nativas ou bilíngues
na minha opinião
conseguem
falar como 1 nativo implica crescer e viver
como 1 nativo
ou seja
são anos
décadas
de viver dentro de 1 cultura
é importante perceber isto
não é só sobre palavras
vocabulário
gramática
falar como 1 nativo é também sobre cultura
sobre as expressões que aprendemos
com programas de televisão
comediantes
humor situações icônicas do país
coisas que aconteceram de 1 forma geral
no país e na cultura
ao longo do nosso desenvolvimento
ao longo da nossa vida
aliás mais do que na nossa própria geração
mas também na geração
dos nossos pais e avós
coisas que aprendemos
com eles e coisas que nós aprendemos na escola
é importante perceber que falar como 1 nativo
é também 1 questão
geracional
precisamente por estas coisas e situações que
causam um impacto
regional ou mesmo nacional
a nossa forma de falar muda de geração em geração
assim sendo
podes e deves
deves aprender muitas expressões que os nativos usam
vai ajudar-te
mas será impossível na minha opinião
aprender todas
e aprender todos os aspectos culturais
que caracterizam 1 país e 1 língua
eu espero que ouvir estes três
não te ajude a ver mais objetivamente
até onde tu podes chegar e também como chegar
é muito importante
ter motivação e manter essa motivação
mas é também importante ter expectativas realísticas
gostaria muito
muito que me destes a tua opinião
em relação a estas três coisas
que eu falei
tu concordas
ou não
para isso podes escrever-me a tua opinião aqui em baixo
nos comentários
tu achas que aprender português do Brasil te ajuda
ou ajudou
a aprender português de Portugal
tu achas que é possível aprender português sem estudar
e tu achas que tu falas como 1 nativo
ou que conseguirás 1 dia falar exatamente como 1 nativo
diz-me a tua opinião
porque eu estou mesmo muito muito interessada
então pessoal
eu termino por aqui
espero que tenham gostado deste novo episódio de Listen
and Learn
eu estou muito feliz
por regressar e tenho muitas coisas preparadas
para ti
nos próximos meses
se gostaste deste episódio é muito importante para mim
ter o teu apoio
então basta pôr um like neste episódio
ou se estás a ouvir no Spotify
podes avaliar com estrelas
muito obrigada por isso
podes continuar a estudar com o podcast
e seguir-me para não perderes nenhum episódio
e também podes
encontrar a transcrição deste episódio no meu site
através do link aqui em baixo do episódio
igualmente
já sabes
que eu estou sempre a partilhar mini aulas
no Instagram
e que podes aprender comigo todos os dias
o link também está aqui em baixo
por último
se queres demonstrar o teu apoio ao meu trabalho e
ao mesmo tempo a saber a todos os episódios
até ao final de dois mil e vinte cinco
muito muito muito mais rápido
então podes apoiar-me através do Patreon
o link também está aqui em baixo do episódio
obrigada por estarem desse lado comigo
até ao próximo episódio
beijinhos

olá olá a todos
bem-vindos
bem-vindo Jeferson
bem vindos a vocês a mais um episódio de Listen & Learn
hoje tenho um amigo comigo
e o tema do episódio de hoje
mais uma vez vamos falar sobre a língua portuguesa
mas hoje falamos sobre diferentes línguas portuguesas
certo certo
haha estou muito curiosa para saber se vocês vão
compreender
se vocês vão
ouvir e entender as diferenças
entre a forma como o Jeferson fala
e a forma como eu falo
sim porque o…
queres dizer?
porque o sotaque é diferente
as palavras são diferentes é
mas muita coisa parecida também
aham que lindo
que lindo
adoro este sotaque
este é o sotaque do português do Brasil
ou português brasileiro
como queiramos dizer sim
Jeferson
queres falar um pouquinho sobre ti?
só para as pessoas saberem que sim
sim claro
o que é que andas aqui a fazer neste mundo
claro claro
meu nome é Jeferson
eu sou do Brasil né
nasci em São Paulo
e estou morando aqui em Portugal há mais ou menos 5 anos
5 anos 5
anos e antes eu morei na Alemanha durante 7 anos
fui pra Alemanha
e depois
vim pra cá
pra pra Portugal
uhum sim
e estás agora cá por um um pouquinho de tempo mais só
exatamente
exatamente
depois de doze anos na Europa
estou regressando para o Brasil né
uhum logo mais
logo mais
daqui a pouco
estás a fechar este círculo
esta viagem na Europa
fora do
Brasil exatamente
exatamente
um pouquinho também de saudades lá da terra né
exato ótimo pessoal
vão prestando aí atenção às palavras que o Jeferson
usa e as palavras que eu uso
a forma como nós construímos as frases
a ideia do episódio de hoje é precisamente
falarmos um pouco sobre isto
eu tenho muita curiosidade de saber
como é que o Jefferson sentiu
quando ele chegou cá a Portugal
tu já tinhas
entrado em contacto com a língua portuguesa de Portugal
tu já sabias mais ou menos o que é que
o que é que esperavas foi
ou como é que foi chegar cá
Portugal?
então é
eu trabalhei com alguns amigos portugueses né
então do mesmo time que eu trabalhava
havia alguns portugueses
e normalmente nós íamos almoçar juntos e conversávamos
né então
antes mesmo de vir pra Portugal
eu já sabia de muitas diferenças né
entre o o português do Brasil e o português de Portugal
já tinhas aprendido algumas coisas
já tinha
inclusive algumas palavras assim
que são bem diferentes né
ha ha eu já tinha aprendido sim
e aí eu tive a curiosidade de vir pra cá né
então primeiramente eu vim aqui
para visitar só como turista mesmo né
eu estive
um pouco no norte do de Portugal
um pouco aqui no sul e também lá em Lisboa né
e aí eu tive essa primeira experiência
mais intensa de Portugal
depois de estar morando lá na
Alemanha né
e quando estavas no Brasil
tipo chega-te
ou chegava-te 1 pouco da cultura
ou da língua portuguesa
lá ao Brasil
a língua portuguesa de Portugal sim
é sempre um pouco difícil sim
como falar sobre isto
porque os dois falamos língua portuguesa né
mas sim
tu ouvias português de Portugal
lá no Brasil de vez em quando
tu já conhecias algumas coisas ou não
a gente conhece né
porque sempre tem algum tipo de exposição na mídia
algumas coisas que
que são levadas aqui de Portugal para lá
então eventualmente não
não é uma coisa corriqueira né
do dia a dia
mas eventualmente a gente tem acesso
a algumas personagens falando na televisão e etc né
então mas tinha também a a questão mais humorística né
porque
se faz muita piada
em relação a português no Brasil
pelo menos antigamente se fazia mais né
depois eu acho que acabou entrando um pouco em desuso
isso ficou gasto
aí fica
mas eram coisas muito
estereotipadas assim
por exemplo
ah o dono da padaria era sempre um português
era um padeiro português né
no Brasil tem muitas padarias que são de
que são de portugueses
de fato é
os meus tios
minha família que vive no Brasil
tem padarias
tem padarias
então é uma coisa né
aí ficava aquela ideia do Manoel com o bigode
bem aqueles bigode bem grande né
esse é mais ou menos o estereótipo
que se tinha no Brasil né
mas assim os
portugueses tinham
tinham portugueses que conviviam lá na comunidade
mas também já falavam um português mais “abrasileirado”
sim sim sim
énatural depois de falares
de viveres muitos anos num país tu começas
a ter
o teu sotaque vai mudar
as palavras que tu escolhes vai mudar ok
e quando chegaste cá a Portugal então nessas férias sim
tu
tu sentiste que tu conseguias falar facilmente
com as pessoas
ou que era difícil
entender o que elas te diziam)
olha claro que eu conseguia entender né
mas depende da velocidade que a pessoa falava também
então mas
normalmente nas interações assim que um turista faz né
fazer compras no supermercado
numa farmácia
coisas assim
é lógico que você percebe a diferença
do sotaque imediatamente né
e e algumas palavras também podem confundir mas no
no primeiro contato é bem parecido mesmo né
mas se você começa a se aprofundar um pouco
se a conversa se alonga
você já começa a perceber mais diferenças né
se a pessoa falar muito rápido
tu ficavas
um certo momento perdias-te um bocado na história?
é por exemplo eu lembro que meu pai dizia que
que ele quando esteve aqui em Portugal
ele achava por exemplo mais fácil entender os
que os espanhóis falavam em espanhol
do que os portugueses de Portugal falando né
imagina então é tem
tem quando se fala rápido
realmente pode ser difícil pra entender
porque o
a pronúncia do
português
ela é mais fechada né
então a
como se fala rápido aí fica uma palavra bem comidinha
assim como eu não sei como explicar isso sim
mas o jeito que o brasileiro fala
principalmente no
lá em São Paulo
no sul já é uma coisa mais cantada
tem uma um acento mais parecido com o do italiano
por exemplo né
que é mais espaçado
é mais e o português
ele
parece que ele é mais curtinho e mais rápido às vezes
né uhum
e no outro dia eu via uma
uma frase em que dizia que os brasileiros adoram vogais
adoram vogais
vogais estas letras a e i o u
e que os portugueses evitam a todo o custo
evitam as vogais
e é um pouco isso
nós as vogais
nós tentámos a esquecê-las um pouco
hmm hmm
e vocês pronunciam as vogais com bastante ênfase
assim com é
ah assim como
como fazer
tipo como tu tás a dizer um pouco mais cantado
agora até me veio
por exemplo algumas músicas baianas né
eles na verdade só usam vogais né
não se fala nada aí
aê aê aê aê
ô ô ô ô
a música toda em vogais
cheia de vogais né
comprova essa teoria aí né
e então mas dizias que
que chegaste cá a Portugal
as pessoas se falassem um pouco mais lentamente
tu entendias e tal
depois tu voltaste para a Alemanha sim
depois me mudei para cá né
a experiência foi positiva eu achei
a cultura também parecida
né depois a gente pode falar mais sobre isso
mas a cultura
parecida com a cultura brasileira também
a comida
o jeito das pessoas lidarem com as outras né
o afeto
um pouco da melancolia
eu acho tudo isso é muito comum também no Brasil né
aí mas eu vou contar uma história então do
do
de como pode ser difícil também entender o português né
ok
eu fui colocar gasolina no carro
fui lá abasteci
e aí eu parei
pra tomar uma cervejinha no posto de gasolina
e tinha uns
senhores já com uma idade um pouco mais avançada
e eles começaram a conversar comigo
eu não sei como a conversa começou
mas tal hora eles começaram a contar piadas
eles começaram a contar piadas em português
e eu não entendia absolutamente nada
nada nada nada
assim foi
e tal hora eles me pediram pra contar piada
eu já tava meio bloqueado
também não sabia contar piada
então
foi uma situação que parecia que eu tava em outro país
assim num outro mundo
falar outra língua
outra língua
porque não
não só o jeito de falar
mas também as expressões né
idiomáticas
as coisas que eu não conseguia entender
o que é que eles estavam falando
e eles super rindo
se divertindo e eu lá com aquela cara assim
isto foi onde?
isso foi aqui
foi aqui em Lagos
no posto de gasolina aqui de Lagos
aham sim
sim sim e
houve algumas palavras que certamente tu
ouvias ou ouves mesmo
ainda hoje
e tu dizes
bem eu conheço esta palavra
eu entendo esta palavra
mas eu não percebo o contexto desta palavra neste
nesta frase ou nesta situação
não é
porque sabemos que há muitas palavras que são iguais
mas que depois têm significados ou usos
super diferente do português de Portugal e do Brasil
por exemplo né
por exemplo
por exemplo
a palavra camisola né
que a palavra camisola
no Brasil a gente normalmente diz camisa ou camiseta né
isso aqui seria uma camiseta né
sim é camisa
seria mais social às vezes de manga longa e etc
e aqui em Portugal se chamam é de camisola
mas camisola não é uma
como a tua
isto nós também não
não dizemos camiseta
nós dizemos t-shirt
t-shirt é uma t-shirt
é uma palavra totalmente portuguesa
mas uma camisola é uma coisa de manga comprida sim
e
a mim faz mais me lembrar uma camisola
tipo de outono ou de inverno assim
uma coisa um pouquinho mais
mais quentinha
sim sim
aí e eu lembro por exemplo 1 desses amigos portugueses
ele falou
ah eu tenho 1 camisola do Porto
que ele era do Porto e ele torcia para o
Porto né
então eu falei
aí eu fiquei imaginando a camisola do Porto
porque camisola no Brasil né
é uma tipo uma como se fosse uma roupa íntima
não chega a ser roupa
íntima que você usa por baixo
mas é roupa de dormir né
então normalmente tem camisolas mais decotadas
de rendinha
ah uma coisa assim de verão
fininha tipo com
sim tem de verão
tem de inverno
tem várias modalidades
mas é uma roupa exclusiva só de dormir
tem umas que são de seda
umas coisas assim né
camisola é
mas eu fiquei pensando
como que é uma camisola do Benfica né
uma mulher… se usa só mulheres usam né
camisola
ok então não é uma coisa que os homens usem camisola
e do
do lado contrário né
tem a cueca
que aqui em Portugal é usado para
para homens e para mulheres né
que usam cueca e lá no Brasil é só pra homens
então se falar que uma mulher está usando uma cueca
fica meio estranho assim
se eu tivesse usando a underwear masculina né
ya
então essas coisas tu achaste um pouco estranho e foste
descobrindo aos poucos
sim aí tem e tem muitas né
e às vezes as palavras às vezes chocam também
porque você ouve a vida inteira de um jeito
e aqui é de jeito diferente
por exemplo a palavra é equipe
no Brasil se fala equipe com e
e aqui se fala equipa
é como se fosse o feminino da palavra equipe né
e para nós soa assim super estranho a equipa
mas sabes que há pessoas em Portugal que dizem a equipe
mas eu acho
que essas pessoas que dizem a equipe normalmente
são gozadas
são vítimas de bullying estás a ver
sim sim
é assim um pouco do género…
tipo não é…
soa diferente equipa né para nós
soa muito estranho assim
e outras palavras tipo
você vai para 1 hotel
você vai para a recepção como se diz no Brasil né
e aqui se fala receção
só que receção no Brasil é como se fosse
recessão económica é 1 situação que está em falta
isso exatamente é 1 regressão né 1
e mais temos o exemplo do legal
que é o que tu
um brasileiro
diz a palavra legal ou da forma que vocês pronunciam é
legal legal é
existe tipo frase sim frase não
não é? ou seja uma coisa que é muito
comum tu dizeres legal
é que aqui seria o equivalente a fixe né
muito fixe
é muito legal
e porque é que os…
porque dizem…
muitas vezes criticam
e depois há estas brigas e estas confusões
que são um pouco
ridículas não?
qual é que é o o português mais correto
e qual é que é o mais bonito
pá isso são coisas que de gostos
dá para todos não é
tipo cada um tem o seu gosto
quem gosta mais de um português ou do outro
não é isso que é interessante
defender
mas
nós dizemos muitas vezes né que
os portugueses se esquecem das vogais
e estas coisas e que por isso é muito difícil
entender
e é muito difícil entender o português de Portugal
porque não
não falámos as vogais todas
mas no português do Brasil também há aqui umas trocas
e há umas adições também
digamos
não é porque
1 coisa que se distingue muito no sotaque é certas
certos conjuntos de letras
por exemplo
a letra d
como uma… com o E
um “de”
para mim é um “de” sempre dizer né
mas no Brasil isto tem claro
vamos generalizar
porque é um país gigante
mas tem a tendência a transformar-se num “dji”
depende
depende do
se você fala
por exemplo
sei lá pau de arara sim
aí você pronunciaria pau de arara
por exemplo
o que que é um pau de arara?!
pau de arara
olha é meio difícil explicar mas é
eram camiões que iam do nordeste no Brasil
levando os nordestinos para o Sul
que teve uma época que houve muita
migração do Nordeste para o sul
inclusive os nordestinos
que meio que construíram São Paulo né
e eles iam nesses caminhões chamados pau de arara
agora a origem da palavra eu não sei exatamente porque
mas eram os caminhões que tinham esse nome né
então tu dirias pau de arara
pau de arara é
tem por exemplo
no Rio Grande do Sul
se pronuncia o d
o e muito e mesmo assim né
então eles falariam pau de arara
eles falariam
d bem claramente não é
o d também
é um d é um d
aham realmente mas normalmente fala “dji”
né eu acho que é bem comum “dji”
não é
e o acho que até até com em relação a língua inglesa
uma vez a gente estava fazendo umas umas comparações né
do “Facebooki”
se pronuncia com i no final né esse tipo de coisa assim
oh my “Godji”
oh my God
oh my God exatamente good
ha ha “goodji”
é porque realmente para ti o som
do d
para ti é “dji”
é estes são que tu fazes
mais não?
sim eu vou de vou de carro
por exemplo
mas por exemplo você tá em uma palavra Deus
por exemplo aí você não fala “Djieus”
né você fala Deus você está no meio da palavra
sim aí você já no som você já não percebe a diferença
mas quando
exatamente
então é quando está no meio ou mais no final
quando a palavra composta né ou
não sei como explicar isso tecnicamente
na língua portuguesa
por exemplo
vou de carro
eu não sei o que que esse “de” é gramaticalmente
uma preposição
sim sim sim
pode ser
sim
sim e o T também isso acontece
sim sim te amo pode falar te amo
te amo ninguém fala te amo né
muito é muito seco
eu te amo né
sim te adoro né sim
e que mais
mudanças é que tu notaste assim que aqui
1 certa
letra nós pronunciamos de uma forma e no
eu acho que por exemplo em termos de estrutura né
a gente usa muito gerúndio no Brasil
e aqui se usa muito
por exemplo você vai dizer eu vou jogar
estou a jogar
estou a jogar
estou a jogar né
é diferente do Brasil como se fala estou jogando né
fala sempre as palavras com
o gerúndio
sim estou a comer
e tu dirias estou comendo ya
estou a fazer as malas
por exemplo
estou fazendo as malas
e dizes a mesma coisa? fazendo as malas?
sim sim fazendo a mala estou
ou arrumando as malas
mas fala fazer também se usa é
e tem coisas que são surpreendentemente iguais né
você imaginaria que seria diferente por algum motivo
mas não
qual foi
ou qual é
a diferença
assim em termos de língua

qual é a diferença
tipo a mais chocante para ti ou aquela que tu disseste
possas a sério que agora vou ter de dizer isto ou que
ou a sério que as pessoas dizem isto é
mesmo o verbo dizer
eu acho que nós dizemos muito e vocês falam
não sim
falar e dizer
ah por exemplo também do entender né
no Brasil se usa muito a palavra entender
e aqui é perceber
e perceber
eu acho que também, eu uso muito “entender”
sim mas no
no uso diário eu
escuto mais
percebes né aquela coisa
percebes sim
ah também tem isso né
segunda e terceira pessoa né
por exemplo em algumas regiões do Brasil
nós não falamos “tu”
ou se fala
mas é muito mais raro assim
se fala normalmente em “você” sim
seria a terceira pessoa sim
então
só que está se referindo a pessoa que está contigo
então é a segunda pessoa então
mas aí só que tudo se altera né
por ser a terceira pessoa então
por exemplo se eu falo tu vais
seria a segunda pessoa no presente disse você vai né
E tu sentes que mudaste isso um pouco cá em Portugal
olha não
certamente
certamente eu absorvi algumas
algumas
palavras
algumas expressões
é por exemplo
no Brasil a gente fala banheiro
aqui é casa de banho
mas você se acostuma né
sei lá café da manhã é
pequeno almoço são
são coisas que com o passar do tempo
às vezes você não sabe com quem que você tá falando
aí você fala em português
de Portugal
por exemplo
né você que é certo a pessoa entender
se você perguntar para uma casa de banho né
num restaurante vão saber o que é que é banheiro
de repente se for um um um estrangeiro atendendo
talvez ele nem saiba né
sim eu acho que a maioria das pessoas portuguesas sabe
mas mas é isso
sim não
sim não não
não é eu acho até que
mesmo essas palavras são diferentes em geral
é em geral
se consegue entender
eu acho
se consegue compreender
então e a palavra rapariga? é uma coisa que te choca?
a palavra rapariga é
particularmente no nordeste do Brasil
assim é
ela tem uma conotação bem negativa né
significa prostituta né
1 pessoa da vida assim
1 pessoa da vida
não sei se também se usa isso
da vida
mulher da vida
mulher da vida né
mulher da vida
mulher da vida
sim é essa é uma palavra que
que pode estranhar
assim é
se a pessoa chega
vamos supor
chega uma mulher do Nordeste
chamam ela de rapariga
não pode ficar assim…
ó rapariga
então o que que aandas aí a fazer?
e ela… o quê?!
ya porque rapariga é daquele tipo de palavras mais
básicas assim
1 palavra do dia-a-dia que nós dizemos todos os dias
sem pensar nunca em ser mau ou bom
Jeferson
como é que te sentes cá em Portugal?
gostaste desta
desta passagem cá por Portugal?
gostei muito haha
os portugueses são divertidos
não é… eu
eu não tive nenhum problema assim
eu conheço brasileiros que que
sentiram algum tipo de preconceito
alguma coisa assim
mas não sei também
se é porque aqui no Algarve a gente não convive tanto
né com com
com portugueses mesmo né
uma coisa curiosa
nos grupos assim
tem pessoas da Alemanha
tem pessoas do Brasil tem
tem português também
mas não é
não é a maioria
esmagadora das pessoas assim né
é uma província
a multicultural
sim eu acho que eu me sinto bem aqui
como eu falei
eu acredito que a gente falou que há diferenças
culturais
a gente conversou com isso
sobre isso né
mas também tem muitas coisas que são comuns né
então eu acho que
eu acabo me sentindo meio que em casa aqui né
como se fosse o Brasil europeu aqui né
guardadas as devidas proporções né
tá ótimo
eu fico feliz por ouvir isso
porque eu sei que há preconceito
há muito
muitas vezes o preconceito entre
ou uma rivalidade ou um desentendimento entre
a cultura portuguesa
entre o português e o brasileiro
mas é isso
acho que há uma ligação forte e bonita
há uma história pesada
há uma história difícil
há uma história bonita e uma história muito feia
entre Portugal e o Brasil
não é mas é
é verdade que às vezes uma
eu sinto isto que há uma ligação
até porque falamos a mesma língua no
no final do dia falámos a mesma língua e
então entendemos
certas coisas de 1 uns e dos outros
então acho que isso é
ótimo que ficaste com essa boa impressão né
com essa boa impressão
por exemplo as músicas né
por exemplo
as músicas brasileiras têm
essa vertente mais de alegria
que eu associo com a África
mas tem também muita coisa da
que eu considero melancolia portuguesa né
essa coisa sentimental profunda né
então algumas pessoas acham até
que os brasileiros são todos felizes
não
mas tem
tem também os brasileiros tristes
tem os que não gostam de samba
mas acho que essa melancolia né
dentro do samba
há os choros e há a música
sim é tem
eu acho que tem mais
músicas tristes no Brasil do que felizes
com certeza
eu acho que de repente
até as pessoas se identificam mais né
não sei
que todo mundo sofre né
de alguma forma
OK pessoal
obrigada Jeferson por este
episódio
foi super divertido
obrigada pela tua disponibilidade
por estares cá hoje
sim na minha casa haha
por estares
na minha casa
mais 1 vez desafio-vos
por favor digam-me nos comentários
se ouviram as diferença
que diferenças é que vocês ouvem entre
o Jeferson a falar
ou eu a falar
e podem dizer também
o que é que… qual sotaque vocês gostam mais
qual é aquele que vocês sentem mais
proximidade
quero saber, quero realmente saber
mas sem disputas né
sim sem brigas, porque muitas vezes
lá no instagram pôe-se com este tipo de conversas
ah porque o Portugués do Brasil é o melhor e não sei quê o de Portugal
tipo não é isso que interessa
qual é o melhor saber
o que é que qual é que tu gostas mais
podes gostar mais um
eu adoro
eu adoro o sotaque
pronúncia
expressões
brasileiras
é incrível
é incrível esta língua
mas pronto
não posso falar muito mais
porque estamos num podcast de português de Portugal
haha
pessoal
até ao próximo episódio
aah
venham descobrir qual será o tema do próximo episódio
e por hoje ficamos por aqui
agradeço então aí o convite para participar do
do seu podcast
claro, sempre
foi um prazer
obrigada
tchau tchau tchau

olá olá a todos
bem-vindos a mais um episódio de Listen & Learn
eu sou a Sílvia
ele é o Niels
um amigo
com prazer
e hoje fazemos um episódio muito diferente
um pouco especial
aah como sabem estamos aqui numa altura de Natal
de ano novo
e talvez não sabem que ontem foi o meu aniversário
sim podem enviar os parabéns
eu aceito mesmo atrasados
então hoje eu convidei o meu amigo Niels para fazer
um episódio diferente dos outros
porque normalmente nos outros episódios
eu falo sobre um tema da cultura
ou da língua portuguesa
ou eu convido alguém para eu entrevistar essa pessoa
mas hoje vai ser o contrário
hoje o Niels vai entrevistar-me
eu não sei o que ele vai perguntar nada
eu só disse podes fazer as perguntas que tu quiseres
e eu vou estar aqui para responder
sim sim
então eu passo a palavra
ao Niels
obrigado muito
eu estou muito ansioso para isso
Aah e também obrigado para este
sim este momento é bom
Aah vamos fazer algumas perguntas muito rápido
perguntas de resposta rápida?
sim sim precisa de
de responder mais rápido possível e
e depois vamos
eu preparei algumas perguntas mais profundo
Aah podemos falar 1 pouco sobre isso
Aah mas vamos começar
OK OK
AI AI AI AI
Aah de manhã ou noite?
de manhã
doce ou salgado?
doce!!! completamente!!!
mar ou montanha?
ai este é muito difícil
eu vou dizer mar
porque na verdade eu escolhi o mar
até hoje eu escolhi o mar
mas é difícil
é uma pergunta difícil
cerveja ou vinho?
vinho
chá ou café?
café eu não posso beber café
mas eu gosto!
limpo ou sujo limpo?
limpo
haha descalço ou ténis?
descalço
lavar a loiça ou secar?
lavar ya sim
OK isso tem algum significado??
sim sim
gato ou cachorro?
ai não esta é muito difícil
não sei
mas tão ok
vou escolher gato
ya sim
tens dois gatos
tenho dois gatos
mas não tenho cães
porque não posso
porque não tenho espaço
aah eu aah última
sozinha
o em equipa?
sozinha
sozinha ou em equipa?
sozinha
é sim como 1 surfista né
hahaha OK tenho
Aah algumas outras
mas se quiser podemos falar 1 pouco mais sobre isso OK
e se quiser
Aah pensar 1 pouco também não é um problema
lembras-te do que é queria ser quando eras pequenina?
lembro-me
lembro-me bem
lembro-me de
a coisa
que eu insisti mais e que repeti durante muitas vezes
era que eu queria ser veterinária sim
Aah mas eu sempre disse aos meus pais
eu quero ser veterinária
mas eu não quero ser veterinária numa clínica
pra cuidar de cãezinhos e de gatinhos
eu quero ir para a selva
quero ir trabalhar com animais selvagens ah sim
e dizia que aos fins de semanas eu ia ser bailarina
e é verdade
aos fins de semanas eu sou bailarina haha
ok número dois
ao crescer
qual foi o maior mudança na sua vida
OK Aah
há 1 grande mudança que eu não posso falar haha
mas eu vou falar de 1 mais
Aah alegre
Aah mais feliz
que para mim
sim sem dúvida
uma grande mudança da minha vida foi sair de Portugal
ya exatamente sim
aah quando eu tinha vinte e dois anos
eu emigrei para a Bélgica
eu vivi em Bruxelas aah
durante cinco anos
Aah nessa altura eu trabalhava como enfermeira
porque foi isso que eu estudei na universidade
eu formei-me
Aah em enfermagem
quando eu terminei o curso
não havia trabalho em Portugal
zero porque era esta altura de dois mil e onze
em que havia 1 crise
económica muito grande em Portugal principalmente
e então eu decidi
OK ótimo
não há problema
eu não quero ficar em Portugal
eu quero ir
e pensei
eu não conheço a Bélgica
não conheço ninguém
não sei nada sobre este país
vamos porque é aqui
eu quero descobrir
e na verdade mais que descobrirum país novo
foi eu descobrir-me a mim
sabes as pessoas em Portugal
não
não temos 1 cultura tanto de viajar quando somos novas
eu vejo isso por exemplo na Holanda
os holandeses
os franceses
italianos
Aah ingleses também são pessoas que viajam muito
que têm este na cultura deles de dizer:
OK eu sou adolescente
aos meus dezassete
dezoito, dezanove anos
eu vou fazer um gap year
ou vou fazer este tipo de aventuras
não temos de todo essa cultura em Portugal
é talvez algo que começa a mais agora
então para mim não era de todo uma opção
então foi
bom eu estar a chegar ao final da minha faculdade
e perceber
as minhas opções não passam por Portugal
mas eu percebi que “fixe!”
ainda bem
eu vi muito
amigos meus ou outras pessoas emigrarem
com as lágrimas nos olhos e muitos tristes
estar noutro país e estar infeliz
e comigo não foi assim
eu tive sempre muita sorte e aah
foi uma experiência
incrível
eu tenho a certeza
que se eu vivesse a minha vida toda em Portugal
teria uma mente muito mais fechada
e teria
muito menos aceitação sobre o mundo e outras culturas
e não estaria aqui
por exemplo a fazer aquilo que…
sim vamos falar sobre isso um pouco mais tarde
ok chefe ok!
mas aah
quando viveu na
na Bélgica
de que é que sentiu mais falta?
de Portugal?
em Portugal o que é que eu sentia mais falta aah
de duas coisas
o clima claro
não foi logo porque aah estar a viver num país
aah com frio e com neve
também foi interessante para mim
ao início foi…
mas a Bélgica
não não tem muita neve
mas no primeiro ano que eu estive lá nevou!
ok ok ya
e esse inverno nevou foi o primeiro a ver-se
foi a primeira vez
que viste?
neve?
neve ou a nevar?
não, a neve
aah não
não a neve já tinha visto em Portugal temos
a serra da estrela também
todos os invernos tinha né
e já tinha visto a nevar em Portugal também
é muito raro
mas no norte pode acontecer
mas não me lembrava muito bem porque era pequena
então para mim ver a nevar tudo isto foi muito fixe
ao início
mas passado três anos deste clima horrível
cinzento
aah frio
pele branca
peles brancas
falta de luz
ya sem dúvida
a falta de luz é o pior e era aquilo que eu sentia
muita falta
aah tinha muitas saudades em Portugal
o céu azul
aah o mar também
o mar a costa
eu fui uma vez à costa na Bélgica
eu disse
não volto
não volto em cinco anos
eu fui uma vez ao mar e disse
“não…”
mas é diferente
é é muito diferente sim
Aah fala 1 pouco sobre isso
mas nem sempre foi professora… em Bélgica
alguma coisa diferente sim Aah
aah o que é que fazia de
não desculpa
o que fazia antes de tornar professora?
é como eu disse
eu era enfermeira
ya sim
eu trabalhei num
num hospital do universitário em Bruxelas que era
Cliniques Saint Luc
talvez temos alguns
aah ouvintes
bruxellois
e sim, trabalhava lá
perfeito
este eu gosto muito
vê-se como um típico portuguesa?
haha não
não porque não?
não sei
aah acho que talvez
aah por este facto de ter aah emigrado
o que é diferente?
Aah de ti
e outros
portuguesas
na sua opinião?
eu acho que as pessoas portuguesas
principalmente do norte
são pessoas muito
tradicionais e conservadoras
ya eu sou 1 pessoa tradicional também
Aah às vezes podes achar que
sei lá pelo
pelo estilo ou pelas escolhas de vida que não sou
mas sou 1 pessoa muito tradicional
por isso eu gosto
tanto de falar de cultura portuguesa e de tradições
mesmo eu não sendo especialista em nada na vida
mas é uma coisa que eu gosto muito
sim uma tradição é simplesmente algo que tem aah
muito tempo de evolução
e acho que devemos respeito a isso
claro que tecnologia
inovação
evolução também é importante
Aah mas essas coisas não me interessam tanto
sou 1 pessoa muito tradicional de 1 certa forma
mas é
não não acho que seja 1 pessoa muito conservadora
e as pessoas em Portugal
no geral claro isto é sempre 1 generalidade Aah
que sim
que guardam assim 1 pouco deste conceito do do
do passado
de ser conservador
de ficar assim entre certas regras
para mim
ru vi muito isto
com amigos e com pessoas com quem eu cresci
que há 1 forma de fazer as coisas
e quando sais dessa forma que é
que és diferente
mas isto acontece em todos os países não
em todas as nacionalidades
não sei
OK Aah quantas idiomas falas?
Aah falo português haha inglês
Aah espanhol
francês
Aah eu falo 1 pouco italiano
mas realmente é muito pouco
Aah queria-me dedicar mais
e e Aah
Aah acabo de comprar 1 curso online
Aah holandês
porque quero realmente aprender
a língua do meu companheiro que é
que é holandês
e quero poder falar com ele e com a família
também na língua deles
pra mim é super importante
então em fevereiro daqui a um mês e pouco
aah sim
vou estar super concentrada
e dedicada a aprender holandês
assim vamos ver
vamos ver
brutal hã brutal
Aah como professora
de tentar compreender os seus alunos
quais são as maiores dificuldades dos seus alunos?
para começar ou para estudar?
mais uma vez
eu tenho de falar sobre o contexto onde nós estamos aqui
ya ya eu não acho que esta resposta
não é para todos os professores
que ensinam alunos estrangeiros
em Portugal
aqui o nosso contexto é super complicado
é super difícil porque
há muitas pessoas estrangeiras e a língua comum é o
inglês uhum
há muitas pessoas da Alemanha também
então
o alemão também é uma língua muito comum de ouvir aqui
mas o inglês é realmente a língua que une
todos os
Aah imigrantes
expatriados e e
e que une essas pessoas também
com as pessoas portuguesas
por exemplo
então para os meus alunos sem dúvida
Aah dificuldade maior é praticar na rua na
vida real
aquilo que eles aprendem aqui na sala de aula
que é isto que estamos a ver
é a nossa sala de aula Aah
porque praticámos e estudamos
aprendemos
eles como qualquer pessoa
eles conseguem
porque todas as pessoas adultas conseguem aprender
1 língua Aah
estrangeira
só que é preciso praticar
muito praticar
praticar e
em tempo real
com outras pessoas
não só comigo ou com os colegas da sala
e é muito difícil isso
porque nem tu sabes isso
tu tenta
tentas aprender português
tu chegas à loja
ou ao supermercado e
e as pessoas vão falar-te em inglês
e acho que a outra situação é que aah
esta nova emigração
a emigração que chega aqui aah
ao lugar onde nós vivemos
são pessoas muito jovens e que têm
e que vêm à procura de 1 estilo de vida diferente
ya então que não são pessoas muito tradicionais
ou que têm 1 estilo de vida muito tradicional
ou seja
são pessoas que trabalham remotamente
que trabalham no computador
ya são nómadas digitais ou
ou que vêm para aqui abrir os teus próprios business
ou para
não sei
têm algo a oferecer um pouco diferente
então como eles não vêm para aqui
trabalhar com portugueses
então acabam por não conseguir
estar em contacto também com muitos portugueses
é comigo
eu sempre penso na minha
no meu exemplo
eu fui para a Bélgica para trabalhar com
o sistema belga
ya não é então
eu tinha de falar a língua
tinha de compreender a cultura
eu tinha de
de estar em imersão
e para os meus alunos
eles estão aqui
vivem aah a vida deles ya
aah o teu trabalho
por exemplo
a maioria dos teus clientes são estrangeiros
todos todos todos
os portugueses
não vão ligar-me né
haha então quando é que tu vais praticar na tua vida real
no dia-a-dia
falar português é um esforço muito grande
então isso é sem dúvida a maior dificuldade em
mas eu estou mais
aah profundo
porque eu tenho a minha rapariga
que está na escola
e falo muito como ela exatamente
aah eu e os vizinhos também o supermercado
mas ya
não é não é realmente
conversar
sabes são pequeninas palavras
mas na escola
sim sim
sim é verdade
a professora gosta muito de falar também
eu acho que é
sim é bom hehe
aah quais são as suas maiores dificuldades
para professora?
quais são as maiores dificuldades como professora?
hum tem colegas?
se trabalho com colegas?
aah não trabalho sozinha
sim e toda a estrutura de tuas aulas
é é de ti, não?
hmm hmm
foi foi fácil
sim para mim não é muito difícil trabalhar sozinha
Aah por isso também quando fizeste esta pergunta
“sozinha ou em equipa?”
eu respondi “sozinha”
porque eu trabalhei muitos anos em equipa
ya e pra mim isso era
extremamente desgastante ya mesmo
estar com muitas pessoas
muitos inputs
ter de responder a todos aah
e de agradar a todos e lidar com todos
eu percebi que não
eu gosto realmente de trabalhar sozinha
isso pode indicar
alguma coisa sobre a minha personalidade
não não é boa
mas aah
pra mim não é difícil
não é uma dificuldade tomar decisões aah sozinha
última pergunta
alguma palavra de conselho para quem estiver a ouvir?
agora?
um conselho geral ou conselho sobre…
se quiser
sim aah
o meu maior conselho é um clichê de
super clichê
mas é realmente aah
seguir o teu próprio instinto
seguir o teu Aah
aquilo que tu queres fazer
e aproximar-te de pessoas e coisas
que tu gostas e que te fazem sentir bem
porque às vezes não sabemos
às vezes não sabemos onde queremos chegar né
e às vezes pensamos
ah mas porque é que eu vou fazer isto
isto não dá dinheiro ou isto não
não tem sentido
não importa
porque o caminho vai abrir-se
quando tu estás a fazer as coisas que tu gostas
o que o teu instinto te diz
ai eu gosto disto
eu quero estar próxima disto… as pessoas também
rodear-te de pessoas só que te
trazem coisas boas
e o caminho vai estar completamente feito
sem perceberes
onde tu queres chegar
tu vais chegar onde tu tens de estar
porque tudo à tua volta faz
faz-te sentido sim
não estar num emprego que não gostas
não estar com pessoas
que não gostas
não viveres num lugar que não gostas
não !
eu não perguntava a esta pergunta primeiro
é muito bonita
muito obrigada
alguma coisa
aah só para
teus alunos ou alunas no futuro:
tens alguma coisa para eles?
sim Aah sim posso dizer Aah
que
não desistir e não achar que é difícil só para ti
porque eu lido com muitas pessoas
e muitas pessoas
têm as mesmas dificuldades
as mesmas dúvidas
e acham que isso só está a acontecer com elas
não é verdade
aprender uma língua é difícil
é desafiante
mas é sempre
sempre uma questão de prática
de dar tempo e
e não te julgares
como “ai eu não consigo” ou “eu não sou bom em línguas”
ouço isso muitas vezes “eunão sou bom em línguas”
EU não consigo
o que é que isso quer dizer??
tipo quando tu
estás mesmo motivado e tu queres aprender
ou tu precisas
às vezes é uma questão de necessidade
tu aprendes
tu pões isto como prioridade
tu pões tempo
pões paciência
pões aah esforço
e consegues
agora se não é 1 prioridade vai ser difícil claro
hmm vai ser muito difícil
é verdade sim
ótimo!
acabámos?!
acabámos
hum obrigada
para o teu tempo
não obrigada a ti foi
foi super fixe
ya as perguntas, estava com alguma curiosidade
não sabia o que ia acontecer
espero que tenham gostado do episódio também
aah desejo-vos então um resto de
um bom fim de ano né
dois mil e vinte e quatro está mesmo mesmo a acabar
dois mil e vinte e cinco está aí
eu estou super animada
mais 1 ano
mais projetos
mais falar português! boa!
e é isso pessoal
boas entradas
bom Ano Novo e vemo-nos no próximo ano
tchau tchau
obrigado
tchau tchau

olá bom dia
olá a todos
temos aqui uma nova convidada
este ano eu trago muitos convidados para falar
comigo
tenho aqui uma amiga que é a Katie
queres falar um pouco sobre ti?
sim, bom dia
Sílvia
bom dia a todos
sim
eu sou Katie
sou da… sou inglesa
mas vivia aqui em Portugal há seis anos
que mais?
eu tenho trinta e nove anos
ok não
não precisas de contar toda a tua vida
mas é sempre bom as pessoas
entenderam
entenderem que tu és uma pessoa estrangeira
mas que estás aqui neste podcast
porque tu consegues falar super bem português
obrigada
sim claro
às vezes tens dificuldades
mas tu falas muito bem e consegues ter conversas
eu sei que tu estudaste português com uma professora
aqui em
Portugal
e por isso agora estás aqui
num podcast
sobre a língua portuguesa sim?
haha espero que vai ajudar
mais pessoas a aprender
na viagens delas de aprendizagem
perfeito
eu acho que sim
sempre que as pessoas veem
que é possível com outras pessoas
mesmo demorando muito tempo
elas sabem que também é possível com elas
esta é a mensagem principal do podcast
ao fim chegas aí
não é? vai demorar tempo
vai demorar mais tempo do que
querias
no no
início mas vai demorar e
também foi fixe
vai fazer novos amigos
e vai vai
ya vai ter
uma experiência mais verdade do Portugal
ou do Brasil
qualquer país que falamos português
quando estás aí
perfeito
ótimo lindas palavras
é mesmo isto
Katie,
o tema de hoje
o que eu quero falar um pouco sobre hoje
não é tanto sobre a língua portuguesa
mas
sobre mais
a cultura ou algo que nós encontramos em Portugal
eu sei que tu gostas muito muito de fazer caminhadas
e que já fizeste
várias caminhadas e vários trilhos em vários países
mesmo em vários continentes
mas então vamos falar hoje sobre trilhos
caminhadas
e também viagens de bicicleta que tu gostaste muito
aqui em Portugal
quais viagens tu recordas com mais
gosto
que tu tenhas feito cá em Portugal?
1 das primeiras que eu fazia aqui em Portugal
foi em 2018
foi no ano que eu mudei-me para aqui
e essa viagem foi altamente
1 rota chama-se rota vicentina
é de duzentos quilómetros
e começas aqui em Sagres
e chegas até em Santiago do Cacém
Alentejo
é ao Norte
e eu fazia com o meu cão
antigo… Capitão
foste sozinha com o cão
sozinha
sem outras pessoas
mas com o teu cão
com o Capitão
sim o teu melhor amigo
o meu melhor amigo
o Capitão
não está … agora o Capitão está aí (aponta para o céu)
e o João está aqui
mas entretanto
ya fui com o Capitão e uma mochila e uma tenda
e e comemeçámos aqui na Vila da Bispo
porque vivemos aqui e
neste camino passas muitos
tipo de terrenos diferentes, vilas
e aldeias diferentes
e foi muito fixe
e tu e pode encontrar frutas da época
quando estás no caminho
e também eu
eu fiquei muitos dias na tenda mas também
quando dava 1 “hostai”…?
um hostel
ou um albergue alojamento local
que aceita cães e fica aí
mas senão fiquei na tenda
ya foi muito fixe e encontrei pessoas que me ajudou
por exemplo um dia estava a procurar
um sítio para comprar comida para o cão
uns dias no trilho
não há não há muito
não há muitas lojas então a seleção é pouca
e não podia encontrar comida de cão
mas uma senhora de uma loja pequena
deu-me comida de gato por exemplo
um presente
para ele e e coisas assim e ele estava contente
e isto foi numa vila que tu estavas a passar
uma vila super pequena não é quase nada de vila só
sabes aquelas …
tipo umas casas só assim um casario
um ou dois
sabes aqueles sítios que têm um café
e uma loja ao lado
sim sim
é uma centro para a comunidade local
uma venda
isto é muito popular no Algarve e no Alentejo
isso acontece muitas vezes ainda claro
em todo o país
é assim
uma coisa um pouco à moda antiga
um cafezinho
uma lojinha
e é o centro para toda a gente se encontrar
exactamente
a gente a encontra-se aqui
fazemos coisas, comer e
é fixe
ya e foi aí e sempre quando eu vi um café tentei
parar
não é? e beber qualquer coisa encher a água e coisas assim
falar um pouco com as pessoas
aprender as histórias da
da região ya
mas nessa altura tu tinhas acabado de chegar a Portugal
era difícil para ti ainda falar português
nesta altura não falei muito bom
porque antes mudei-me aqui
eu não falei nada das línguas, de verdade
só esse ano comecei a aprender
mas aprendi um pouco
e depois
quando eu fazia mais viagens
eu percebi que
a experiência pode ser muito muito melhor
quando tu pode falar em
em real com
com a gente
principalmente nestes lugares assim
onde as pessoas são mais velhas
nestas aldeias
muitas vezes estes trilhos
passam principalmente por lugares
mais antigos
aldeias mais antigas
menos conhecidas
mas esta trilha também passa muito por
pelo mar
ou pelas praias
não… é …há duas é verdade
uma chama-se rota vicentina que é
vais por dentro
dentro e a outra é Fisherman’s Trail
“O Trilho dos Pescadores”. E esse é pela costa
e a rota Vicentina é por dentro
exactamente
eu acho que as duas chegava no
Santiago
Santiago do Cacém
e as duas que começava ou qualquer pode fazer qualquer
qualquer direção não é
então Sagres para Santiago do Cacém ou a contrário
quanto tempo é que foi esta viagem? lembras-te?
é essa foi 9 ou 10 dias acho
sim tu estás sempre em muito boa forma normalmente
normalmente tu estás em boa forma
depende porque
uma uutra trilha que a fazia
eu comecei a fazer a Via Algarviana
que é trezentos km
porque a via algarviana é o sul do Algarve de
oeste a este ou ao contrário
não é? de um lado ao outro, é todo o sul do Algarve
exactamente, de Sagres para Alcountim
saíste de Sagres outra vez
imagino
Vila do Bispo
exacto
mas essa eu não tava com muito bem forma
eu acabei de chegar de
Coreia do Sul
estava aí a trabalhar um mês e não fazia muitas coisas
cheguei aqui cansada
e só tinha essa semana para fazer
e tu tinhas decidido que ías!
não tinhas um compromisso
com ninguém
às vezes estou um pouco
não sei
teimosa
então só tinha essa semana porque sabia que depois vou
buscar o meu cão João
o novo cão
o novo cão
ya cãozinho
então peguei a bicicleta e comecei e o primeiro dia, Sílvia
foi daqui para Monchique
sim Monchique para quem não conhece
é uma zona muito mais alta
tu foste para a montanha certo?
todas as montanhas
esse trilho
segue todas as montanhas
esse trilho
não foi o meu favorito
foi brutal
eu acho que em verdade
porquê?
porque foi tão duro
foi tão tão duro
só porque sobre ou…?
é muito muito para…sobe
descer sobe descer
e os caminhos estão preparados para bicicleta?
BTT, bicicleta todo o terreno
ya é isso e
mas é para subir todas essas colinas… colinas?!
sim pode ser colinas
quando tás a carregar as coisas também na bicicleta
é foi
foi um desafio e não havia muitas pessoas no caminho
só encontrei
quatro quatro pessoas em uma semana
provavelmente porque é realmente difícil
e não há muitas aldeias
também é super fixe
estou contente que fazia
mas algumas partes foi muito difícil
eu só comecei a aproveitar
dia cinco
no quinto dia
no último dia
e depois penso ok vou continuar
e depois cheguei até Alcoutim
fui para o sul e fui para Tavira e voltei
na costa
fizeste a roda toda, ou seja
fizeste a via algarviana
e depois voltaste
pela costa
foi 600 quilómetros?
ao fim foi 500km
porque na via algarveiana
foi assim não é?
sim sim sim
e para chegar, para voltar na costa
foi 1 pouco mais directo
mas ainda
ainda foi
1 experiência
e pela costa encontras mais pessoas?
encontras muito mais
imagina um
uns dias eu fiquei nas montanhas
numa vila super pequena
e mais alguns dias depois fiquei na Albufeira
em Albufeira, cidade
essa foi a primeira vez que eu fui até Albufeira e pensei
ui isso é interessante este sítio não é
sim sim porque o Algarve é pequeno
mas é uma região muito diferente também tens
aldeias muito muito pequeninas, tens montanha
tens muitas praias
mas mesmo assim
como se desenvolveu a costa
e as partes urbanas são muito diferentes
depois tens cidades
não tens cidades gigantes mas
tens cidades muito populosas
por exemplo
Tavira
foi muito bonito
foi a primeira vez que eu estava aí com
todas as “tijolos(?)” aqui e o
rio e o mar
sim sim sim ya
e a ria formosa também
esta zona que é
única no país em que tens o
mar que entra pela terra adentro que faz estas
biodiversidade também é única
são coisas
únicas no país
ya mas foi fixe
e mais um que podemos falar Sílvia…
hmm hmm
onde nos conhecemos
haha foi super fixe
sim nós conheciamo-nos de vista
porque temos amigos em comum
mas 1 vez nós encontrámo-nos muito muito por acaso
no aeroporto
não em Portugal continental
mas lembrem-se que Portugal também tem ilhas
tem 2 arquipélagos e nós encontrámo-nos
num
pequeno mini aeroporto
na ilha…
foi na ilha das flores já?
ou foi antes?
acho que
foi antes
foi antes, no Faial
não é? onde eu estava a viver
é provável sim
e é porque está…eu lembrei que
estava à espera para o avião
e vi o o teu namorado
exatamente
meu amigo
ir para a casa de banho e pensei
ah a sério?!
o Amwo está aqui?!
ok vamos pôr isto um pouco em contexto
a Katie não sei em que ano foi
tu mudaste-te
tu saíste daqui da Vila do Bispo e tu foste viver
para os Açores
mais propriamente para a ilha do Faial
que mais uma vez aah faz parte de de Portugal
e em que ano foi?
dois mil e vinte
em dois mil e vinte
ya nestas alturas de covid e coisas assim
foi super fixe para viver lá durante o covid
porque foi nessa altura que eu vim viver
para Vila do Bispo
então foi
porque perdemos aqui
é verdade
e mas foi primavera de dois mil e
vinte e um
aquela
essa viagem
ya ok exatamente
então um ano depois mais ou menos de tu estares
lá a viver nos Açores
eu e o meu namorado fomos fazer uma viagem
mas é verdade que nós não dissemos oolha Katie
vamos para os Açores
até porque
nós íamos para a ilha das flores que é uma ilha
é uma mini ilha
é uma ilha muito muito muito pequenina
que está bem afastada das outras Ilhas
também é
o ponto mais oeste
de Portugal
porque está mesmo entre
o continente europeu e o Continente
americano
então nós nunca pensámos que íamos encontrar lá alguém
eu tive uma viagem para as Flores planeada
que vai ser mais cedo
vai ser em fevereiro
mas foi uma tempestade
e atravessou a minha viagem
e também antes foi
estava a pensar
para ir com uma amiga
mas esta não podia
aconteceu de novo… então estava lá sozinha
para ir até Flores
sim sim
e era fixe porque trazemos as mesmas coisas
não é? e não
eu tinha mochila com tenda e vocês também
sim íamos fazer uma caminhada
uma caminhada
íamos caminhar a ilha toda
pelo menos nós
a ideia era fazer a ilha toda ao redor
pela costa mais ou menos
eu fui com a mesma ideia mais ou menos
falamos um pouco
tu tinhas menos dias
mas tinhas a mesma ideia certo?
ya eu acho que eu só tinha cinco dias
ou algo assim
e começámos não é? saímos do aeroporto juntos
pegamos um café e
sim sim sim é verdade
foi super fixe
mochila às costas ….
e lembras-te a primeira
o primeiro lugar onde ficámos?
sim sim sim claro
foi incrível
com vista do mar
quase todos têm vinta do mar
sim é verdade nem sempre
mas este…estava nada…estava uma…
ah como se diz “valley”?
tipo um pequeno vale
um vale, um pequeno vale
e com a praia aqui com
com terrenos com árvores
era tudo verde e à tua frente ali um mar
1 mar transparente
azul e facilmente nós podemos descer
tinha 1 pequena cascata também de água natural
e lá em cima tinha 1 casa de banho e 1
1 área de
erva?! como se diz?
tipo um jardim
um jardim para nós, para acampar
sim sim perfeito para pôr a tenda
sim incrível
eu lembro-me que a nossa ideia era caminhar
mais, mais tempo nesse dia
mas quando nós chegámos, nos dissemos:
não vou sair!
temos de ficar aqui é incrível
e encontrámos dez vezes aquele grupo de turistas
que estava a fazer a caminhada também com vinte
ou trinta
que eram muitas pessoas sim
pessoas mais velhas
sim
e tivemos também trilhos que foram 1 bocado difíceis
eu lembro-me que 1 descida
sim 1 descida muito difícil
ainda bem que estava
bom tempo
porque fazer essa descida com chuva seria impossível
porque
caminhas muito junto ao mar
junto às arribas
arribas são
é quando o mar
é quando a costa termina
no mar então se tu cais tu
tu vais
tu não tu não voltas mais
então era às vezes um pouco intenso
um pouco perigoso
mas também fazia que a paisagem fosse
incrível certo
o que eu mais me recordo dessa viagem também
é que houve um momento em que nós nos separámos
porque tu querias fazer outras coisas exactamente
e encontramos numa
numa nuvem
essa foi…
e também o telemóvel não funciona muito bem
não há muita rede
não havia renda
é verdade
queríamos falar
aquela manhã tentamos para encontrar de novo
não podíamos ver nada
foi uma nuvem gigante
foi uma coluna
literalmente
tu não vias
um metro ou dois metros talvez
tu não vias à tua frente nada
e estávamos a chamar Sílvia
haha pela nuvem
sim
vinte, trinta minutos
não é?
sim sim
mas ao fim
encontrámos
encontrámos e fomos
continuar não é?
sim lembro-me de acordar de manhã e estar muito
e estar chuva e muito
muito vento e era muito difícil de caminhar
não tínhamos rede
ou um pouco de rede
conseguimos mandar umas mensagens e dizermos ok
vamos encontrar-nos neste ponto
mas foi muito difícil encontrarmo-nos nesse ponto
eu não podia ver mais de 5m
sim não podíamos
ver nada
nada nada
e foi literalmente gritar Sílvia
Amwo
sim mas depois tivemos a melhor refeição
da nossa viagem
que também encontrámos mais uma vez aquele grupo
pois foi!
quer encontrámos aquele grupo todos os dias
também eu fui para o Corvo
uma ilha
um dia eu encontrei
eles lá e também
e ya foi
foi muito engraçado
mas foi super fixe para passar aquelas fajãs
as fajãs
são essas arribas
nos Açores eles chamam fajãs e eu chamo arribas
OK essas fajãs
e ya eu lembrei todas as casinhas pequenas com
com maracujá e com coisas a crescer
flores, plantas
é incrível
e a cascata
a cascata?! super grande
naquela… Fajã Grande?
seria? eu acho que era na Fajã Grande
talvez
sim tudo é maravilhoso
é uma ilha maravilhosa
sim e
e quando fazes este tipo de caminhadas
e estás na natureza
realmente é
é uma sensação muito muito boa e
e ajuda-te
ajuda a tua alma
ajuda o teu corpo
ajuda tudo
aqui em Portugal há
muito para descobrir não é?
que bom
que bom relembrar estas
aventuras
sim terminamos então o nosso episódio
muito muito obrigada
pelo tempo
por estares cá
é um prazer
porque falas super bem
sim e
nós encontrámo-nos
num próximo episódio de Listen & Learn
obrigada por estarem aí desse lado e até à próxima
tchau tchau